Como diria com esmero de vernáculo um velho e aplicado amanuense, a Eeleição da Câmara Municipal está eivada de mistérios para não dizer de vícios.
A política é assim mesmo. Ou, como diria Samuel Johnson, a boca raramente está de acordo com o coração. E não diria que padece do falso ou do fraudulento.
A linguagem da politica é cifrada, emprenhada de muitos sentidos. Só aos iniciados é dado decifrá-la e compreendê-la entre as intricadas tessituras feitas do dito e do não dito.
Há os que falam para que não falem. E há os que calam num silêncio eloquente que diz tudo sem palavras. É tolice imaginar que os políticos subestimam a fala.
Os políticos matreiros, diga-se, passados na casca do alho. Já os novos, além de tolamente crédulos e ousados, formam a manada que segue o sabido.
Politicar é verbo e tem todos os tempos. E como, além disto, é invenção, é bom não perdê-lo de vista.
Creia Senhor Redator: o que para uns é só uma emoção, noutros é pura cerebração.
Elide Rugai Bastos e Walquiria Leão Rêgo, é bom citar para não deslustrar de todo este raso arrazoado alinhavado ao correr do tempo, iniciam o ensaio sobre ‘A Moralidade do Compromisso’ com uma longa citação de Sócrates diante do júri de Atenas.
O filósofo reclama da incredulidade dos homens diante do corpo e da alma. Para ele, por certo, ‘não é das riquezas que nasce a virtude, mas é das virtudes que provêm as riquezas, e todos os outros bens, tanto públicos como particulares’.
A política, principalmente nas mãos de hoje, é uma arte profana. Não há mais os homens de espírito público que por isso eram líderes de verdade. Estamos diante, com raríssimas exceções, do político-objeto. Ou, se é preciso um pouco de humor a lubrificar a tese, do político-sofá.
Um cliente, Senhor Redator, que por riqueza e despudor, resolve representar o povo. E como um sofá para ser mais atraente e chamar a atenção, mudam-lhe o forro e lhe fazem pregas que realcem suas formas.
O marketing, nesses casos, faz tudo. Gera idéias, formula opiniões, prega-lhe nos lábios o ódio e o amor a isto ou aquilo, e constrói o produto.
Só se conhece o monstro de estupidez e de estultice quando exerce seu mandato. Feito um papagaio com sua linguagem autônoma e repetitiva, logo esquece tudo que disseram: as posições que defenderam, os compromissos que assumiram, as promessas que juraram.
E saem reverberando seus desatinos e desautorizando suas próprias palavras.
Elide Rugai Bastos sabe e lembra: a crítica é tão antiga quanto o homem. O que fere o senso crítico é a apologia, o manto que uns usam para esconder o rosto dos outros.
Se há uma boa maldição permanente sobre a alma humana é o inconformismo que acende o desejo de luta.
Ora, se alguns, por comodismo ou frouxidão, apascentam a vida; outros, lutam. Porque viver é lutar. Para lembrar o grande poema épico de Gonçalves Dias. A luta a quem aos fracos abate e aos fortes só faz exaltar.