‘Inteligente e dissimulado’, diz delegado sobre assassino de zelador
Edição do dia 08/06/2014
08/06/2014 21h14 – Atualizado em 09/06/2014 00h38
‘Inteligente e dissimulado’, diz delegado sobre assassino de zelador
Equipe do Fantástico assiste vídeo em que Eduardo Martins confessou ter matado a vítima com uma criminóloga, um psicólogo e um psiquiatra.
O assassinato do zelador Jezi de Souza, em São Paulo, teria sido um crime premeditado? Para a polícia, o homem suspeito de matar o zelador ainda não falou toda a verdade.
“Desde o início, nós observamos que ele é um indivíduo inteligente e dissimulado”, afirma o delegado Ismael Rodrigues.
Para a polícia, esse é o perfil de Eduardo Martins. Segunda-feira passada, ao ser preso, ele confessou ter esquartejado o corpo do zelador do prédio onde morava com a mulher – a advogada Ieda Martins – e com o filho de 10 anos do casal.
Eduardo Martins: No domingo, foi quando eu preparei tudo, deixei tudo pronto. Pra ver o que eu ia fazer. Foi quando eu decidi cortar ele.
Policial: Você cortou com o quê?
Eduardo: Com serrote.
“Ele não sorri, ele não chora, ele não tem remorsos, ele não tem sentimentos, absolutamente”, analisa o delegado.
Como especialistas criminais descreveriam uma pessoa que comete um crime como esse?
A polícia gravou um vídeo esta semana mostrando que o principal suspeito desse crime confessou ter matado a vítima. A equipe do Fantástico assistiu a esse vídeo com uma criminóloga, um psicólogo e um psiquiatra.
A gravação tem cerca de 10 minutos. Eduardo diz que na sexta-feira, 30 de maio, brigou com o zelador Jezi Souza, um senhor de 63 anos, nascido no interior baiano. E que a discussão aconteceu na porta do apartamento dele, na zona norte da capital paulista.
Eduardo: Numa dessas que puxou, eu empurrei ele, ele bateu a cabeça na quina da… No batente da porta, caiu eu e ele pra dentro do meu apartamento. Fui lá olhei os sinais vitais dele e tava morto. Aí, peguei, sai na porta, olhei, olhei. Ai, me desesperei. Fui, peguei a mala, enrolei ele num cobertor, pus ele dentro da mala.
“Ele tem toda uma forma muito clara e coerente de relatar os fatos. Nos parece, a priori, uma coisa bastante organizada pra quem cometeu um crime de forma imprevista. Parece um crime muito mais organizado previamente do que uma situação abrupta ou imprevista”, avalia Antônio de Pádua Serafim, psicólogo da Faculdade de Medicina da USP.
Segundo o delegado do caso, a perícia já começa a desmontar parte da versão de Eduardo Martins: “Segundo informações iniciais do IML, não há lesão decorrente de instrumento contundente”.
Ou seja, não há sinais de ferimento na cabeça do zelador.
“Acreditamos, sim, ele ter desmaiado, ter sido colocado ainda em vida dentro da mala e ter morrido de asfixia”, diz o delegado.
Sheyla de Souza, filha de Jezi Souza: Eu chamava de antipatia o que ele tinha com meu pai. Hoje eu acho que era ódio mesmo.
Fantástico: Qual foi o motivo?
Sheyla de Souza: Vaga de garagem. Ele implicava, que meu pai reclamava, que meu pai queria mandar no prédio, que ele parava onde ele achava que devia parar.
Segundo Eduardo, na sexta-feira, ele levou o corpo para Praia Grande, no litoral paulista, onde o pai tem casa. Diz que voltou para o apartamento, em São Paulo, e que dois dias depois, esteve de novo em Praia Grande, para começar o esquartejamento.
Policial: Você não se arrependeu em nenhum momento?
Eduardo: Na hora que ele caiu.
Policial: Você se arrependeu depois que você cortou o sujeito?
Eduardo: Eu não tinha mais o que fazer.
“Eu vou discordar que ele não tinha mais o que fazer. Ele poderia ter chamado a polícia e relatado o acidente e os próprios ferimentos e as manchas de sangue iam comprovar o que ele está falando”, opina Ilana Casoy, especialista em criminologia.
“Não parece, que é – entre aspas- um esquartejador, um maníaco da mala, ou do serrote. Me parece que ele fez isso para sumir com o corpo e não por um prazer específico”, comenta Daniel de Barros, psiquiatra da Faculdade de Medicina da USP.
Ao ser preso, Eduardo Martins disse que era publicitário mas não contou quem eram os seus clientes nem se trabalhava em alguma agência. A polícia informou agora que ele não concluiu a faculdade de publicidade.
Segundo as investigações, Eduardo conheceu a mulher, Ieda, em 2001, pela internet. Na época, ele morava em São Paulo e a advogada no Rio de Janeiro, onde os dois passaram a viver. Com a morte do zelador, o passado do casal veio a público, junto com a suspeita de envolvimento em outro assassinato.
Rio de janeiro, 20 de dezembro de 2005. O empresário José Jair Farias é morto com dois tiros na cabeça. Ele era ex-marido da advogada Ieda Martins. Os dois têm um filho – hoje, com 18 anos – e na época do crime, havia uma disputa pela divisão dos bens.
O caso tinha sido arquivado por falta de provas mas agora foi reaberto. É que no apartamento de Eduardo e Ieda, em São Paulo, a polícia encontrou um cano de pistola calibre 380 e um silenciador. É o mesmo calibre usado para matar o empresário José Jair Farias.
“Que tudo se resolva, que se faça justiça tanto com meu pai quanto com o zelador”, diz Fabiane Farias, filha de José Jair.
Para a polícia, no caso do assassinato de Jezi Souza, Eduardo Martins está protegendo a mulher, ao dizer que Ieda não sabia de nada. As câmeras do prédio mostram ela ajudando a pôr a mala com o corpo do zelador no carro do casal.
Policial: Você falou o que pra ela?
Eduardo: Eu falei que era roupa. Que ela sabe que dentro da mala tinha roupa. A gente sempre punha as roupas dentro da mala.
Policial: Mas pesado daquele jeito?
Eduardo: Fica pesado mesmo que vai sapato, vai mochila, vai roupa.
Ieda chegou a ser presa esta semana mas conseguiu um habeas corpus e responde em liberdade.
Em nota, a defesa do casal disse que Ieda não vai gravar entrevista por considerar que não se trata do momento correto e oportuno.
Os especialistas criminais consultados pelo Fantástico afirmam que só com uma análise mais detalhada seria possível dizer se Eduardo é um psicopata ou não.
“Você precisa saber o histórico da pessoa, você precisas conhecer as suas outras relações, precisa saber como foi o seu desenvolvimento”, avalia Daniel de Barros, psiquiatra da Faculdade de Medicina da USP.
Nos próximos dias, a polícia fará uma reconstituição do assassinato do zelador Jezi de Souza.
“A gente está tentando encontrar forças para continuar. A saudade é muito grande”, ressalta Sheyla de Souza, filha de Jezi.
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