Macau RN; FHC foi alertado em 1996 de que Petrobras era um ‘escândalo’


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O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso revela, em “Diários da Presidência – volume 1″, que foi alertado em 16 de outubro de 1996 de que um “escândalo” acontecia na Petrobras. O assunto foi tratado num almoço entre FH e o dono da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Benjamin Steinbruch. O executivo havia sido nomeado por Fernando Henrique para o conselho da estatal.

“Eu queria ouvi-lo sobre a Petrobras. Ele me disse que a Petrobras é um escândalo. Quem manobra tudo e manda mesmo é o Orlando Galvão Filho, embora Joel Rennó tenha autoridade sobre Orlando Galvão”, diz FH no livro, que será lançado no dia 29.

Galvão Filho era presidente da BR Distribuidora e foi diretor financeiro da Petrobras. Rennó era o presidente da estatal.

FH cita que o mais grave na estatal era “que todos os diretores da Petrobras são os mesmos do conselho de administração”, sugerindo um uma má prática de governança e um jogo de cartas marcadas nas decisões da empresa.

“São sete diretores e sete membros do conselho. Uma coisa completamente descabida”, segue o relato do ex-presidente sobre a conversa com Steinbruch.

FH relata que havia necessidade de “intervenção” na estatal, mas, apesar da gravidade do fatos, ele não a faria.

“Acho que é preciso intervir na Petrobras. O problema é que eu não quero mexer antes da aprovação da lei de regulamentação do petróleo pelo Congresso, e também tenho que ter pessoas competentes para botar lá”, confidencia o ex-presidente.

Em outra passagem no livro, Fernando Henrique diz que o desejo dele era nomear o economista Andrea Calabi para o cargo de diretor financeiro da Petrobras, porque ele “tinha que ter alguém lá”. Mas Calabi não aceitou o convite.

TENSÃO COM O CONGRESSO

Uma tensa relação com o Congresso é narrada no livro em seus dois primeiros anos de Presidência, que influenciou, por exemplo, a montagem de seu ministério. Na obra – resultado de gravações feitas diariamente pelo próprio FH desde o dia de sua posse, em 1 de janeiro de 1995 – não faltam críticas ao PMDB, ao PFL, ao PT e aos movimentos sociais. Mas, são as dificuldades de lidar com o presidencialismo de coalizão que se destacam no pensamento de FH.

Já no prefácio do livro, que será lançado no dia 29, FH faz comparações entre as dificuldades de seu período de governo e as atuais. As dificuldades, segundo ele, são, em geral, as mesmas. Fernando Henrique admite que, mesmo resistindo, o presidente não escapa do “intrincado jogo do poder”, muitas vezes “clientelístico”, que leva a um desgaste com os partidos por um motivo simples: enquanto o presidente é eleito por mais de 50% dos votos, seu partido, geralmente, beira 20% das cadeiras do Congresso e se vê obrigado a ceder às alianças.

O modelo de comportar aliados na Esplanada perdura até hoje. Recentemente, a presidente Dilma Rousseff fez uma reforma administrativa em que aumentou os poderes do PMDB.

A primeira pessoa que FH procurou para montar seu ministério foi seu colega de partido Tasso Jereissati. Depois, falou com sua equipe econômica, Sérgio Motta, José Serra e Eduardo Jorge Caldas Pereira, ainda sem oferecer cargos a eles.Antes de ouvir o PSDB (Pimenta da Veiga, presidente do partido, estava nos Estados Unidos), procurou PFL e PTB, Antônio Carlos Magalhães e Luís Eduardo Magalhães. Acatou a indicação de Raimundo Britto (Minas e Energia), feita por ACM, e de Odacir Klein (Transportes), pelo PMDB. Para agradar o PFL, indicou Reinhold Stephanes para a Previdência e Gustavo Krause para o Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Em suas memórias, FH faz questão de dizer que os nomes foram escolhas suas, embora reconheça que contemplem o partido. Também se preocupou em reunir ministros que viessem do Nordeste. Procurou Ciro Gomes, que declinou, e aceitou a indicação feita pelo PMDB de Cícero Lucena, da Paraíba, para a secretaria de Políticas Regionais. Para ter um representante de Minas Gerais, Fernando Henrique conversou com Itamar Franco e Eduardo Azeredo. Ao receber referência de Azeredo, que citou o nome de Aécio Neves, então deputado federal, FH escreve: “Respondi que achava difícil porque, quando se pensa em deputados, ao invés de facilitar, dificulta”.

FH reclamou, na época, de tanta especulação.

“A responsabilidade é minha, a decisão é minha, mas não vou fazer um ministério sem levar em consideração a realidade política. Com a experiência dos últimos anos sei que, se não existe base de apoio político, é muito difícil o governo fazer as modificações de que o Brasil necessita”.

FH rebateu notícias da imprensa, já no início do seu mandato, que falavam em loteamento ministerial.

“Não estou loteando nada. Estou simplesmente fazendo o que disse que faria: buscaria o apoio dos partidos políticos, das forças políticas da sociedade, e o faria para poder governar tendo em vista a competência técnica”, relatou.

A dificuldade de formar a equipe econômica para dar continuidade ao Plano Real permeou os primeiros meses de governo. Tasso sugeriu Serra para o Ministério da Fazenda e FH diz que receava colocar Serra na Fazenda porque isso “seria provocar um impasse porque praticamente todos haviam feito restrições ao Serra, não à sua competência, mas ao seu estilo”.

FH achava que Serra deveria ir para uma área social porque ele tinha “futuro político, eleitoral, diferentemente dos outros da equipe econômica, e não há de ser através da economia que vai granjear prestígio popular”.

Serra acabou ficando com a pasta do Planejamento, mas depois foi para a Saúde.

DIFICULDADE COM A BASE

Sobre a dificuldade com a base aliada, FH cita um caso, de 8 de março de 1996. O governo acabara de perder, na Câmara dos Deputados, a primeira votação da reforma da Previdência por 14 votos. Na avaliação de aliados do tucano, o PMDB foi um dos principais responsáveis. FHC cobra uma atuação firme do PSDB na Câmara dos Deputados, ameaçando tirar apoio político nas eleições municipais daquele ano e, até, cargos no governo.

“No Senado temos cinquenta votos seguros, o que dá dois terços. Eu tenho medo da Câmara e do PMDB, porque aí tem manobra. Tem manobra do Sarney, do Paes de Andrade, que está totalmente contra (…) essa coisa tão velho meu Deus, tão sem sentido. O país pronto para decolar e eu aqui perdendo tempo”, relata ele.

No mesmo dia, lembra FH, um outro embate com o ex-presidente José Sarney, que, na época, comandava o Senado. Alguns dias antes, FH descobre que Sarney e o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) manobraram para criar a CPI dos Bancos, que investigaria irregularidades na compra do Banco Nacional. FH diz que Sarney está querendo atacá-lo porque seria candidato à Presidência três anos depois, em 1998.

“Essa CPI (dos bancos) é realmente uma falta de juízo absoluto, e o presidente Sarney atuou de maneira inconsequente. (…) Foi uma manobra para abalar meu poder, para me limitar politicamente, me atingir indiretamente”.

Mais adiante, diz: “Estou perdendo muito tempo com o Congresso, com nhe-nhe-nhém, como eu digo”.

RECLAMAÇÕES DA PF

Um momento de convergência com ACM se deu durante o escândalo da Pasta Rosa — esquema que envolveu doações a políticos nordestinos pelo extinto Banco Econômico, na eleição de 1990, quando era proibido este tipo de doação. Antônio Carlos Magalhães se mostrou, relembra FH, irritado com as investigações da Polícia Federal, que intimaram Luís Eduardo para depor. O então presidente concordou:

“A Polícia Federal foi além dos limites nesse tipo de mesquinharia, e com Antonio Carlos estão fazendo uma coisa que não é correta. (…) Em todo caso, o procurador (Brindeiro, chamado de engavetador no governo dele) colocou um ponto final nisso”.

TEMER, LULA E MST

O livro traz diversas opiniões de FH sobre políticos, como o atual vice-presidente Michel Temer, na época líder do PMDB na Câmara dos Deputados. Candidato à presidência da Câmara, Temer foi classificado como “inseguro nas coisas” por FH, que preferia seu colega de partido, Aloysio Nunes.

A relação com PT sempre foi de oposição.

“O PT é muito bom para governar município, comuna. Deixem que governem e aprendam, mas não vai haver crescimento do PT” – isso quando fala da eleição de 1996. Diz ainda que a “razão pela qual o Lula não constitui um polo de oposição viável é a falta de um projeto mas também porque o PT é um partido excludente. Ele não faz aliança”.

Ao conversar com Francisco Weffort, antes de convidá-lo para o ministério da Cultura, FH diz “Olha, Welfort, acho que seria muito importante nós mantermos uma relação muito fluída com o PT porque há problemas nacionais que nós temos que levar em conjunto”.

Os movimentos sociais que dariam muito trabalho a FH nos seus oito anos de governo também não escaparam às críticas.

Em 1995, numa discussão sobre o MST, FH classificou-o como “um movimento arcaico, é como se fosse Antônio Conselheiro outra vez. Mas em Sarandi eles juntaram 20 mil pessoas, ou seja, num momento de aflição na área rural, esse movimento pode dar trabalho”.

Trechos do livro publicados pela revista “Piauí” na semana passada mostraram ainda que Fernando Henrique recusou nomeação de Eduardo Cunha para a Petrobras.

O Globo

Blog do BG: http://blogdobg.com.br/#ixzz3p9imvz2U

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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