NATAL RN-“O ABC tem uma gestão temerária”


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Citado como o presidente que entrou para história do ABC, como único a renunciar ao cargo no clube e taxado de mau abecedista, o conselheiro Leonardo Arruda explicou os motivos pelos quais usa as redes sociais para discutir as questões que os torcedores afligem o alvinegros. Leonardo taxou o rumo que a diretoria está dando as questões trabalhista como bastante perigosas e taxou de temerária a ação da diretoria. O ex-presidente desafia o atual diretor executivo e de finanças, Rogério Marinho, a apontar o nome das pessoas que dilapidaram o ABC e torce para que Rubens Guilherme Dantas assuma seu papel e cumpra o mandato até o fim. Também classificou de amadora o comportamento nas negociações contratuais com os atletas e citou o caso de Gilmar como um exemplo de como não se deve formular um contrato. Leia os principais trechos da entrevista que Leonardo Arruda concedeu ao programa Esportes em Debate, da Rádio Globo Natal, e para TRIBUNA do NORTE.

emanuel amaralLeonardo Arruda, ex-presidente e conselheiro do ABCLeonardo Arruda, ex-presidente e conselheiro do ABC

Rogério Marinho citou seu nome por diversas vezes o acusando de realizar campanha sistemática contra o ABC. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Lamento ter de estar aqui respondendo essa pergunta, justamente na semana de um clássico ABC x América, por uma questão moral já que eu fui citado injustamente pelo dirigente em questão. Venho defender meu conceito, minha história dentro do ABC e a minha moral. Essa minha entrevista tem o caráter explicativo e, com ela, não pretendo tumultuar o ambiente no clube. Gostaria que a torcida entendesse isso, pois fui ferido na minha honra e na condição de ex-presidente abecedista e conselheiro nato da instituição. Fui tratado de forma debochada, com adjetivações, mas talvez Rogério Marinho tenha feito isso por desconhecer a minha história junto do ABC. Tenho vida ativa no clube desde 1978, participei da administração de vários presidentes e nunca fui menos que vice-campeão.

Ele disse que o seu grande fato histórico no clube, é o de ser o único presidente que tenha renunciado ao mandato. Por que ocorreu a desistência do cargo?
Em 1998, eu formei uma equipe campeã com a minha diretoria sem necessitar de empresários de estimação. Quando faltavam apenas duas semanas para o término do Estadual e o ABC com seis pontos na frente do seu principal rival eu renunciei a presidência porque sabia que estava entregando a administração em muito boas mãos, que eram as de Judas Tadeu, que na época era o meu vice-presidente administrativo. Judas conseguiu dar sequência ao trabalho, foi muitas vezes campeão e chegou ao tetra. Minha história é muito mais ampla do que ele sabe.

E quanto a fala em tom de ameaça, onde ele ressalta saber quem dilapidou o ABC?
Acredito que ele tenha realizado uma acusação bastante vaga ao dizer isso. Acredito que pode ter deixado muitos ex-presidente, com trabalhos bem relevantes ao ABC, em questão. Mas se no caso ele estiver se referindo a mim, pode falar. Ele já deveria ter dito isso na entrevista que deu semana passada. Com todo respeito que merece o nobre deputado, com quem sempre tive um bom relacionamento, mas ele não pode chegar numa rádio e querer me desqualificar, debochar da minha pessoa da maneira como ele fez. Eu repilo a atitude dele, mas não vou devolver adjetivos e não vim aqui para alimentar um debate estéril com ele e nem vou dizer desaforo. As acusações que estão sendo feitas a atual administração, são todas oriundas da ausência de explicações daquilo que está sendo realizado no clube por parte da diretoria.

Mas afinal, você faz parte daquele grupo que a diretoria abecedista diz, estar contra o ABC?
Eu acho que quem está contra o ABC é a atual diretoria, pelas aberrações que vêm sendo feitas. Quem viveu os momentos que eu vivi dentro do ABC, jamais será capaz de acreditar que eu estaria em algum momento contra o clube.

Por qual motivo seu nome é mal visto pela atual diretoria?
Não sei. Na verdade Paiva Torres que ajudou a atual gestão conhece bem meu trabalho dentro do ABC. Talvez esses que estejam ai, no período que eu me encontrava nessa linha diretiva, talvez nenhum estivesse ainda no clube. Meu discurso sempre foi de total apoio ao ABC e nas vezes em que fui convocado, nunca faltei.

Poderia ser por que você questiona as contas do clube com alguma veemência?
Foi solicitado ao conselho deliberativo uma licença para o ABC negociar dez apartamentos cedidos ao clube na transação daquela área ao lado do campo do CT.  O mínimo que poderia ter sido feito para dar algum tipo de satisfação aos conselheiros era prestar as contas do produto da negociação, mas isso nunca foi feito. Ninguém sabe até hoje o que se sucedeu aquela autorização. Não temos informações e não sabemos se já foram vendidos, quem os vendeu, quem comprou e por quanto comprou. Todas as informações de prestação de contas que pedíamos no fórum apropriado, que são as reuniões do conselho, nos foram sonegadas.

E o motivo do debate dos problemas do clube pelas redes sociais, quais são?
Isso passou a ocorrer pelo mesmo motivo, falta de prestação de contas. No início de 2014, o conselheiro  Antônio Pinto de Medeiros Neto levou alguns problemas a debate reclamando da falta de transparência e informações sobre o que acontece dentro do clube. Ele listou uma série de respostas que a diretoria necessitava dar aos conselheiros e toda cúpula diretiva estava presente na reunião. Como disse isso ocorreu no início do ano passado e até agora não houveram respostas. Em março um grupo de 21 conselheiros, do qual eu fiz parte, com base naquilo que Antônio Pinto havia levantado, fez um requerimento para o presidente do conselho, Ivis Bezerra, para solicitar a direção do clube as explicações. A época coincidiu com aquela questão da multa contratual que Roberto Fernandes tinha com o ABC, nós pedimos também essas explicações, lembro que Rubens Guilherme estava de licença, e simplesmente esse contrato do ABC com o treinador não foi encontrado no clube. A questão é muito difícil. Quem ousa pedir explicações atualmente é taxado de mal abecedista e torcer contra o clube. É justamente isso que levamos para as redes sociais.

Hoje o ABC enfrenta problema com o contrato firmado com a Arena das Dunas, quer revisão e parece que as partes estão em litígio. Na época seu grupo fez oposição, então o que acha disso agora?
Realmente nós fomos contra. E fomos taxados com o mesmo adjetivo de sempre: maus abecedistas. Disseram na época que a modernidade do clube seria a Arena das Dunas. Eu cheguei a levar para o conselho e entregar à diretoria uma lei municipal, liberando a cessão da área ao governo estadual para assinatura da PPP permitindo a construção da arena, dizendo que:  o consórcio vencedor da licitação para construção da nova praça esportiva daria preferência a utilização da mesma para os clubes filiados a Federação Norte-riograndense de Futebol (FNF). Para tanto, bastava a federação solicitar a reserva do estádio 72 horas antes do jogo. Eles não quiseram nem ver, mas a partir dessa lei teria de se discutir apenas qual a forma de remuneração na utilização do estádio.  O ABC tinha um estádio, nosso grupo não era contra o clube usar a Arena, mas apenas não poderia ser feito através de um pacote fechado de jogos. A comissão técnica era quem deveria escolher as partidas que mandaria fora do Frasqueirão. Existem clubes que nós não podemos entregar um campo neutro.

Você foi taxado como futriqueiro das redes sociais. Como encara isso?
O diretor que disse isso é carecedor de condições de dirigir esse tipo de críticas a mim, o senhor Rogério Marinho.

Condições morais?
Também. Eu repilo por que ele não tem condições de fazer esse tipo de crítica. Não estou devolvendo desaforo para ele, já disse que minha intenção aqui não é essa.

E com relação as ações na Justiça, existe mesmo uma enxurrada?
Essas ações quando a gente perguntava viviam dizendo que eram oito ou dez. Mas já passam de 50 casos reclamados na Justiça do Trabalho. Quem leu a decisão da juíza concedendo a liminar de desvinculação do atacante Gilmar do ABC, entende que as contas do ABC não estão equacionadas e que o clube tem muitos problemas. Não foi depositado um só mês de FGTS de Gilmar, isso não está ocorrendo de forma isolada, eu acredito. Então a gente não pode concordar com essas coisas por medo ou receio de ser chamado de futriqueiro pelo seu Rogério Marinho.

E o tipo de contrato assinado pelo ABC com Gilmar?
Confesso que isso foi o que me deixou mais estarrecido. Eu não acredito que bons abecedistas possam fazer um contrato da maneira como foi feito aquele com o atacante Gilmar. É de uma aberração sem precedentes esse documento. É um contrato secreto, tem cláusula de confidencialidade, que é uma burla ao contrato normal de um atleta registrado nos órgãos esportivos. Gilmar estava sem clube na época em que veio para o ABC, fez apenas alguns bons jogos, poucos. Mas acabou sendo tratado como a estrela da companhia pelo tipo de contrato firmado, que previam gatilhos de reajuste e que já se encontrava em R$ 45 mil, partindo de R$ 25 mil. Se o time subisse para série A ele ganharia ainda um reajuste de mais 20%.

O que a gente está vendo, pelo que vem sendo exposto, é um completo amadorismo na formulação desse contrato. Logo você considera a atual gestão como temerária ao clube?
Acredito que ela seja sim. Eles não estão tendo o zelo necessário com as questões do clube, a gente não sabe quem comanda o ABC na realidade. Além da premiação normal que todo atleta teria em caso de acesso, Gilmar ganharia mais R$ 30 mil do clube. Com medo  de perder o jogador para outro clube, ainda fixaram a multa rescisória em R$ 600 mil e posteriormente para R$ 1 milhão em caso de ruptura de contrato. E o que acabou acontecendo: o jogador saiu para o maior rival sem pagar nada e ainda move uma ação trabalhista que pode chegar ao mesmo R$ 1 milhão contra o ABC. São certas coisas que a gente não concorda.

Você teve acesso a carta de renuncia de José Wilson, que era vice-presidente jurídico do ABC até o final do ano passado?
Tive e lamentei essa perda. Ele entregou o cargo no dia 24 de dezembro último e apenas esse final de semana foi efetivado outro para ocupar a vaga. José Wilson destacou o grande número de ações trabalhistas envolvendo o clube nos últimos três anos. Não foi Leonardo e nenhum outro mal abecedista quem disse isso, foi a pessoa que zelava e trabalhava diretamente para proteger o patrimônio do ABC.

Se a gestão é temerária, vocês não tem como pedir o impedimento da atual direção? O estatuto não prevê isso?
Eu não quero o impedimento de Rubens Guilherme, não tenho nada contra ele, mas acho apenas que ele está delegando competência demais e perdeu o controle da situação. Tenho a impressão que algumas coisas que estão ocorrendo no ABC, não sejam do conhecimento do presidente.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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