Por Cíntia Alves

Mercadante é para Delcídio o que Delcídio foi para Cerveró: a chance de obter a liberdade.

Consta nas conversas de Mercadante com o assessor de Delcídio – estas que vieram a público hoje e são objeto de manipulação midiática – que toda a classe política e imprensa sabem dos bastidores da “arapuca” feita para pegar Delcídio.

Cerveró, preso, tentava há meses obter a homologação de sua delação premiada e liberdade, sem perspectiva de sucesso. Entrou em desespero e fez um acordo para pegar Delcídio, líder do governo no Senado – portanto, peça essencial para a operação que tenta minar a gestão Dilma.

Foi a partir desse acordo que o filho de Cerveró montou o esquema de gravação, respaldado pela força-tarefa da Lava Jato, e por sorte conseguiu pegar Delcídio oferecendo ajuda financeira e elaborando um plano de fuga cinematográfico para o ex-diretor da Petrobras.

O que Delcídio prometera ao filho de Cerveró seriam apenas palavras ao vento e de nada adiantariam à Lava Jato, não fosse o erro de citar ministros do Supremo como se ele tivesse, de fato, alguma influência sobre eles, e supostamente pagar os R$ 50 mil como ajuda à família de Cerveró. Ninguém quis por a mão no fogo por Delcídio depois disso.

Uma vez preso, Delcídio fez o mesmo que Cerveró: armou para pegar Mercadante numa gravação, e trocou isso por sua liberdade. Só que ao contrário do que aconteceu com o senador, não há nada que Mercadante tenha dito que possa ensejar um pedido de prisão.

Não, Mercadante não ofereceu dinheiro para Delcídio desistir de fazer a delação premiada e entregar quem quer que fosse, embora jornalistas globais e seus seguidores tenham passado o dia repetindo isso. A gravação está na internet, é possível ver o contrário: Mercadante disse expressamente que só ajudaria no que estivesse ao seu alcance, sugerindo que não faria nada ilegal, e afirmou que não está nem aí se Delcídio faria ou não a delação premiada.

Mercadante ofereceu, digamos assim, “apoio moral” à família do senador, que está desestruturada, e ajuda para obter advogados, caso Delcídio não tenha dinheiro para pagar por um desses que cobram milhões para entrar na Lava Jato. Além disso, prometeu fazer avançar a tese de que o Senado, por obrigação regimental, já deveria ter feito a defesa jurídica de Delcídio – evitando, assim, que ele tivesse que vender o patrimônio de sua família para isso.

Mercadante e o assessor ainda conversaram sobre o fato de o PT ter virado as costas para Delcídio, e sobre a presidente Dilma igualmente não ter movido um dedo para defender seu ex-líder de governo no Senado. Os trechos que tentam colocar Mercadante como emissário de Dilma para evitar a delação de Delcídio são falas do senador, jogadas para agradar a Lava Jato.

A maior parte dos trechos da gravação contra Mercadante foi tirada de contexto e manipulada pela grande mídia hoje, como se não fosse possível desmentir o que tem sido publicado a partir dos áudios que estão na internet.

É um dia em que o jornalismo político da Veja, Globo e derivados mostra a que veio: fazer política e derrubar adversários.

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