GUAMARÉ RN -Debate: sem baixarias, rivais miram os indecisos
Josias de Souza
Ninguém chamou o oponente de mentiroso ou de leviano. Algumas intervenções foram ácidas.
Mas não se ouviu nenhum xingamento ou ofensa pessoal.
No terceiro debate presidencial do segundo turno, Dilma e Aécio priorizaram, finalmente, as ideias.
E elas se revelaram tão profundamente rasas que poderia ser atravessadas por uma formiga —com água pelas canelas.
Num confronto precedido de muito ensaio, não houve nenhum lance capaz de virar votos alheios.
No fundo, as grandes poses de Aécio e Dilma não eram para os eleitores que já lhes são fieis. Eles ajeitaram seus mais belos penteados, puseram suas mais elegantes roupas e armaram-se de suas melhores virtudes para o julgamento dos indecisos —6% do eleitorado.
Ou cerca de 8 milhões de pessoas.
Num contexto em que sete de cada dez brasileiros manifestam o desejo de mudança, o arsenal retórico de Aécio pode soar mais sedutor que o de Dilma.
A presidente está longe de ser uma adversária negligenciável. Às voltas com indicadores econômicos esquálidos e um escândalo de corrupção portentoso, ela arrasta 49% das intenções de voto nas pesquisas. E segura um empate técnico com Aécio, com 51%.
Quer dizer: mesmo com todo o temor de que a economia exploda e os ratos assumam o comando da Petrobras, praticamente metade do eleitorado ainda se dispõe a votar em Dilma.
A pergunta a ser feita é: quantos indecisos Dilma conseguirá agregar ao seu cesto?
A serviço do petismo, o marqueteiro João Santana já demonstrou que, com boa propaganda, pode-se vender até ovo sem casca. Mas esse eleitor que ainda faz cara de interrogação diante da urna talvez tenha dificuldade para comprar a tese segundo a qual Dilma será a mudança de si mesma.
É nisso que se apegou Aécio ao apresentar-se no debate como o candidato capaz de “mudar de verdade o Brasil, não apenas no slogan”.
Aécio logrou levar sua rival ao córner várias vezes. Como na hora em que perguntou sobre inflação. “A inflação não está descontrolada como quer vocês”, defendeu-se Dilma, tropeçando no português.
“Vocês jogam no quanto pior, melhor. Eu tenho certeza que a inflação está sob controle. Ela está inteiramente controlada. E isto é inequívoco.” A necessidade de defender o próprio governo impede a presidente de enxergar que a autocrítica pode ser menos danosa do que a falta de nexo.
Livre de amarras, Aécio sapateia: “A verdade, candidata, é que as pessoas estão apavoradas.
O jornal ‘O Globo’ desse final de semana mostra as pessoas no supermercado enchendo os carrinhos, fazendo de novo a compra do mês, que existia há quinze anos atrás.”
Olhar fixo na câmera, Aécio tenta faturar com o infortúnio da inflação que teima em permanecer em nos arredores de 6,5%, teto da meta oficial do governo. “A inflação está aí, é importante que você saiba.
Para a presidente da República, não existe inflação, ela está sob controle. Inequívoco, segundo ela. Para mim não está!”
Nas cordas, Dilma defende-se como pode: “Candidato, em alguns momentos você tem flutuações, mas os preços voltam para o patamar que devem ficar.” Invariavelmente, ela esfrega na cara do adversário indicadores do ciclo FHC, encerrado em 2002.
“Quando vocês entregaram o governo, a inflação estava em 12,5%. No ano anterior, estava em 7,7%.”
No afã de grudar FHC em Aécio, Dilma por vezes exagera: “Vocês conseguiram um recorde nacional e internacional: 11,5 milhões de trabalhadores desempregados. O Brasil só perdia para a Índia”, disse ela, a alturas tantas.
E mais adiante: “O meu governo, candidato, ao contrário do seu, criou 5,6 milhões de empregos.”
Aécio ironizou: “A candidata afirma que seu governo gerou mais emprego do que o meu. Eu não governei o país, candidata, pelo menos ainda”, afirmou, antes de enumerar os países da América Latina que registram crescimento econômico mais alto, inflação mais baixa e taxas de desemprego próximas das observadas no Brasil. Citou Peru, Chile e México.
De resto, para o bel ou para o mal, Aécio não exibe na atual disputa a mesma FHCfobia que atormentava José Serra e Geraldo Alckmin, os tucanos que o precederam no posto de adversários do PT.
Ante a insistência de Dilma, que o desafiou a não “lavar as mãos” para o passado da sua tribo, o tucano declarou:
“Candidata, eu tenho um orgulho enorme de ter podido participar de um momento transformador da vida nacional, quando nós aprovamos o Plano Real, tiramos a inflação das costas dos brasileiros. Contra o voto do seu partido.
E tenho certeza que a senhora assume essa responsabilidade… Votamos a Lei de Responsabilidade Fiscal, que reordenou a vida dos entes públicos brasileiros. Contra a posição do seu partido…
Iniciamos os programas de transferência de renda, depois ampliados, candidata, pelo seu partido.
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