Blog do Levany Júnior

MACÁIBA RN-Saúde: deficiência na reabilitação

171202Ricardo Araújo
Repórter

Aos doze anos de idade, Lázaro (nome fictício), não entende as dificuldades que sua mãe, a dona de casa Francisca Auzenira, enfrenta para levá-lo semanalmente ao Centro Especializado em Reabilitação, o antigo CRI, em Natal. Acometido por paralisia cerebral, teve o desenvolvimento intelectual e motor tolhido pela patologia. Seu corpo franzino e comprido não cabe mais na mesma cadeira de rodas que usa há pelo menos uma década. Enquanto o novo equipamento locomotor não chega, numa espera que se arrasta por quase três anos, sua mãe lamenta o descaso e afirma que quem “precisa de uma severa reabilitação é o próprio Centro”. O drama de Francisca e do filho, porém, não é exclusivo. É o reflexo de como hoje funciona o primeiro Centro Especializado em Reabilitação do estado, inaugurado em 1990, cuja escassez de profissionais coloca tratamentos  em xeque, numa estrutura física sucateada, para onde serão levados os bebês com microcefalia recentemente nascidos no estado.

Ana SilvaPacientes que precisam de atendimento sofrem com a espera por equipamentos e estrutura

 

Limpando o filho num dos corredores da unidade, pois a velha cadeira de rodas não passa na porta dos banheiros reformados há pouco mais de um ano, Francisca Auzenira resumiu, em poucas palavras, o que é depender do Centro. “Hoje, eu vejo o CRI num dilema. Faz três anos que eu luto para conseguir fisioterapia integral para o meu filho e não consigo. Você consegue entender o que é ver seu filho atrofiando?”, indagou emocionada.  Na quinta-feira passada, ele fez a última sessão de fisioterapia do ano. Os últimos 30 minutos de um tratamento que deveria ser quase que diário. “Só volta em fevereiro. Não tem profissional. Quando tem, falta o equipamento. Tudo aqui é dificuldade”, assegurou. Além da cadeira de rodas, Lázaro aguarda um par de órteses para que suas pernas não atrofiem ainda mais. A data de entrega dos equipamentos, porém, é uma incógnita.

As histórias dos pais que recorrem ao antigo Centro de Reabilitação Infantil parecem compor um único enredo. Pais e mães se emocionam ao falar do que julgam “humilhante”. “Fiz um cadastro em 2013 e ainda não recebi nada. A previsão que deram não foi cumprida”, disse Edilaine Cristina, mãe de uma menina de oito anos de idade, portadora de hidrocefalia e mielomeningocele, que também anseia por uma cadeira de rodas. Há pelo menos um ano, a filha de Edilaine espera por atendimento fisioterápico. “Não tem dentista, pediatra, neurologista. Não tem nada. Hoje, ela só faz acompanhamento com a fonoaudióloga. Uma vez por semana e por meia hora”, frisou. Por causa dos problemas causados pela falta de profissionais no Centro, Edilaine Cristina disse que a filha regrediu o quadro evolutivo e desaprendeu a deglutir.

Nomeado para a direção-geral do CER em março deste ano, o fisioterapeuta Sarcinelli Clemente Araújo Avelino, esclareceu que a licitação para a compra de mais cadeiras de rodas e para banho está em curso e, algumas da licitação antiga, começaram a ser entregues. Hoje, conforme dados do próprio CER, pelo menos dois mil pacientes aguardam equipamentos que devem ser doados pela instituição. Quanto à falta de profissionais, o diretor-geral argumentou que “o problema é gerado, infelizmente, pela não realização de concursos públicos”. Indagado se o remanejamento de especialistas de outras unidades estaduais não mitigaria a crise, ele foi taxativo: “A solução não é essa. A solução é concurso público”.

Diferente da concepção original, o CER hoje não é um centro de pesquisa científica, de treinamento e formação de especialistas. É um dos únicos do país financiado exclusivamente por recursos do Tesouro Estadual e União, mas não consegue ser uma instituição modelo.

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