SÃO GONÇALO DO AMARANTE RN-Com mel que pode custar R$ 300, criação de abelha sem ferrão é feita até em armário de apartamento na BA: ‘Reprodução fácil’


Por Lílian Marques, G1 BA

 


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Criação de abelhas sem ferrão ganha espaço na Bahia; litro do mel chega a R$ 300

Criação de abelhas sem ferrão ganha espaço na Bahia; litro do mel chega a R$ 300

Criar abelhas em casa, no quintal, no apartamento. Sim, isso já é uma realidade em Salvador e em outras cidades baianas, como Mata de São João e São Gonçalo dos Campos. Mas não é uma abelha comum. Chamada de “abelha social” ou do bem, ela tem o ferrão atrofiado e não oferece riscos ao ser humano. Além disso, é nativa do Brasil.

A mais comum das abelhas deste tipo, apelidadas de sem ferrão, é a uruçu. O mel produzido por ela tem encantado os produtores (meliponicultores), consumidores e chefs de cozinha. Na Bahia, o litro chega a custar R$ 300, dez vezes mais do que o mel comum, que pode ser encontrado a preços entre R$ 30 e R$ 50 (o litro).

O motivo? Elas estão na lista de animais em risco de extinção na natureza. Portanto, são raras, o que torna o que é produzido por elas bem valorizado. Com 28% de água na composição, 10% a mais do que o comum, o mel produzido pela abelha sem ferrão é mais fluido, mais claro e tem uma leve acidez.

“Essa especificação de mais água é pela abelha, o homem não tem interferência nisso. E no mel de abelha sem ferrão tem própolis. Tudo que ela faz dentro da colmeia é com cerume [cera mais própolis]. Se ela coloca mel em um pote de cerume, o mel absorve o própolis e fica com frações de própolis de forma natural”, explica o meliponicultor. Pedro Viana, 61 anos.

Litro do mel da abelha sem ferrão chega a custar R$ 600 — Foto: Lílian Marques/ G1Litro do mel da abelha sem ferrão chega a custar R$ 600 — Foto: Lílian Marques/ G1

Litro do mel da abelha sem ferrão chega a custar R$ 600 — Foto: Lílian Marques/ G1

Pedro, já foi petroquímico, representante comercial e empresário, mas há dez anos se dedica às abelhas. Ele tem criações no apartamento em que mora, no bairro de Boa Viagem, em Salvador, e em um sítio na Costa do Sauípe, no litoral norte baiano.

“[Quando comecei] comprei quatro matrizes. Depois que você domina, que tem conhecimento, a reprodução é muito fácil. Uma você consegue, de setembro a maio, fazer 15 novas caixas. Você faz quatro divisões nesse período e de uma caixa você faz 15. As abelhas são meu novo desafio”, diz o meliponicultor, que produz cerca de 200 litros de mel por ano.

Pedro Viana [de camiseta amarela] no meliponário em Sauípe, litoral norte da Bahia — Foto: Pedro Viana/ Arquivo PessoalPedro Viana [de camiseta amarela] no meliponário em Sauípe, litoral norte da Bahia — Foto: Pedro Viana/ Arquivo Pessoal

Pedro Viana [de camiseta amarela] no meliponário em Sauípe, litoral norte da Bahia — Foto: Pedro Viana/ Arquivo Pessoal

Viana detalha as características do mel da abelha sem ferrão que despertaram o interesse dos chefs da chamada alta gastronomia.

“Por ele conter mais água, propicia a fermentação. Mas a fermentação não evolui até a desmaturação, apodrecimento, algo que venha a desqualificar o produto. Quando ele fica fermentado, acrescenta outro sabor ao mel. E isso deixou os chefes da gastronomia encantados com as possibilidades de combinações que podem fazer nos pratos, sobremesas, drinks e tudo mais. Além disso, é um produto artesanal. Não existe, no Brasil, em escala industrial, ainda”, disse.

Manteiga de mel de uruçu é servida em uma entra com pães, no restaurante do chef Ricardo Silva, em Salvador — Foto: Ricardo Silva/ Arquivo PessoalManteiga de mel de uruçu é servida em uma entra com pães, no restaurante do chef Ricardo Silva, em Salvador — Foto: Ricardo Silva/ Arquivo Pessoal

Manteiga de mel de uruçu é servida em uma entra com pães, no restaurante do chef Ricardo Silva, em Salvador — Foto: Ricardo Silva/ Arquivo Pessoal

O produto já é usado em restaurantes da capital baiana e de outros lugares do país. O chef de cozinha Ricardo Silva, do restaurante Carvão, em Salvador, usa o mel da uruçu no estabelecimento dele e diz que o produto é muito apreciado pelos clientes. O chef criou uma manteiga de mel de uruçu, que é servida em uma entrada com pães, e também usa o produto em drinks e refeições.

“Primeiro, uso pela valorização da história das abelhas nativas. A abelha africana foi introduzida aqui no Brasil. Claro que se o mel [da abelha sem ferrão] não fosse muito bom a gente não usaria. Ele tem um sabor diferente, dulçor diferente, são sensações diferentes do mel comum”, disse o chef, que mantém o mel comum em outras receitas.

Abelha sem ferrão da espécie jataí 'vigiando' colmeia — Foto: Lílian Marques/ G1Abelha sem ferrão da espécie jataí 'vigiando' colmeia — Foto: Lílian Marques/ G1

Abelha sem ferrão da espécie jataí ‘vigiando’ colmeia — Foto: Lílian Marques/ G1

Ricardo contou que cria abelha sem ferrão no próprio restaurante, que fica no bairro de Ondina. Ele escolheu a espécie jataí, que também é brasileira e um pouco menor do que a uruçu. Apesar de ter uma colmeia, o chef não tem o objetivo de extrair mel.

“A produção de mel dela [jataí] é muito pequena. Vou tirar, no máximo, um litro por ano. É por uma questão de entender que o trabalho de polinização é importante e está ameaçado por causa dos agrotóxicos”

Ricardo incentiva que outras pessoas criem as abelhas sem ferrão para ajudar a proliferar as espécies. “Se eu puder sugerir, mesmo quem mora em apartamento, tenha uma caixinha de abelha nativa. Não dá trabalho nenhum”, garante.

Colmeia de Ricardo Silva em um restaurante em Salvador — Foto: Ricardo Silva/ Arquivo PessoalColmeia de Ricardo Silva em um restaurante em Salvador — Foto: Ricardo Silva/ Arquivo Pessoal

Colmeia de Ricardo Silva em um restaurante em Salvador — Foto: Ricardo Silva/ Arquivo Pessoal

Em Salvador, os meliponicultores estão em casas, em meio a área urbana. A maioria pensa, também, na importância de proliferar a espécie para que ela não suma. E as abelhas são os xodós deles.

Há um ano e meio, o corretor de imóveis Egídio Barbosa, de 54 anos, que mora em um apartamento no bairro de Nova Esperança, na capital baiana, chegou em casa com as abelhas da espécie uruçu. Ele conta que, no início, a mulher dele estranhou as “visitas”, mas se acostumou com elas e até concordou e “doar” uma parte do armário do quarto de hóspedes para as novas moradoras do apartamento, que fica no térreo.

O corretor de imóveis Egídio cria as abelhas em um armário dentro do apartamento em que mora, em Salvador — Foto: Egídio Barbosa/ Arquivo PessoalO corretor de imóveis Egídio cria as abelhas em um armário dentro do apartamento em que mora, em Salvador — Foto: Egídio Barbosa/ Arquivo Pessoal

O corretor de imóveis Egídio cria as abelhas em um armário dentro do apartamento em que mora, em Salvador — Foto: Egídio Barbosa/ Arquivo Pessoal

O corretor tem quatro caixas com abelhas. Cada uma equivale a uma colmeia e tem, em média, de 3 a 4 mil abelhas. Egídio tem, pelo menos, 12 mil abelhas dentro do armário do apartamento e precisou explicar aos vizinhos que os insetos são inofensivos.

“Os vizinhos se assustaram, mas expliquei que é abelha sem ferrão, que não faz mal, que a lei permite criar em área urbana”, disse.

Como na área em que Egídio mora tem mata por perto, as abelhas dele pouco se alimentam de forma artificial (água com açúcar). Ele comprou um terreno na região metropolitana de Salvador com o intuito de aumentar a criação das abelhas, em breve.

O biólogo Pedro Matias cria as abelhas em ferrão no quintal de casa, no bairro do Garcia, área central da capital baiana — Foto: Pedro Matias/ Arquivo PessoalO biólogo Pedro Matias cria as abelhas em ferrão no quintal de casa, no bairro do Garcia, área central da capital baiana — Foto: Pedro Matias/ Arquivo Pessoal

O biólogo Pedro Matias cria as abelhas em ferrão no quintal de casa, no bairro do Garcia, área central da capital baiana — Foto: Pedro Matias/ Arquivo Pessoal

Em uma casa no bairro do Garcia, a cerca de 35 km de Nova Esperança, mora o biólogo Pedro Matias, 28 anos. Ele aproveitou a área verde em casa e tem a vantagem de morar atrás do pomar de uma escola, ambiente bastante favorável para as abelhas. Ele disse que nunca teve nenhuma reclamação da vizinhança, porque as abelhas não incomodam.

“Moro com meus pais. Eles aceitaram muito bem. Meu pai é meu estagiário, me ajuda às vezes. As abelhas sem ferrão não entram na casa das pessoas para incomodar, não chegam em um pote de açúcar, não têm essa prática. A ápice [espécie mais comum de abelha com ferrão] é generalista, porque ela está com fome, está em todos os lugares”, explicou.

Abelha rainha [mais cheia] em colmeia no meliponário de Pedro, em Salvador — Foto: Pedro Matias/ Arquivo PessoalAbelha rainha [mais cheia] em colmeia no meliponário de Pedro, em Salvador — Foto: Pedro Matias/ Arquivo Pessoal

Abelha rainha [mais cheia] em colmeia no meliponário de Pedro, em Salvador — Foto: Pedro Matias/ Arquivo Pessoal

A ideia de Pedro surgiu enquanto ele fazia pesquisas para investir em um negócio, durante uma pausa no curso de biologia. O interesse foi tanto que ele fez a monografia dele sobre a importância das abelhas para a educação ambiental e segue pesquisando o assunto até hoje. Ele ministra cursos e palestras sobre o assunto e tem um projeto na Universidade Católica de Salvador (Ucsal), onde também existe um meliponário urbano.

“Um professor passou o contato de um pessoa que cria abelhas em Simões Filho [região metropolitana de Salvador], onde há um projeto onde estagiei, depois fui contratado. Comecei a criar abelhas há 5 anos. Tenho 15 caixas. Já faço colheita de mel, pólen e geopropolis”.

Colmeia do meliponário na casa de Pedro Matias, no Garcia — Foto: Pedro Matias/ Arquivo PessoalColmeia do meliponário na casa de Pedro Matias, no Garcia — Foto: Pedro Matias/ Arquivo Pessoal

Colmeia do meliponário na casa de Pedro Matias, no Garcia — Foto: Pedro Matias/ Arquivo Pessoal

Pedro vende o mel para clientes de Salvador e outros estados. No período da florada, que é de setembro ao final do maio, ele chega a tirar 8 litros de mel por caixa, um total de 120 litros. Cada litro custa entre R$ 150 a R$ 300.

“Eu sabia que era algo grandioso, mas não sabia que ia se tornar o que é hoje. Muita gente quer iniciar. É muito bacana criar abelhas, é uma terapia, mas também é algo que precisa de conhecimento. É preciso se informar”, afirma o biólogo.

Ação social que gera renda

Abelhas uruçu em colmeia no bairro de Nova Esperança, em Salvador — Foto: Lílian Marques/ G1

No bairro de Nova Esperança, que fica às margens da BA-526, mais conhecida como CIA-Aeroporto, e no limite entre os municípios de Salvador e Lauro de Freitas, há pouco mais de quatro anos as abelhas sem ferrão levaram ocupação e renda para moradores.

Isso foi possível graças a uma parceria feita entra o meliponicultor Pedro Viana e a irmã neozelandesa Helen Caughley. A freira contou que se interessou pelo tema desde a primeira vez que ouviu falar sobre o assunto.

“Comprei duas colmeias, duas caixas. Pedro sempre me deu apoio, me ensinando tudo, mostrando como fazer as coisas. Pensei: ‘com tantos contatos que eu tenho nas comunidades, andando no meio do povo, eu acho fácil conseguir outras pessoas fazendo isso também”, lembrou a religiosa, que mora no bairro de Nova Esperança há 21 anos.

Foi aí que Pedro propôs uma troca. Se ela levasse duas caixas próprias para abrigar as abelhas, daria uma colmeia para a estrangeira. “Foram 20, 25 colmeias recebendo e dando 50 caixas. Foi uma semana de corre corre, achando alguém para fazer as caixas. Mais ou menos dois meses depois de receber as colmeias, eu tinha mel na melgueira”, contou.

Irmã neozelandesa Helen Caughley criou projeto de melipolicultura no bairro de Nova Esperança, em Salvador — Foto: Lílian Marques/ G1Irmã neozelandesa Helen Caughley criou projeto de melipolicultura no bairro de Nova Esperança, em Salvador — Foto: Lílian Marques/ G1

Irmã neozelandesa Helen Caughley criou projeto de melipolicultura no bairro de Nova Esperança, em Salvador — Foto: Lílian Marques/ G1

Colmeia de abelhas sem ferrão na casa da freira Helen, em Nova Esperança, Salvador — Foto: Lílian Marques/ G1Colmeia de abelhas sem ferrão na casa da freira Helen, em Nova Esperança, Salvador — Foto: Lílian Marques/ G1

Colmeia de abelhas sem ferrão na casa da freira Helen, em Nova Esperança, Salvador — Foto: Lílian Marques/ G1

Da parceria entre o meliponicultor Pedro e a irmã Helen, nasceu, há um ano, a Cooperativa dos Criadores de Abelhas do Brasil (Coopcab). A sede fica em Lauro de Freitas, região metropolitana de Salvador. Atividades, como cursos, palestras e oficinas, são desenvolvidas na laje da casa da irmã Helen.

A criação das abelhas mudou a vida de pessoas como dona Maria Senhora, 61 anos, e Regiane dos Santos, 47, moradoras de Nova Esperança, que fazem parte da cooperativa. No local, além do mel, elas também produzem própolis, sabonetes de mel, e sacolas e panos sustentáveis, feitos com o cerume tirado das colmeias.

“Eu conhecia abelha assim do interior, de roça. Mas criar mesmo em casa eu nunca tinha visto. A irmã Helen apareceu lá na igreja e comentou com a gente. Ficou todo mundo assustado, até que ela fez o convite pra gente ir visitar lá em Mapele, com seu Pedro. Aí a gente foi, passou o dia lá no meio das abelhas, mas quando a gente veio já foi com duas caixas. Depois que eu botei em casa foi só alegria. Vi que não era perigo nenhum”, contou Maria Senhora, que hoje concilia a pequena produção do quintal com a criação de abelhas.

Abelhas sem ferrão não têm veneno e podem ser criadas em casa ou apartamentos  — Foto: Lílian Marques/ G1Abelhas sem ferrão não têm veneno e podem ser criadas em casa ou apartamentos  — Foto: Lílian Marques/ G1

Abelhas sem ferrão não têm veneno e podem ser criadas em casa ou apartamentos — Foto: Lílian Marques/ G1

No início, Regiane, que era dona de casa, foi resistente, mas acabou se rendendo aos encantos das abelhas e já aproveita os benefícios da nova atividade.

“Eu não queria. Achava que não tinha sentido, mas aí irmã Helen e Pedro ficaram falando que era bom e eu comecei. É bom, ocupa a mente da gente. A gente junta toda tarde para fazer sabonete, eu ajudo a irmã Helen a cuidar das abelhas dela.”

Colmeia de abelhas sem ferrão com crias (ovos) — Foto: Lílian Marques/ G1Colmeia de abelhas sem ferrão com crias (ovos) — Foto: Lílian Marques/ G1

Colmeia de abelhas sem ferrão com crias (ovos) — Foto: Lílian Marques/ G1

Além de proporcionar o ganho de renda, as abelhas modificaram também o cenário de Nova Esperança. Após a chegada delas, mais de 10 mil mudas de árvore já foram plantadas no bairro. Em um local onde ficava um barranco, por exemplo, agora há um jardim.

Pedro Viana explica que se não houver plantação para as abelhas polinizarem, elas ficam sem alimento no período fora da florada, de junho ao final de agosto.

“A produção [das abelhas] quem faz é o pasto. Se você vai criar o gado, você faz pasto, planta capim, mas se vai criar abelhas tem que estudar qual vegetação vai colocar, quais são as árvores que elas gostam. As preferidas das abelhas [uruçu] são pau-pombo, é uma árvore que oferta muito néctar. É quase uma bomba atômica de néctar. Ela, quando abre a florada, as melgueiras enchem em menos de uma semana. Ela é muito comum na mata atlântica”, disse.

Abelhas do bem

Degustação de mel direto na colmeia no meliponário da freira Helen, no bairro de Nova Esperança — Foto: Lílian Marques/ G1Degustação de mel direto na colmeia no meliponário da freira Helen, no bairro de Nova Esperança — Foto: Lílian Marques/ G1

Degustação de mel direto na colmeia no meliponário da freira Helen, no bairro de Nova Esperança — Foto: Lílian Marques/ G1

O engenheiro agrônomo e pós-doutor Rogério Alves estuda as abelhas sem ferrão há 35 anos. Ele tem um meliponário com 12 espécies em São Gonçalo dos Campos, a cerca de 108 km de Salvador, onde se dedica a pesquisar as abelhas e também produz mel.

“Meu trabalho é produção de enxame, mas eu ensino a pessoas, então, também extraio mel”, explicou Rogério.

Meliponário de Rogério Alves em São Gonçalo dos Campos, a cerca de 108 km de Salvador — Foto: Rogério Marcos Alves/ Arquivo PessoalMeliponário de Rogério Alves em São Gonçalo dos Campos, a cerca de 108 km de Salvador — Foto: Rogério Marcos Alves/ Arquivo Pessoal

Meliponário de Rogério Alves em São Gonçalo dos Campos, a cerca de 108 km de Salvador — Foto: Rogério Marcos Alves/ Arquivo Pessoal

Segundo o pesquisador, existem de 350 a 400 espécies de abelha sem ferrão em todo o mundo. Na Bahia, há 59 espécies nativas do Brasil já identificadas. As mais comuns no estado são uruçu, jataí e mandaçaia, que vivem em biomas diferentes. As duas primeiras são características da Mata Atlântica e a terceira das áreas de Caatinga.

Rogério destacou que uma das principais funções da abelha na natureza é a polinização, responsável por boa parte da reprodução das flores.

“Em troca as flores dão [às abelhas] o açúcar (néctar), o pólen, que é a proteína, e a resina, para elas fazerem a própolis. A própolis funciona como desinfetante natural na colônia”

A polinização, de acordo com o pesquisador, garante fruto de melhor qualidade, com composição mais rica e maior quantidade. “No café, por exemplo, a polinização aumenta a produção em 30%, na abóbora em até 300%”, detalhou o pesquisador.

Abelhas sem ferrão no meliponário de Rogério — Foto: Rogério Marcos Alves/ Arquivo PessoalAbelhas sem ferrão no meliponário de Rogério — Foto: Rogério Marcos Alves/ Arquivo Pessoal

Abelhas sem ferrão no meliponário de Rogério — Foto: Rogério Marcos Alves/ Arquivo Pessoal

Algumas dessas abelhas correm risco de extinção. Segundo Alves, a da espécie jataí se adaptou à cidade, mas a uruçus não, pois gostam de área de mata. O pesquisador destacou que as abelhas estão sofrendo com a agricultura e pecuária intensivas, desmatamento, queimadas, que destroem os ambientes que elas vivem.

“A abelha é um bicho que, para você criar, depende da natureza conservada. Você tem plantar para ela”, ressalta.

Rainha em colmeia das abelhas sem ferrão no meliponário da Ufba — Foto: Meliponário Ufba/ DivulgaçãoRainha em colmeia das abelhas sem ferrão no meliponário da Ufba — Foto: Meliponário Ufba/ Divulgação

Rainha em colmeia das abelhas sem ferrão no meliponário da Ufba — Foto: Meliponário Ufba/ Divulgação

As abelhas sem ferrão também são pesquisadas na Escola de Zootecnia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), em Salvador. O meliponário fica no campus de Ondina e pode ser visitado pelo público em geral.

O pós-doutor em patologia apícola e professor de zootecnia da instituição, Guido Castagnino, explica que as abelhas também têm um importante papel na natureza.

“Além de auxiliar na polinização de flores, as abelhas contribuem para a reprodução em mais de 90% das espécies vegetais nos trópicos e cerca de 80% das plantas em zona temperada. Mesmo que o principal propósito da meliponicultura não seja a produção de mel, é um setor em pleno desenvolvimento no Brasil, especialmente nas regiões Norte e Nordeste. O papel mais importante, certamente, é o serviço de polinização que elas realizam na natureza, auxiliando a preservação da fauna e flora”, explicou.

'Pote' de mel em melgueira no meliponário de Pedro Viana em Costa de Sauípe — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ Divulgação'Pote' de mel em melgueira no meliponário de Pedro Viana em Costa de Sauípe — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ Divulgação

‘Pote’ de mel em melgueira no meliponário de Pedro Viana em Costa de Sauípe — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ Divulgação

Ele detalha que esse tipo de abelha não produz veneno, o que facilita ainda mais a atividade. Os criadores não têm necessidade de usar uma roupa especial, como acontece no caso dos apicultores que criam as abelhas com ferrão e precisam se proteger.

“Elas podem ser criadas junto a residências; o seu manejo pode ser realizado por qualquer pessoa (alérgicos, crianças e idosos); pode ser uma atividade ocupacional para a terceira idade. A criação de abelhas nativas constitui material para estudos e ensino da educação ambiental, consciencializando o homem da necessidade da preservação”, completou o professor Guido.

Como começar criação

Melgueira repleta de abelhas em meliponário que fica na Costa do Sauípe — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ DivulgaçãoMelgueira repleta de abelhas em meliponário que fica na Costa do Sauípe — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ Divulgação

Melgueira repleta de abelhas em meliponário que fica na Costa do Sauípe — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ Divulgação

A Lei 21.619, aprovada no fim do ano passado, regulamenta a criação das abelhas sem ferrão na área urbana. O texto também define regras para a inclusão do mel delas dentro dos parâmetros de comercialização.

Entre as vantagens de se criar as abelhas sem ferrão está o baixo custo, a preservação da fauna e flora, a fácil multiplicação dos enxames e a valorização do mel no mercado, além de ser considerada atividade de lazer.

Para começar, é fundamental o conhecimento das espécies e do manejo das colmeias. Em Salvador, há cursos oferecidos no Meliponário da Ufba, em Ondina, na Cooperativa dos Criadores de Abelhas do Brasil (Coopcab), no bairro de Nova Esperança, e no Meliponário Urbano Honey Nativos, que fica no Garcia. Na Ufba e na Coopcab, o valor da inscrição é R$ 100. No Garcia, o custo é de R$ 250.

Na Coopcab as informações podem ser obtidas pelo e-mail [email protected], ou pelo whatsApp 71 98223-6515. Na Ufba, vai ser oferecido um curso no dia 26 de outubro (sábado). As informações podem ser obtidas pelos e-mails [email protected] e [email protected]. No Honey Nativos, as informações podem ser buscadas por meio do Instagram do meliponário.

Curiosidades

Mel das abelhas sem ferrão é mais claro e fluido, e tem uma leve acidez — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ DivulgaçãoMel das abelhas sem ferrão é mais claro e fluido, e tem uma leve acidez — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ Divulgação

Mel das abelhas sem ferrão é mais claro e fluido, e tem uma leve acidez — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ Divulgação

  • As abelhas sem ferrão pertencem ao gênero das Meliponini e a sua criação pelo homem é denominada como meliponicultura. Algumas se adaptam aos manejos do homem, produzindo pouco mel, sendo mais utilizada a sua criação como hobby ou como agente polinizador em ecossistemas naturais, capaz de polinizar de 30% a 90% da flora nativa.
  • Outra abelha de grande importância no Brasil é a do gênero Apis melliferas. L., que se defende utilizando o ferrão. A criação é denominada como apicultura e elas são muito utilizadas para a produção de mel.
  • As abelhas com ferrão vieram da Europa e da África, formando um poli-híbrido de várias raças, denominadas abelhas africanizadas. São excelentes polinizadoras de várias espécies vegetais e produzem vários outros produtos das abelhas como própolis, pólen e geleia real e a apitoxína (veneno da abelhas) como medicamento e cosméticos.
  • Cada colmeia de abelhas nativas, como a uruçu, por exemplo, tem entre 3 e 4 mil indivíduos, produzindo cerca de 8 kg de por caixa. No caso das abelhas europeias ou africanizadas, são até 80 mil em cada colmeia, e a produção de até 80 kg de mel por ano em cada colmeia.
  • As abelhas se alimentam basicamente do néctar das flores. No inverno, as que são criadas pelo homem podem precisar de alimentação artificial, que é água com açúcar. No período, por causa do menor número de flores, a população das abelhas diminui.
  • As abelhas sem ferrão não vão em todas as flores, são mais seletivas. A uruçu, por exemplo, prefere arbustos e árvores, não gosta de plantas rasteiras. A ápice vai em qualquer flor e pode ir a outros lugares, inclusive casas, em busca de alimento.
  • A abelha sem ferrão é fecundada por apenas um zangão, enquanto a ápice é fecundada por 20 a 30 zagões.
  • A abelha com ferrão produz cera. A sem ferrão também, mas o mel e as crias dela são depositadas em um pote de cerume, que é cera mais própolis, como se fosse uma embalagem medicinal. O mel delas, em composição, são semelhantes, mas as substâncias são diferentes.
  • O zangão morre após fecundar a abelha, pois o órgão sexual dele fica preso à câmara do ferrão da rainha.
  • Diferente das abelhas ápices, as rainhas das abelhas sem ferrão não saem da colmeia porque são muito pesadas e não conseguem levantar voo.
  • As abelhas só deixam entrar nas colmeias as moradoras do enxame. Para isso, ficam as “vigias” na entrada das colmeias para controlar a entrada.

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Melgueira de abelhas sem ferrão ficam cheias, principalmente, durante a florada (de setembro a maio) — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ DivulgaçãoMelgueira de abelhas sem ferrão ficam cheias, principalmente, durante a florada (de setembro a maio) — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ Divulgação

Melgueira de abelhas sem ferrão ficam cheias, principalmente, durante a florada (de setembro a maio) — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ Divulgação

Retirada do mel das abelhas sem ferrão pode ser feita também com seringa — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ DivulgaçãoRetirada do mel das abelhas sem ferrão pode ser feita também com seringa — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ Divulgação

Retirada do mel das abelhas sem ferrão pode ser feita também com seringa — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ Divulgação

Extração de mel da melgueira com máquina no meliponário de Costa do Sauípe — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ DivulgaçãoExtração de mel da melgueira com máquina no meliponário de Costa do Sauípe — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ Divulgação

Extração de mel da melgueira com máquina no meliponário de Costa do Sauípe — Foto: Meliponário Costa do Sauípe/ Divulgação

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