PENDÊNCIAS RN-Nada é igual ao Seu redor Tudo se faz no Seu olhar Todo o universo se formou no Seu falar


Uma música tem feito certo sucesso entre os evangélicos. Seu título é “Ninguém explica Deus” e quem canta é o grupo Preto no Branco. Vamos analisar a sua letra?

Bem, a canção começa assim:

Nada é igual ao Seu redor
Tudo se faz no Seu olhar
Todo o universo se formou no Seu falar

Já dá para perceber que o compositor buscou exaltar a grandeza do Deus criador. Ele parte da cosmovisão bíblica que se encontra em Gênesis 1 e 2, onde diz que Deus criou todas as coisas, trazendo elas a existência ao falar “haja”. Logo após a palavra decretada, as coisas vieram a existir. Isso é assombrosamente maravilhoso, e, muitos salmos louvam ao SENHOR pelas maravilhas de sua criação. Todavia, há uma frase estranha aí: “tudo se faz no seu olhar”. Não é o que diz a Escritura. O relato bíblico da criação diz o que a próxima frase da canção afirmou: “Todo o universo se formou no Seu falar”.O motivo do autor ter afirmado que Deus fez algo através do seu olhar não podemos conhecer, mas a possível desculpa da “licença poética” não pode ser aplicada quando tal licença vai de encontro a Palavra revelada. Portanto, já temos um ligeiro problema com a canção.

Teologia pra explicar ou big bang pra disfarçar
Pode alguém até duvidar sei que há um Deus a me guardar

Confesso que não entendo bem a correlação entre a explicação teológica e a teoria do Bing Bang. Numa lida superficial, a impressão que tenho é que o trabalho da teologia é desqualificado. E isso é algo negativo. Vamos seguir com a letra:

E eu tão pequeno e frágil querendo Sua atenção
No silêncio encontro resposta certa então
Dono de toda ciência, sabedoria e poder
Oh dá-me de beber da água da fonte da vida
Antes que o haja houvesse Ele já era Deus
Se revelou ao seus do crente ao ateu (do gentio ao judeu)
Ninguém explica Deus

Aqui se evidencia um equívoco que já é perceptível no título da música: Como assim ninguém explica Deus? Se temos um Deus que se revela, podemos explicá-lO de acordo com o conteúdo revelado. Reflita junto comigo:

Na própria música há proposições que são oriundas da visão do Deus criador, visão que se extraiu da Bíblia. Frases como “Antes que o haja houvesse Ele já era Deus” estão na canção. Como se sabe disso? Deus se revelou e homens por Ele dotados de sabedoria, os conhecidos teólogos, explicaram o conceito de eternidade e a criação ex nihilo (que estão por trás da concepção da música), baseando-se na Escritura. Logo, há sim algo explicável, não tudo, não é uma explicação exaustiva, isto é, plena, mas é suficiente para sabermos quem é Deus e o que Ele requer de nós. Por isso temos a seguinte resposta no Catecismo Maior de Westminster para a pergunta “Quem é Deus?”:

”Deus é espírito, em si e por si infinito em seu ser, glória, bem-aventurança e perfeição; todo – suficiente, eterno, imutável, insondável, onipresente, infinito em poder, sabedoria, santidade, justiça, misericórdia e clemência, longânimo e cheio de bondade e verdade.

João 4:24; Exo. 3:14; Job. 11:7-9; At. 5:2; I Tim. 6:15; Mat. 5:48; Rom. 11:35-36 Sal. 90:2 -145:3 e 139:1, 2, 7; Mal. 2:6; Apoc. 4:8; Heb. 4:13; Rom. 16:27; Isa. 6:3; Deut. 32:4; Exo. 34:6.”

Embora o conhecimento não seja exaustivo, no entanto, há um abrangente conteúdo revelado que nos diz quem é o Deus triúno, criador dos céus e da terra. Quem sustenta que ninguém explica Deus são os deístas, que acreditam que o Divino se ausentou após criar o cosmos. O teísmo, onde se encontra o cristianismo, é proposicional, por isso há um conteúdo comunicável e explicável. A afirmação de não se poder explicar Deus, indiretamente nega o principio da imanência e da revelação especial. Ela está mais para fideísmo do que para a fé cristã ortodoxa.Fideísmo é crer dando um “salto no escuro”. Mas Deus trouxe luz acerca de si mesmo através da Escritura. É preciso ter cuidado com determinadas afirmações. Como nos diz Francis Schaeffer:

Ele falou. E o que nos disse? Ele falou apenas sobre as demais coisas? Não, ele nos contou a verdade sobre si mesmo – e, pelo fato de ter nos contato a verdade acerca de si mesmo – de que ele é o Deus pessoal infinito e trino – nós temos a resposta para a existência. Ou poderíamos colocar isto nos seguintes termos: no que diz respeito à metafísica – ao Ser, à existência – a revelação geral e específica falam com uma só voz” (O Deus que se revela, p. 58).

Muito provavelmente a intenção do compositor não foi fazer uma alusão ao deísmo. Perceba que antes de soltar a máxima ele diz que Deus “Se revelou ao seus”. Imagino, baseado na frase que diz “E eu tão pequeno e frágil querendo Sua atenção”, que talvez ele tenha tido a mesma intenção de Paulo ao falar em Romanos 11.33: “Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e do conhecimento de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis, os seus caminhos! Pois, quem conheceu a mente do Senhor? Quem se tornou seu conselheiro?”. É bem verdade que Deus transcende nossa mente limitada e afetada pelos efeitos do pecado. O Senhor é como diz a letra “Dono de toda ciência, sabedoria e poder”. Mas devemos louvá-lo porque Ele também é imanente e se comunicou a nós, revelando coisas sobre a Sua pessoa que nos dão o conhecimento necessário para saber que o pecado o desagrada por violar Sua santidade. E saber disso, impulsionados pelo Espírito que se revela a nós, nos faz correr para Jesus seguros de que nEle os nossos pecados foram perdoados. Temos que louvar ao Senhor pela sua revelação que nos é satisfatória. Atentemos para o que diz Bobby Jamieson:

Como as Escrituras representam fielmente a mente de Deus, seu ensino pode ser reunido em um todo coerente. Podemos resumir o que as Escrituras na sua totalidade dizem a respeito de suas questões centrais – como, por exemplo, o caráter de Deus, o estado da criação, a natureza caída do homem, a obra salvífica de Cristo, a vida da igreja e a promessa do mundo vindouro” (Sã Doutrina, pp. 45-46).

Agora vejamos o último trecho da música:

Ninguém explica
Ninguém explica Deus
Ninguém explica
Ninguém explica Deus
ou se duvida ou se acredita
Ninguém explica
Ninguém explica Deus

Aqui temos a tão conhecida repetição das canções evangélicas contemporâneas. E o pior: repete-se a parte problemática e o fideísmo fica mais explícito: “ou se duvida ou se acredita”. Duvidar e crer não “chutam” a explicação embasada na revelação para o escanteio. A dúvida e a crença tem como base o que foi revelado, conhecido e explicado. Nossa fé não pode ser cega! Cremos naquilo que faz sentido. A Bíblia é um livro que tem um enredo amarrado, que embora seja espiritual possui lógica e nos dá as respostas mais satisfatórias as questões últimas da vida, que são: Por que algo existe ao invés do nada? O que fazemos nesse mundo? Para onde nós iremos? Esta é a fé cristã, meus irmãos. Se não podemos explicar isso, não podemos dizer que os hindus estão errados ao cultuar milhares de deuses, e nem afirmar que os panteístas (que dizem que Deus está contido na natureza) estão equivocados. Logo, quem estaria certo, no fim das contas? Os deístas que categoricamente afirmam que Deus “deu corda” no mundo e depois o abandonou, afastando-se de um modo que ninguém o alcança. Vejam onde é que tal afirmação desemboca.

A conclusão que chego é a de que esta música entra em conflito com aquilo que chamamos de fé cristã histórica e confessional. Ela põe em xeque os concílios, credos e toda formulação teológica que temos em mais de dois milênios de cristianismo. Desaconselho cantá-la pessoalmente. Pior ainda seria usá-la no culto público. Isso não seria nem um pouco recomendável, por conta de seu teor dúbio.

Por: Thiago Oliveira. Revisão: Filipe Castelo Branco. Copyright © Cante as Escrituras 2016. Original:Ninguém Explica Deus – Preto no Branco (Análise)

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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