Natal RN; Em depoimento, preso antecipou que facção iria ‘tocar fogo em ônibus’
Um preso antecipou que uma facção ordenaria ataques a ônibus de dentro dos presídios do Rio Grande do Norte. No depoimento, dado a promotores de Justiça do Ministério Público Estadual, o detento afirma que a organização criminosa a qual pertence poderia “parar o estado”, “tocar fogo em ônibus” e que possui vasto armamento, inclusive fuzis de grosso calibre. Os nomes da facção e do preso serão preservados.
O documento obtido pelo G1 faz parte da denúncia do Ministério Público no processo referente à Operação Alcatraz, que investiga a atuação de organizações criminosas nas penitenciárias de quatro estados.
O detento falou ao MP sobre o assunto em outubro do ano passado em depoimento prestado na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, a maior unidade prisional do estado, que fica em Nísia Floresta, na Grande Natal.
Os ataques a ônibus em Natal aconteceram na última segunda-feira (16) em meio a uma onda de rebeliões que atingiu 14 das 33 unidades prisionais potiguares. Os motins ocorreram entre 11 e 18 de março e geraram uma crise que levou à exoneração do secretário estadual de Justiça e Cidadania, Zaidem Heronildes da Silva Filho. A suspeita é de que a ordem para incendiar ônibus tenha partido de dentro dos presídios.
No depoimento ao MP, o detento disse que “se mandar parar o estado, os presos param. Que não vai acontecer outra greve de forme, pois o preso só faz perder tempo passando mal e vão fazer de outra maneira, se juntando para dar ataque no meio da rua, fechar uma BR e tocar fogo em ônibus. Que não falta arma, tem doze fuzis dentro do estado, calibre 762…que o próximo passo é ataque no meio da rua” (sic).
O preso também cita uma greve de fome que envolveu mais de dois mil presos em seis unidades prisionais do estado no ano passado. De acordo com o detento, a greve foi acordada entre duas facções que atuam nos presídios do estado e a ordem partiu da rua. Na ocasião, a Secretaria Estadual de Justiça e Cidadania (Sejuc) identificou e transferiu 15 presos considerados líderes de uma facção que supostamente comandou a greve de fome.
estados (Foto: Matheus Magalhães/Inter TV Cabugi)
Operação Alcatraz
A Operação Alcatraz foi deflagrada no dia 2 de dezembro e cumpriu 223 mandados de prisão em 15 cidades potiguares e também nos estados da Paraíba, Paraná e São Paulo. Destes, 154 foram contra pessoas que já estão encarceradas. Ao todo, 161 pessoas já foram denunciadas pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte por suspeitas de crimes de tráfico de drogas, associação para o tráfico e organização criminosa – todas elas, segundo as investigações, associadas com duas facções que estariam ditando regras e comandando diversos crimes de dentro dos presídios do estado.
As duas facções, de acordo com as denúncias, surgiram a partir de uma organização criminosa que nasceu em São Paulo. No dia 7 de dezembro o ‘Fantástico’ exibiu gravações que mostram como esta facção vende drogas no Nordeste.
As denúncias feitas até agora apontam a existência de organizações criminosas dentro do sistema penitenciário estadual desde 2003. Na ocasião, “diversas fontes” relataram ao MP a existência de uma facção dando as ordens na Penitenciária João Chaves, na Zona Norte de Natal. Desativada em 2006, a unidade ficou conhecida como “Caldeirão do Diabo”.
operação (Foto: Felipe Gibson/G1)
Crise
Os motins só acabaram após um acordo entre representantes da Justiça, Ministério Público e Comissão de Direitos Humanos com cinco porta-vozes do movimento responsável pelas rebeliões. Após a crise, pediram também exoneração o coordenador de Administração Penitenciária, Leonardo Freire, e o diretor do Presídio Estadual Rogério Coutinho Madruga, Osvaldo Rossato. Os novos nomes foram anunciados na sexta-feira (20).
Na Zona Norte de Natal, quatro unidades registraram rebeliões. Também aconteceram revoltas no CDP da Ribeira, na Zona Leste de Natal; na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta; no Presídio Estadual Rogério Coutinho Madruga, também em Nísia Floresta; e na Penitenciária Estadual de Parnamirim (PEP), em Parnamirim.
interior do estado (Foto: Divulgação/PM-RN)
No interior foram registrados motins na Penitenciária Agrícola Mário Negócio e na Cadeia Pública, ambos em Mossor, no CDP de São Paulo do Potengi, na região Agreste; na Penitenciária Desembargador Francisco Pereira da Nóbrega, o Pereirão, em Caicó; na Cadeia Pública de Caraúbas; e na Cadeia Pública de Nova Cruz.
Além de unidades prisionais, a onda de rebeliões atingiu o Centro Educacional (Ceduc) de Caicó, na região Seridó. De acordo com a PM, 25 menores infratores mantiveram quatro educadores reféns na noite desta terça (17). APM invadiu o local e libertou as vítimas na manhã desta quarta (18).
Ataques a ônibus
Em meio à crise, 4 ônibus foram incendiados na noite de segunda-feira (16) em Natal. A Secretaria de Segurança informou que havia a suspeita de que a ordem para os ataques partiu de dentro dos presídios. Criminosos ordenaram que funcionários e passageiros deixassem os veículos antes de colocarem fogo.
Um carro da PM também foi incendiado em Natal.
Os ataques levaram as empresas de ônibus a recolher a frota de veículos. Algumas escolas de Natal decidiram suspender as aulas.
Reforço da Força Nacional na Base Aérea de Natal
(Foto: Invanízio Ramos/Assecom)
A situação foi contornada com o envio de 215 homens da Força Nacional para reforçar a segurança.
O governo também recebeu reforço de dois helicópteros, da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Força Nacional para as missões de patrulhamento.
A secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki, afirmou que não há prazo para a permanência dos homens da Força Nacional no estado e, se houver necessidade, será enviado mais efetivo. “Nós somos mais fortes que o crime organizado”, disse.
Comentários com Facebook