O diretor e dois agentes penitenciários do Presídio Provisório Professor Raimundo Nonato, na zona norte de Natal, estavam marcados para morrer. Eider Pereira de Brito está à frente da unidade há um ano e disse ter descoberto que um detento havia encomendado os assassinatos a um ex-presidiário, e que o plano não foi executado porque o suposto matador acabou sendo preso dias antes e retornou ao sistema penitenciário.

Adriano AbreuPresídio Raimundo Nonato Fernandes, na zona Norte de Natal, registrou um motim envolvendo 150 detentos entre a noite de ontem e a madrugada desta quarta (31)

“Ainda estamos apurando. Esse presidiário que faria as execuções já havia feito o levantamento das rotinas. O primeiro a ser assassinado seria eu. Esse homem era um ex-detento do nosso presídio”, disse o diretor. Os detalhes quanto ao plano de execuções estão sendo apurados e um relatório ainda será elaborado após as oitivas, e devidamente encaminhado ao juiz da Vara de Execuções Penais, Henrique Baltazar. “Não sabemos quanto ou o que esse detento ganharia”, completou.

O principal motivo para a encomenda dos assassinatos seria devido ao trabalho desenvolvido pela administração da unidade, com revistas e rotinas mais rígidas, adequadas à manutenção da ordem na unidade. “Não alteramos nossa rotina. Em função do nosso trabalho, estamos acostumados a lidar com esse tipo de situação, mas nem por isso deixamos de tomar as devidas cautelas. Se pensamos muito nisso, acabamos sem conseguir viver”, afirmou Eider de Brito, há 14 anos trabalhando no sistema penitenciário do Rio Grande do Norte.

“Depois que a gente descobre [o plano] é que os agentes começam a ligar alguns episódios e se dão conta que já estavam sendo monitorados”, afirma. As informações sobre o plano chegaram à administração através de outros presos, às vezes expulsos de determinados pavilhões ou celas, e mesmo do serviço de inteligência mantido diariamente pelos agentes penitenciários.

Os nomes dos envolvidos já estão com a administração do sistema penitenciário, mas o diretor prefere não revelar até que as investigações e os relatórios sejam do conhecimento da Vara de Execuções Penais. A investigação vai apurar se há outros envolvidos. Durante o motim iniciado no final da tarde dessa terça-feira e que demandou intervenções dos agentes do sistema de segurança e penitenciário até a madrugada desta quarta-feira, a direção da unidade recolheu diversos celulares, droga e objetos que poderiam ser usados contra os agentes ou mesmo para ferir outros detentos.

Um dos detentos transferidos para outra unidade prisional, apontado como um dos líderes do motim, chegou a gritar e ameaçar de morte o diretor Eider de Brito. “Vou matar você e colocar sua cabela na quadra”, teria gritado um presidiário identificado como Yuri, segundo a administração da unidade.

Os agentes identificaram ele devido às tatuagens que tem no corpo. No pavilhão onde ocorreu o motim havia 161 detentos do regime provisório. A direção do Presídio Provisório Professor Raimundo Nonato afirma que a faixa-etária dos detentos é de 25 anos, considerada baixa, e em sua maioria jovens envolvidos com gangues.

“O trabalho da equipe multidisciplinar, com as medidas adotadas desde que cheguei à unidade, fez com que não houvesse fugas este ano aqui no Raimundo Nonato”, salientou o diretor. A administração da unidade conseguiu abortar ao menos seis planos de fugas que deveriam ocorrer somente neste final de ano.