PENDÊNCIAS RN-Oportunidades compartilhadas


168010Isaac Ribeiro
Repórter

Em tempos de crise, usar a criatividade e aproveitar as oportunidades pode ser uma forma de se manter ativo no mercado e driblar as adversidades. Nem sempre é fácil para o pequeno produtor de moda manter um ateliê independente ou empresa, tendo de arcar com custos como aluguel, luz, água. Despesas altas podem acabar tornando inviável o projeto de ter uma marca própria, de lançar-se. Em resposta a isso, os espaços compartilhados de produção e venda têm ganhado espaço.

Alex RégisMercado colaborativo ganha espaço em Natal e atrai novos produtores na área de modaMercado colaborativo ganha espaço em Natal e atrai novos produtores na área de moda

Na venda do que é produzido por pequenas empresas, no caso, de moda, vem ganhando adeptos o modelo de lojas compartilhadas, que abrigam várias marcas, tais quais pequenas outras lojas dentro de um único espaço. Em Natal esse esquema já tem seus representantes.

A proprietária do Espaço Colaborativo Kole, Daniele Gonçalves, conta que a atual crise do País serviu como principal motivação para abrir o negócio nesse formato, pois acreditava em ter mais facilidade de encontrar parceiros dispostos a um investimento mais baixo do que arcar com os custos de uma loja própria.

“Fui em busca de marcas que expõem em feiras como Ecopraça e Praça das Flores. Além de divulgar em minha rede de contatos, que foi me passando indicações. Também participei de eventos no Senai e Sebrae, onde fiz alguns contatos”, comenta Daniele.

Depois de pesquisar muito, e com a ajuda de um amigo arquiteto, ficou definido o modelo de “corners” — espaços de dimensões diversas, oferecidos e negociados com os interessados.  É feito um cálculo de acordo com o tamanho da área e estabelecida a taxa de manutenção. “Além disso, é cobrada uma comissão sobre as vendas. Nós já estamos com dez marcas participantes. Tentamos não chocar  o tipo dos produtos. O principal é não ter muita marca do mesmo tipo de produtos”, diz Daniele.

A designer Carol Limeira foi a primeira a acreditar na proposta de espaço compartilhado. Um dos motivos, segundo ela, foi, além da crise, a forma fechada como o mercado recebe novos produtores e criadores. Mas os resultados positivos já começam a aparecer.

Na opinião da jornalista de moda Erika Nesi, o mercado compartilhado está começando a engatinhar, no Brasil e também em Natal. Porém, ela acredita que os empresários locais vão passar a adotar esse formato a partir de agora, motivados em parte pela crise. “O tempo e o dinheiro das pessoas estão mais curtos. Então, acho que na hora em que você compartilha de um mesmo ambiente com vários outros produtos, você otimiza, você ganha, você vende, tanto o empresário quanto o cliente saem lucrando. E compartilha também experiências.”

Praticidade e visibilidade atraem designers

Visibilidade, economia, praticidade, são palavras recorrentes entre os designers envolvidos na experiência pioneira em Natal de venda em sistema colaborativo, em espaço compartilhado. E apesar do pouco tempo, os resultados positivos já começam a aparecer. A procura dos produtores e designers de moda só tem aumentado e eles já acusam crescimento na receita, o que impulsiona ainda mais a produção. O formato de espaços vizinhos, separados pelos estilos mas unidos pela diversidade, favorece e fortalece o conceito de venda colaborativa. Confira abaixo o depoimento de Daniele Gonçalves, que gerencia tudo isso; Giovanni Barbalho, arquiteto e designer que ajudou a dar forma ao conceito; Carol Limeira, a primeira a ter um espaço; e Michele Dalpasqual, a mais nova integrante da trupe.

“O principal é não ter muita marca do mesmo tipo de produtos. Eu tenho duas de acessórios, As Limeiras e a Nudo; tenho duas de joalheria, a Palot e Miriam; de roupa, camisetas t-shirt tem a Crow; aí tem a Tao, que é um outro estilo que não concorre por não ter camisetas; e tenho agora a Paralelo 14, que é a mais recente, mas aí ela já mistura crochê, tem uma pegada artesanal em couro; e tem um brechó também, que são roupas mas de uma categoria totalmente diferente.  E agora o que falta pra gente é roupa infantil, lingerie, biquine, moda praia, moda fitness, calçados, que a gente ainda não tem. Cada marca dessa tem o seu Instagram ou seu Facebook, algumas não têm, mas já tem a sua forma de divulgar e, a partir do momento que a marca divulga no Instagram, chama o cliente pra cá, e acaba conhecendo outras marcas, outros produtos. Tem lojas que são bem fortes no Instagram e no Face e acabam atraindo muito cliente pra cá, que conhecem outras marcas. Tem esse equilíbrio e isso que é o bacana, pois uma fortalece a outra.”
Daniele Gonçalves, estilista e empreendedora

Alex RégisDaniele Gonçalves estilista e empreendedoraDaniele Gonçalves estilista e empreendedora

“Antes de vir aqui pra Kole, eu já estava procurando um espaço físico. Eu já trabalhava com vendas online, tenho e-commerce, e chegou aquela necessidade de ter um espaço físico para receber as clientes e mostrar os produtos de uma forma mais pessoal, e foi quando eu recebi o convite da Leli. Eu já tinha ido em buscas de outras lojas nesse conceito; lojas colaborativas, que eu sempre achei incrível; fui a Fortaleza, Recife e algumas capitais aqui próximo, mas aí a Leli me fez esse convite, aceitei na mesma hora, já conhecia a loja Jardim de Ideia, sempre fui super fã, acho muito bacana esse conceito de todo mundo junto nesse mesmo espaço físico, na galeria, acho que uma coisa soma à outra. Os custos de se manter um negócio, uma loja, são altíssimos. Aqui tem também a questão da união fazer a força. Tudo isso agrega. Sim. Eu acredito que desde quando eu iniciei, faz uns três meses, a receita só vem aumentando, o volume de venda só vem aumentando. Faz pouco tempo que a gente fez a inauguração, então muitas pessoas ainda não sabem nosso endereço. Estamos vendo no gráfico que a coisa está crescente, está bem positivo sim.
Carol Limeira, designer e administradora

Alex RégisCarol Limeira - designer e administradoraCarol Limeira – designer e administradora

“A princípio, Léli me trouxe a ideia da loja, me apresentou o que seria o plano de necessidades dela, como ela queria definir o espaço. E aí, juntos analisamos as referências que ela tinha me trazido e fomos trabalhando o projeto em cima da real necessidade e da locação de cada participante da casa, dada a sua proporção de espaço, que eles haviam fechado, e decidimos partir pra uma arquitetura ecologicamente correta, usando materiais que hoje são cotados como de suporte à sustentabilidade, tipo o pinos, que é madeira de reflorestamento, e outros elementos para definir esse espaço de forma diferente. Partimos da ideia de que precisaríamos aproveitar o máximo com o custo mínimo. Isso, eu acredito que seja o que norteia a economia colaborativa; o aproveitamento máximo de todas as características e condições de seu negócio por um custo mínimo”.
Giovanni Barbalho, designer de acessórios masculinos e arquiteto

Alex RégisGiovanni Barbalho - arquiteto e desiner de acessórios masculinosGiovanni Barbalho – arquiteto e desiner de acessórios masculinos

Bate-papo
Michele Dalpasqual
Designer de Moda

O que te motivou a abrir a Paralelo 14 no sistema de espaços compartilhados, venda colaborativa?

Em primeiro lugar, por ser um lugar mais acessível para que a gente consiga expor o produto e as facilidades de ter alguém que esteja tomando conta do lugar, já que não precisa eu estar lá pessoalmente, por conta do meu outro trabalho, então não poderia dedicar o meu tempo 100% numa loja, mesmo porque a minha preferência sempre foi o designer e a produção. Vender nunca foi meu gancho. Então, botar a Paralelo 14 em um espaço assim é como eu tivesse passando adiante essa parte, e também pelo fato de ter outras pessoas que fazem com que o movimento aconteça. É um espaço com pessoas com produtos bacanas, que tem uma boa visibilidade e que eu queira agregar a minha marca.

Considera mercado fechado para novos produtores independentes?

O mercado de Natal é bem fechado. Quando cheguei com minha marca aqui, tive que me adaptar muito para conseguir ter o mínimo de espaço. É muito complicado. As pessoas são muito vinculadas a grandes marcas e a grandes centros de compras. Parece-me que algumas têm medo de apostar no novo. Ao mesmo tempo que se admira, se rejeita. É meio louco isso.

Acredita que o mercado natalense absorve novos modelos como o proposto pela Kole?

O mercado brasileiro, assim como o mercado brasileiro, só tende a absorver cada vez mais esse tipo de negócio pelas facilidades de estar associando sua marca a outras de conceito, facilidade de não estar pagando imposto, pagando funcionário. Você se preocupa com o conceito e deixa que alguém vai fazer isso com você. Do meu ponto de vita, isso tende a se diversificar por outros tipos de comércio, não só na parte da venda, mas também da produção, com ateliês compartilhados. Acho que esse é o momento.

Qual tipo de produto a P14 trabalha e como a vê no mercado local?

Paralelo 14 é um produto que nasceu do mercado da música eletrônica. São produtos funcionais. O princípio da Paralelo 14 é o funcional. E foi adaptado para uma contemporaneidade. O fato de ter vindo morar em Natal deu uma mudada no estilo. É uma marca de acessórios em couro, que trabalha manualmente, peça à peça, designer diferenciado, com texturas e cores que não são muito fáceis de encontrar no mercado. Acho que esse mimo do individual é o grande diferencial da marca.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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