PERNAMBUCO-BRASIL-Sulanca mostra a sua força no Agreste de Pernambuco


Com mais de 15 mil negócios do ramo de confecções, Santa Cruz do Capibaribe ferve nesta época do ano. A cidade do Agreste de Pernambuco recebe milhares de pessoas em busca de roupas para as festas de fim de ano. É gente de todo o Brasil, que viaja por horas em vans e ônibus de excursão para chegar ao Moda Center Santa Cruz – condomínio que reúne os produtores locais e se apresenta como o maior centro atacadista de confecções do País. Só no último fim de semana, foram 160 mil pessoas. O movimento foi o maior da história e impulsiona a economia de toda a região: segundo o setor, 54 cidades de Pernambuco e da Paraíba estão envolvidas na cadeia de confecções, que vive sua melhor época do ano em dezembro.

“Nesta época, é tudo no superlativo por aqui, porque todos os estados da federação vêm fazer suas compras de fim de ano em Santa Cruz”, diz o síndico do Moda Center, José Gomes Filho. E o movimento ainda ganha o reforço do público varejista, que nem sempre vai comprar roupas no Agreste no restante do ano. “Recebemos atacadistas, que revendem os produtos em outras regiões, o ano todo. Mas, neste período, muita gente também vem comprar para consumo próprio. Então, o movimento é extraordinário”, vibra o síndico, que circula entre os corredores entupidos de gente do Moda Center, sempre com um sorriso no rosto, para receber bem os compradores.

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Ele pergunta se está tudo bem, parabeniza os lojistas pelas vendas e ainda corre de vez em quando para o estacionamento para checar se o tráfego está em ordem. Afinal, mais de 500 ônibus de viagem levam compradores para o empreendimento em cada uma das feiras de dezembro, fora os milhares de carros e vans que saem carregados de roupas no fim do dia. Por isso, antes do vuco-vuco das compras, ainda é preciso enfrentar um pequeno engarrafamento para chegar ao Moda Center.

Nada, no entanto, tira o ânimo dos consumidores. Antônio Carlos Pereira, por exemplo, saiu do Maranhão e passou quatro dias na estrada para chegar ao Moda Center. Mas compensou o esforço: dono de uma loja, Antônio gastou R$ 35 mil em compras e voltou para casa com mais de 300 quilos de roupas. “Aqui é muito mais barato e as peças são de qualidade”, justificou o revendedor.

Já a dona de casa Elza Bispo saiu da Bahia. E ela não foi comprar para revender: viajou um dia inteiro para garantir as roupas de fim de ano da família. “Peguei o 13º e vim me abastecer, porque os preços compensam a viagem”, explicou.

O movimento é tão grande que bastam algumas horas de feira para as “peças da moda” sumirem dos manequins. Afinal, 60% dos 15 mil lojistas de Santa Cruz também são os responsáveis pela confecção dos seus produtos e, por isso, não têm um estoque tão grande: eles vendem no fim de semana o que costuraram durante a semana. “Normalmente, vendo 500 peças por feira. Mas, neste fim de ano, tenho vendido mil”, justificou o empreendedor de moda infantil, Gemerson Silva.

Mas quem vai garimpar suas roupas de fim de ano no Moda Center sabe disso. Por isso, sai de casa bem cedo para pegar a abertura da feira, às 6h da manhã. Moradora da cidade pernambucana de Flores, Fabiana Santos, por exemplo, pegou a estrada às 3h. “Mas valeu à pena. Aqui é melhor de comprar, tem muita roupa boa”, contou a dona de casa, que arrastava uma mala de viagem pelos corredores do empreendimento para poder carregar tudo o que comprou.

Moda Center Santa Cruz recebe milhares de pessoas no fim do ano
Crédito: Brenda Alcântara / Folha de Pernambuco

A também pernambucana Maria de Fátima Silva comprou tanta coisa que fretou um carroceiro para lhe ajudar a carregar as roupas, que vai dividir entre a família e a loja que mantém em Brejo da Madre de Deus. Para facilitar o transporte das mercadorias, por sinal, o Moda Center tem 600 carroceiros cadastrados. São profissionais que percorrem todo o empreendimento, cobrando por minuto pelo transporte das mercadorias para o estacionamento, onde os automóveis dividem espaço com as sacas de roupa. “Esta é a época em que mais vendemos. O movimento triplica por conta das festas de fim de ano”, explicou José Gomes Filho, contando que a alta das vendas foi ainda maior neste ano por conta do início da recuperação econômica.

“Estamos maios ou menos no mesmo nível de 2014, que foi o nosso melhor ano. Batemos recorde de público e ainda devemos crescer de 10% a 12% em relação ao ano passado”, calculou o síndico. “A temporada está muito boa. Como a sociedade está começando o organizar suas finanças, as vendas cresceram 50%”, confirma o vendedor de moda jeans, Lindomar Pereira, que vai usar esse reforço de caixa para colocar as próprias contas em dia.

Prova de que Santa Cruz produz moda e não apenas “sulanca”, a Laluka é outra loja que deve reforçar o seu faturamento neste fim de ano. “As pessoas estão comprando bem mais. Tem sido nosso melhor mês. Crescemos de 30% a 40% em relação ao restante do ano e ainda devemos ter um resultado 50% melhor que o do ano passado”, vibra a proprietária da Laluka, Neide Rocha, que precisou reforçar a equipe para poder atender toda essa demanda: sete costureiras extras foram contratadas para ajudar as nove que já produzem para a Laluka. “E mesmo assim está faltando mercadoria”, revela Neide, que pediu ajuda até da família para poder receber esse tanto de compradores na sua loja. A mãe, o irmão e as primas não negaram o pedido.

A alta das vendas não fica apenas no setor de confecções: chega aos restaurantes, empresas de turismo, postos de gasolina e até hotéis. Dono de uma agência de viagem, Paulo Henrique Arruda, por exemplo, reforça as excursões para o Agreste para poder atender todos que querem fazer compras no Polo de Confecções. E o Moda Center Hotel, que recebe muitos desses compradores, está com 100% de ocupação desde novembro. “Tudo gira em torno da confecção por aqui”, confirmou José Gomes Filho.

Caruaru e Toritama: rotas alternativas
Santa Cruz do Capibaribe não é a única representante estadual da indústria de confecções. Toritama e Caruaru também têm grande produção e formam, junto com o Moda Center, o Polo de Confecções do Agreste – polo que, segundo o Núcleo Gestor da Cadeia Têxtil e de Confecções de Pernambuco (NTCPE), deve produzir 700 milhões de peças neste ano.

“A indústria de confecções pernambucana ocupa lugar de destaque no cenário nacional e tem grande movimentação. E quase 70% desse setor está no Agreste, contribuindo com a geração de renda da região”, afirmou o presidente do NTCPE, Fredi Maia. Ele, admite, porém, que é difícil calcular o faturamento do setor porque a informalidade ainda reina entre as confecções.

Hoje, só 1,2 mil das mais de 15 mil produtores de roupas do Estado são formalizadas. Mesmo assim, o setor já representa 4,2% de todas as empresas de confecções do País e emprega quase 150 mil pessoas em Pernambuco e na Paraíba. Segundo o Moda Center, 54 municípios são movidos pela fabricação de roupas. Porém, é em Santa Cruz que acontece a maior parte das vendas, sobretudo no fim de ano.

“Esta é a cidade que mais fatura e recebe o maior volume de visitantes porque está mais bem equipada em relação a centro de compras”, explicou o presidente da Câmara Setorial Têxtil do Estado, João Bezerra da Silva Filho. Ele explicou que, enquanto Santa Cruz reúne seus produtores no Moda Center, Caruaru e Toritama seguem com feiras de rua. “É por isso que, mesmo sendo mais distante, Santa Cruz recebe excursões do Nordeste todo”, falou Filho.

E os produtores da cidade têm orgulho de dizer que, além disso, são os criadores da “sulanca” em Pernambuco. Síndico do Moda Center, José Gomes Filho contou que tudo começou com a produção algodoeira na década de 1950. “A região era uma grande produtora de algodão e abastecia as fábricas de tecido do Recife, mas enfrentou uma crise por conta da redução das chuvas e de uma praga chamada bicudo. Por isso, os produtores começaram a trazer retalhos das fábricas do Recife. E, com essas sobras de tecido, as mulheres começaram a fazer colchas de retalho”, lembrou, dizendo que as colchas fizeram tanto sucesso que as costureiras passaram a fazer peças de roupa para vender na frente de casa.

Foi assim que nasceu a feira de Santa Cruz – uma feira tão grande que não se satisfez com os retalhos do Recife. “Os produtores começaram a trazer retalhos de helanca de São Paulo. E, como a helanca vinha do Sul, chamaram de Sulanca”, revelou o síndico do Moda Center, contando que a ideia deu tão certo que se expandiu para Caruaru e Toritama e exigiu a construção de um centro de compras em Santa Cruz.

É o Moda Center, que foi construído no início dos anos 2000 através de uma parceria entre os produtores e a prefeitura da cidade. O condomínio foi inaugurado em 2002 e hoje reúne 10,3 mil lojistas em uma área coberta de 120 mil m² construída em um espaço de 32 hectares, além de mais cinco mil lojistas que construíram um “puxadinho” a céu aberto nos fundos do empreendimento, mostrando que a indústria de confecções ainda tem muito a crescer no Agreste de Pernambuco.

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