PENDÊNCIAS RN-“O que fará, que fará”? Por Rui Daher


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O que fará tantos brasileiros se fantasiarem, se pintarem, inventarem caretas e saírem dançando pelas ruas de nossas cidades, no Carnaval, desavergonhados do ennuyé que causam nos guetos do luxo deste País luso-africano?

Muitos, deseducados, ousam invadir pedaços que não são seus, a não ser quando os servindo de mais valia. Nem mesmo desconfiam que os incomodam com o barulho agressivo, a sujeira, cervejas chocas. Tudo muito desaforado e diferente dos sons que saem de sacadas atulhadas de paneleiros em panelaços.

No Carnaval não, por favor. Fiquem por seus lados além túnel, que estamos descansando ouvindo Beethoven e Bach. No máximo, Villa.

No máximo, peguem suas velhas conduções e cheguem aos sambódromos. Lá, na falta de algo mais interessante, poderemos assisti-los e depois comentar como vocês são repetitivos.

– Como? Não te concedemos folga nesses dias? Claro, não sabe que o Carnaval não é feriado oficial?

Se assim for, a alternativa é ligar o aparelho de TV, baixo volume, para que o som não chegue aos aposentos superiores, e assistir aos desfiles paulistas, cariocas, soteropolitanos ou os bonecões de Olinda.

Agirem assim, tiveram seu Carnaval e, no dia seguinte, não serão agredidos pelos babadores-de-ovos patronais das folhas e telas cotidianas, dizendo-se incomodados pelas suas insossas alegrias bregas.

Pois bem, ontem, alegrou-me desafiar essa viadagem antipopular.

Depois de 30 dias sertanejando, assim que cheguei em Guarulhos, decidi que, neste ano, iria incomodar os dandys da Pauliceia. Ajudar a fazer muito barulho para sacanear os carolas e corolas, inimigos do meu populismo (cf. Bourdieu, Ianni, Darcy e Laclau).

Motivo tinha. No Esquina da Vila Buarque “Amélia”, ruas General Jardim e Doutor Vila Nova, fizemos uma homenagem ao mestre José Ramos Tinhorão, o mais importante estudioso e historiador da música brasileira, que completava 88 anos de idade.

Poderia o evento ser silencioso, sem samba, cachaça, cerveja e perto de onde ele mora?

Desculpem-nos, pois, cercanias do tédio, adoradores de Miami ou Harvard (conforme o QI). Não daria para homenageá-lo em Parelheiros, embora acredite que ele toparia, tais suas disposição física e clareza intelectual.

Tinhorão nasceu em Santos, no ano de 1928. Foi para o Rio de Janeiro, onde se formou em Direito e Jornalismo. Crítico rigoroso e polêmico na música, como Bárbara Heliodora, no teatro, juntos a outros excelentes jornalistas, no Jornal do Brasil, confiarmos em jornalismo de qualidade.

Escreveu cerca de 20 livros e inúmeros artigos sobre o tema. Possuidor de um acervo com 6,5 mil discos 78 rpm, e outros tantos LPs, vendeu-o ao Instituto Moreira Salles, que o digitalizou para uso aberto na internet.

Levei um livro comprado e lido há 40 anos, para autógrafo: “Música Popular: Teatro & Cinema” (Vozes, 1972).

Enquanto bebia saudáveis pequenas taças de vinho, contou-me estar escrevendo mais dois livros. Um deles ligando a cultura portuguesa às origens da música brasileira. Anuncia serem os últimos. É a síndrome de finitude que nos atinge. Nele injustificada.

Em nossa mesa, mais três monumentos da música popular brasileira: o produtor musical João Carlos Botezelli, o “Pelão”, que entre outros lançou Nelson Cavaquinho, Cartola e Adoniram Barbosa; o cantor Roberto Luna, 86 anos e mais de 60 LPs gravados; e e o jornalista, escrito e compositor paraibano Assis Ângelo.

No entardecer, quase noite, pandeiros, tamborins, cavaquinhos, violões, surdos, reco-recos e lindas negras cantoras se reuniram em torno do “Zé Ramos”, que àquela altura a cerveja já me fazia seu íntimo. Foram duas horas de sambas-parabéns até que o grupo saiu, deu uma volta em torno da Praça Leopoldo Fróes, e fomos. Foliões, por que não?

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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