SÃO GONÇALO DO AMARANTE RN-Aulas públicas despertaram os alunos de escolas ocupadas


ESCOLAS-OCUPADAS

Jornal GGN – Ao que tudo indica, em 2016 o governo Geraldo Alckmin (PSDB), além de discutir o fechamento de mais de 90 escolas em cada uma das unidades em São Paulo, terá de debater outro ponto que entrou na pauta de alunos afetados pela chamada “reorganização do ensino público”: a matriz curricular.

Reportagem do Estadão publicada neste domingo (6) com estudantes da primeira das quase 200 escolas ocupadas em protesto ao plano de Alckmin mostra que as aulas públicas que eles receberam durante a resistência mudou a mentalidade de muitos.

“As aulas públicas da Escola Estadual Fernão Dias Paes fizeram com que os jovens secundaristas queiram aprender conteúdos diferentes a partir do ano que vem. Durante os dias em que acamparam na unidade, professores lecionaram aulas públicas com enfoques distintos dos que estão na grade curricular do ensino médio como a história dos movimentos secundaristas no Brasil, a luta de classes, teatro dos oprimidos e política”, observou o Estadão.
“Vamos muito perguntar o porquê em sala de aula, porquê a gente tem que sentar e ficar 50 minutos dentro da sala de aula para ver uma coisa maçante que pode ser dita de um jeito de diferente. Vamos questionar as imposições da direção. Não vamos ficar quietos, literalmente”, disse uma aluna de 15 anos.

A história da escola ocupada que fez 93 ficarem abertas

Do Estadão

Enfrentando protestos nas ruas e queda repentina de popularidade, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) convocaria a imprensa às pressas, anteontem, para anunciar o recuo na reorganização da rede estadual de ensino. A crise havia sido deflagrada 25 dias antes, quando cerca de 150 alunos ocuparam a primeira escola na capital: a Fernão Dias Paes, em Pinheiros. Por ironia, a unidade, que recebe o nome de bandeirante tido como vitorioso, se tornaria símbolo da derrota do Palácio dos Bandeirantes.

Antes das ocupações, os alunos organizaram passeatas contra o fechamento de 94 escolas no Estado, mas os atos não surtiram efeito. O cenário começou a mudar na madrugada de 10 de novembro, quando os manifestantes tomaram a Fernão Dias e o colégio acabou cercado pela Polícia Militar. O cordão de isolamento só seria desfeito pela PM quatro dias depois – e o número de escolas ocupadas passou a se multiplicar.

Um saco preto cobre o rosto da estátua na entrada da Escola Estadual Fernão Dias Paes
A capital paulista havia acordado

Uma placa no saguão do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, explica que o prédio tem esse nome em homenagem aos exploradores que desbravaram selvas e rios partindo de São Paulo e São Vicente.

O estudante João Pedro Constantino, de 19 anos, havia acabado de embarcar no metro
As aulas públicas que os estudantes da Escola Estadual Fernão Dias Paes fizeram com que os jovens secundaristas queiram aprender conteúdos diferentes a partir do ano que vem. Durante os dias em que acamparam na unidade, professores lecionaram aulas públicas com enfoques distintos dos que estão na grade curricular do ensino médio como a história dos movimentos secundaristas no Brasil, a luta de classes, teatro dos oprimidos e política.

O estudante do 2º ano do ensino médio, Allexandre Henrike Buniak, de 21 anos, ficou com as aulas de política eternizadas. “Eu aprendi tudo e lutar pelos meus direitos. Eu não tinha noção do que era política e hoje eu sei muito bem”, afirmou o jovem que retornou aos estudos após abrir um estúdio de tatuagem. E ele resumiu os ensinamentos em um frase: “aprendi que todo político é safado.”

Já a adolescente Laura Bueno, de 15 anos, do 1º ano do ensino médio, se impressionou com as doações de material escolar. “A gente recebeu muita doação de livro com coisas importantes sobre política e a história da população tentando mudar e, de novo, assim como nós sendo reprimidos”, contou. “Ano que vem eu quero saber muito mais de tudo o que eu aprendi.” Ela espera que o ano que vem “seja diferente” de todos os outros no ensino público. Vamos muito perguntar o porquê em sala de aula, porquê a gente tem que sentar e ficar 50 minutos dentro da sala de aula para ver uma coisa maçante que pode ser dita de um jeito de diferente. Vamos questionar as imposições da direção. Não vamos ficar quietos, literalmente.”

No ano que vem, Mateus Dantas da Silva, de 17 anos, não poderá ver as mudanças dentro da escola porque estará formado. Mas vai levar para “a vida” as lições de “solidariedade” que aprendeu durante os dias acampado. “Eu aprendi aqui na ocupação, o mais importante, é ter solidariedade com todos os estudantes e trabalhadores, entender que a luta pela educação e por um mundo melhor é de todos os dias e de todos.” Silva participou de aulas de teatro, mas não deve estudar artes cênicas em 2016 porque irá fazer um curso técnico. “Talvez, quando eu arranjar um emprego que me dê mais dinheiro eu faça uma escola de teatro.”

Sem bandeirantes. Na sexta-feira, após o anúncio da queda do secretário da educação e da revogação da reorganização escolar, os estudantes que tomam conta do portão da unidade discutiam a mudança do nome da escola.

Fernão Dias Paes foi um dos bandeirantes que desbravou o Estado de São Paulo e ficou conhecido como a figura histórica que caçou esmeraldas, buscou índios para escravizar e se posicionou contra o jesuítas que lutavam contra a escravização dos povos indígenas no século XVII. “Ele era matador de índios. Essa escola não pode ter mais esse nome”, comentou uma aluna. A estátua do bandeirante teve o rosto ensacado pelos alunos após a ocupação. “Acho que podemos lutar para que a escola se chamar Pedroso de Morais (nome da rua da unidade).” Logo depois da sugestão, os alunos desistiram da ideia porque o endereço é, justamente, uma homenagem a outro bandeirante. “Também era matador de índios. Sem chance”, retrucou um adolescente que pesquisou o nome no Google.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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