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internet-brasil

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Uma das coisas mais interessantes no presente momento é a incapacidade de reverter o golpe de estado pela via democrática. O golpe de 1964 foi violento, pois a violência da resistência era presumida pelos militares golpistas (mesmo que não tenha ocorrido). Em 2016 o artifício empregado para rasgar a constituição foi apenas a violência simbólica.

Nos últimos anos um punhado de deputados, senadores, juízes, jornalistas e empresários de comunicação construíram um cenário em que, apesar das evidências que comprometem todos os partidos, apenas o PT seria sacrificado no altar da moralidade em razão da corrupção atribuída a Dilma Rousseff. O maior crime dela, porém, foi justamente combater a corrupção generalizada ameaçando as lideranças da oposição.

Os blogues e blogueiros de esquerda, assim como milhões de militantes virtuais no Facebook e no Twitter denunciaram os golpistas e se levantam contra a farsa do Impedimento. A ineficácia da resistência democrática ao golpe, porém, é evidente e deve ser reconhecida.

A disputa simbólica não foi capaz de impedir o crescimento do consenso fabricado em torno da necessidade de afastar Dilma Rousseff da presidência. Os principais articuladores do golpe no parlamento e na cúpula do Judiciário jamais se sentiram intimidados em razão das ações em defesa da democracia. Nem mesmo a ausência de reconhecimento oficial do governo interino pela imprensa internacional parece incomodar Michel Temer, José Serra e Gilmar Mendes.

O único episódio que fez tremer o governo interino e sua base de sustentação midiático/parlamentar/judiciária foi a reclamação formal de Lula ao Tribunal de Direitos Humanos da ONU e sua imensa repercussão internacional. A aparência de legalidade do golpe, contudo, ainda não foi desfeita. Para que isto ocorra Dilma Rousseff terá que trilhar o caminho aberto por Lula.

Entre 1964 e 2016 uma verdadeira revolução tecnológica aconteceu. Hoje mais da metade dos brasileiros tem acesso à internet. A produção, circulação e crítica dos conteúdos postados no ciberespaço ocorrem com uma liberdade inimaginável há 50 anos. O poder simbólico das empresas de comunicação não é mais o mesmo. Em tese a resistência democrática deveria ter sido mais eficiente do que efetivamente foi. Onde falhamos?

A falha talvez esteja na ilusão de que o poder político se deslocou do Estado para a internet e de que as manifestações de rua se tornaram irrelevantes. A massa crítica da resistência ao golpe de 2016 não foi atingida justamente porque a rua não foi capaz de reproduzir a guerra virtual entre os defensores da democracia e os agentes do caos  institucional liderado por Eduardo Cunha, Michel Temer e Gilmar Mendes.

Em 1975 o escritor  Roberto Vacca disse que “…o emprego dos computadores eletrônicos não pode, por si só, resolver os problemas de gestão, administração, organização e estrutura – cuja confusão está provocando a ingovernabilidade e a instabilidade dos grandes sistemas.” (A Próxima Idade Média, Roberto Vacca, Editora Pallas S/A, Rio de Janeiro, 1975, p. 87).

Pouco antes de proferir esta conclusão, Vacca afirma que “Apraz a quase todos os homens obter o máximo de resultado com o mínimo de esforço e, pois, não é de espantar se muitos responsáveis por decisões importantes esperam evitar trabalho pesado e esforços de imaginação e preferem optar pela adoção de um computador eletrônico, que, deverá assegurar a direção otimizada do sistema e garantir, com a sua flexibilidade, o alcance imediato das soluções e a fácil modificação dos programas para se dar conta de idéias novas que, no entretempo, possam ser materializadas. Deveria, pelo contrário, ser óbvio que em loterias desse tipo jamais se vence.” (A Próxima Idade Média, Roberto Vacca, Editora Pallas S/A, Rio de Janeiro, 1975, p. 78).

A importância da internet na Primavera Árabe é um fato bem documentado. Em países como a Líbia, por exemplo, uma verdadeira revolução violenta originou-se primeiramente na internet. Em fevereiro de 2011 “… inspirados pelos manifestantes de Túnis e do Cairo – o rais egípcio havia deixado seu palácio uma semana antes – os líderes das manifestações decretaram, via rede social Facebook, um ‘dia de cólera’, cuja onda de conflitos abala cerca de meia dúzia de cidades. Protegido por seus milicianos, o regime de Kadafi reprime as manifestações com balas reais; o que faz as manifestações cívicas se transformarem em motim, e depois em rebelião armada.” (O Século de Sangue 1914-2014, Emmanuel Huecht – Pierre Servent, Editora Contexto, São Paulo, 2015, p. 239)

No Brasil, porém, a ilusão do poder da internet está apenas apressando o fim de nossa democracia. A grande questão colocada neste momento para a esquerda é como recuperar as ruas para recuperar o valor da soberania popular que foi seqüestrada por uma quadrilha de parlamentares, senadores, juízes, jornalistas e donos de empresas de comunicação. A ação de Lula na ONU, que fez tremer a nova tirania, funcionará como uma nova ilusão tão sedutora quanto a internet desmobilizando a esquerda? Esta meus caros é a verdadeira pergunta.

A internet foi um instrumento de desconstrução do poder na Líbia. No Brasil o ciberespaço forneceu à esquerda apenas uma ilusão de poder. Ao trocar a rua por uma loteria em que jamais se consegue vencer disputas políticas, os defensores da democracia apressaram a derrocada de Dilma Rousseff com consequencias que serão ainda mais trágicas para o próprio PT.

 

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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