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‘Milagre’ de natal faz família viver da venda de vinis há mais de 30 anos
Venda de disco de merengue do pai salvou a ceia da família em 1984.
Irmãos continuam trabalho do pai e vendem vinis há 31 anos.
O Natal mais que uma festa de celebração cristã para a família de Fernando Campo de Souza: a data marca uma mudança de vida para ele e sua irmã. Foi nesta época, há 31 anos, que o patriarca Cassiano de Souza começou a se desfazer da coleção de discos de vinil para garantir o sustento da mulher e dos filhos, assegurando – mesmo sem saber – o emprego de ambos pelas próximas décadas.
Seu Cassiano era dono da aparelhagem Centenário, que encerrou suas atividades no final de 1984. Com a venda do equipamento de som restaram apenas os LPs, ou “bolachões” como eram chamados na época. Todos os dias Cassiano e Fernando iam para frente para um ponto no bairro de São Brás, em Belém, onde posicionavam os discos no chão na espera de compradores.
“Foi um período muito difícil para gente. Éramos humildes e minha mãe ficava feliz se tivéssemos pelo menos o almoço do dia. Tinham dias que o papai voltava pra casa sem ter vendido um disco sequer”, conta Iza Campos, de 46 anos, filha de seu Cassiano.
Milagre de natal
A proximidade das festas de fim de ano deixou a situação ainda mais dramática para a família Souza. “O nosso Natal daquele ano foi muito duro. Meu pai acordou cedo e falou para a minha mãe que não teríamos ceia. Ficamos arrasados e tristes”, lembra Iza.
Naquele dia 24, Cassiano e Fernando, que tinha 15 anos, passaram o dia inteiro sem conseguir vender qualquer vinil, até que um cliente apareceu justamente quando estavam prestes a desistir.
“Estávamos arrumando os discos para retornar para casa. O papai tinha uma bicicleta velha e eu ia na garupa juntos com os discos. Apareceu um senhor que pediu para ver os discos e se interessou por um de merengue, que era um dos mais caros, e que faziam muito sucesso na época”, recorda Nando, dizendo que o senhor pagou na época o equivalente a R$ 60.
“Estávamos em casa esperando o meu pai e irmão. Quando eles chegaram trazendo um bolo de padaria, um frango assado, algumas uvas e maçãs. Foi sem suco, cidra ou frisante, apenas com água, mas foi a nossa alegria”, diz Iza, bastante emocionada.
A partir de então, a família Campos buscou forças e acreditou que a venda de discos de vinil poderia ser a forma de se sustentarem. Não foi fácil – principalmente porque em 1985, aos 47 anos, seu Cassiano faleceu.
“Foi muito duro para gente. Meu irmão Nando, que tinha 15 anos, assumiu a responsabilidade da casa, vendendo os vinis”, conta Iza.
Mas hoje, 31 anos depois da morte do pai, Fernando e Iza são os responsáveis por um dos maiores acervo de disco de vinil de Belém, com cerca de 50 mil discos.
“Lembro quando começamos aqui no mercado de São Brás. A Secretaria Municipal de Economia não queria que os ambulantes vendessem mais coisas na rua, então nos garantiu quatro boxes dentro do mercado. Fizemos tudo direitinho e hoje já possuímos 17 boxes, uma lojinha personalizada e ainda um galpão onde a gente guarda todo o nosso estoque de vinil”, comemora Nando.
Com a venda dos “bolachões”, Iza passou 10 anos na Europa estudando e trabalhando, o seu filho Willer, 15 anos, terminou de concluir o primeiro grau em uma escola particular. Os dois filhos do Nando, Macley Michael, 21 anos, e Vanessa Fernanda, 18, já realizaram vários cursos técnicos e Vanessa prestou o Enem em 2016 para garantir uma vaga no curso de Direito em uma universidade pública.
O retorno dos “bolachões”
De acordo com Ferndo, o gosto pelos “bolachões” não está restrito a pessoas mais velhas, movidas pela nostalgia: o público jovem está se tornando a principal clientela.
“Eu fico muito feliz de ver as pessoas retornando ao vinil. Eeu passei muito tempo vendendo CDs e DVDs, hoje vendo Blu-ray também, mas como a nossa família gosta muito de música a venda de vinil me deixa muito feliz, principalmente pela procura dos mais jovens, que vêm aqui e se encantam com os discos que encontram”, afirma Nando.
“Com a nossa variedade de discos temos clientes de todo o Brasil, inclusive do exterior também. Gente de São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, de vários estados nos procuram atrás dos vinis. Até mesmos uma galera do exterior manda mensagem perguntando sobre alguns discos. Eu procuro e envio para eles”, conta Iza. “Como morei na Europa por muito tempo, tenho muitos amigos que nos ajudam também enviando LPs de lá, principalmente da Espanha”, conclui.
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