NATAL RN-O largo das cinco bocas


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“A rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma! (…) A rua nasce, como o homem, do soluço, do espasmo”, definiu o escritor, jornalista e teatrólogo João do Rio, no início do século XX. Tomando como base o Rio de Janeiro, o autor estudou a boemia, a cultura e as profissões que nasciam nas vielas da cidade. Passado um século, as peculiaridades das cidades se reafirmam, mesmo sob o chão de concreto. Na capital potiguar, por exemplo, encravada em um dos bairros mais recentes da capital, há cinco ruas que convergem para um único ponto, no bairro Barro Vermelho, zona leste da cidade.

Popularmente conhecida como “cinco bocas”, o cruzamento entre as ruas Gustavo Adolfo, Ângelo Roselli, Uruassu e Adauto Câmara, esta desmembrada em dois logradouros, parece confusa para quem vê de longe – entretanto, para quem mora e trafega para o local, as ruas facilitaram o acesso às vias mais movimentadas da região, como a avenida Alexandrino de Alencar e Jaguarari.

“Estas ruas existiam, mas eram fechadas. Aqui passava um riacho vindo do Maristela, que descia até o Potengi. Mas aterraram e fizeram o calçamento em 1997”, relembra o comerciante Luiz Antônio Farias, 55 anos, dono do Mercadinho do Toinho, morador há 46 anos da rua Ângelo Roseli.

Barro Vermelho é um dos bairros mais recentes de Natal, que só ganhou contornos oficiais 1993, após um desmembramento de Lagoa Seca. Historiadores potiguares mostram, porém, que o topônimo já designava a área desde 1797, conforme publica Olavo de Medeiros Filho, em 1991, no livro Terra Natalense.

Magnus NascimentoNo Barro Vermelho, a urbanização do cruzamento entre as cinco ruas Gustavo Adolfo, Ângelo Roselli, Uruassu e Adauto Câmara, esta desmembrada em dois logradouros, é recente, data de 1997No Barro Vermelho, a urbanização do cruzamento entre as cinco ruas Gustavo Adolfo, Ângelo Roselli, Uruassu e Adauto Câmara, esta desmembrada em dois logradouros, é recente, data de 1997

O surgimento de moradias data de meados da década de 1980, quando a região ainda era formada por sítios ou vacarias. Originalmente, segundo os moradores, a região possuía apenas três vias: as ruas Gustavo Adolfo, Ângelo Roseli e Uruassu. A única que dava acesso às casas era a Uruassu, conectada com a avenida Alexandrino de Alencar. As demais eram vias fechadas.

Morador há 47 anos do Barro Vermelho, o ex-professor de basquete Chico Martins relembra que a ocupação daquela região de Natal. “Tudo aqui era terreno e vacaria, pouco povoado. Só tínhamos o posto Santo Expedito, que era de Brilhante (comerciante), e no lugar da Academia de Polícia havia uma creche, e no lugar dos Bombeiros não existia nada, nem a avenida de Prudente de Morais, pois era tudo morro e ninguém via nem o outro lado de Natal”, relembra o aposentado.

Até então, um riacho também cortava a região, atravessando a avenida Régulo Tinoco, conta Chico Martins. “O rio corta o (colégio) Maristella e vai desembocar no Rio Potengi. Havia uma ponte de madeira, uma na avenida Alberto Maranhão e outra onde construíram a rua Adauto Câmara, na rua das cinco bocas”, comenta o aposentado.

Embora hoje não tenha sinalização ou rotatória, os moradores da rua afirmam que a rua é tranquila com relação aos acidentes. “Nestes 20 anos só me lembro de três ou quatro acidentes. A movimentação é maior somente quando o pessoal vai buscar crianças na escola. Era para ter ao menos uma rotatória no meio”, opina Demétrios Vaz, empresário morador da rua Gustavo Adolfo há 33 anos. A reportagem desmembrou um pouco da história das ruas que compõem as cinco bocas do Barro Vermelho.

 O Barro Vermelho,

Na Zona Leste, é um dos bairros mais recentes de Natal, que só ganhou contornos oficiais em 1993. Mas historiadores potiguares apontam que a ocupação da região tem pelo menos 220 anos

Rua Uruassu

Não há informações, porém, sobre qual das cinco ruas foi a primeira a surgir. A rua Uruassu é a única a fazer conexão direta com uma via movimentada: a avenida Jaguarari. Via estreita, ocupada apenas por residências, conecta a avenida Jaguarari ao centro das “cinco bocas” de Barro Vermelho. A via foi  nomeada em homenagem ao massacre de Cunhaú e Uruassu. De acordo com o livro História de Natal, de Luís da Câmara Cascudo, o massacre aos fiéis católicos de Uruassu, um povoado de São Gonçalo do Amarante, ocorreu em 3 de outubro de 1641 durante a ocupação holandesa na capital potiguar. A mando do holandês Jacob Rabbi, as tropas fecharam dizimaram fiéis dentro da igreja para evitar que os ritos católicos se proliferassem.

Rua Adauto da Câmara

Político, advogado, professor, jornalista e historiador. Adauto Câmara, biógrafo de Nísia Floresta, nomeia a rua mais recente das cinco bocas de Barro Vermelho. Segundo os moradores, a rua, que se divide em dois logradouros, foi construída sobre o aterramento de um riacho que passava pela região – obra feita no final da década de 1990. O riacho foi aterrado e hoje se conecta com o Canal do Baldo. “O rio cortava tanto as ruas Adalto quanto Guilherme Adolfo, mas fizeram o aterramento em 1997”, relembra o morador Luiz Antônio Farias. Já a rua virou conexão das casas às ruas Pedro de Barros, que desce em direção à Jaguarari.

Rua Ângelo Roselli

Das cinco bocas é a via mais larga e longa, ocupada por casas grandes. A via desce à esquerda em direção à avenida Régulo Tinoco. Segundo os moradores, a rua ganha volume de tráfego durante os horários de entrada e saída de estudantes da escola Maristella. Foi nomeada em homenagem a Ângelo Roselli (1855-1924), comerciante italiano radicado em Natal, líder da classe empresarial no final do século 19. De acordo com o livro “400 nomes de Natal’, o Roselli contribuiu para a criação da Associação Comercial do RN e para as obras do porto de Natal. Foi tenente-coronel da Guarda Nacional e vice-cônsul da Argentina no RN. Em parceria com Romualdo Galvão, fundou a Companhia do Ferro Carril e instalou a primeira linha de bondes da capital potiguar, em 1908.

Rua Presidente Gustavo Adolfo

A rua parte do centro das “cinco bocas” é uma ladeira de conexão com a rua desembargador Felipe Guerra, abrindo conexão com as avenidas Jaguarari e Régulo Tinoco. A rua é batizada em homenagem a Gustavo Adolfo de Sá, primeiro médico a ocupar o posto de presidente do Rio Grande do Norte, entre 13 de maio de 1867 e 29 de julho 1868, quando o RN ainda era considerado província. Segundo o livro “História de Natal”, de Câmara Cascudo, o governante era “educado, amável” e fundou uma biblioteca pública”, mas não foi bem acolhido pela classe política da capital. “(…) ao sair do Natal, recebendo a maior girândola de foguetes, em regojizo pela sua descida, de que há notícia”, diz Cascudo.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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