Os ‘sentinelas do tráfico’, como são chamados os traficantes que vigiam a movimentação da Polícia Militar, não descansam; o plantão é de 24 horas. Por meio de rádios comunicadores, eles garante a tranquilidade para a movimentação de drogas. A reportagem da TV Gazeta conseguiu a gravação de conversas entre traficantes do bairro Jesus de Nazaré, em Vitória.

São vários os pontos de observação pelo bairro, e um deles fica na mesma rua da sede da Polícia Rodoviária Federal (PRF), do Departamento Nacional de Infraestrutura e Trânsito (Dnit) e a menos de 200 metros da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp).

Nas conversas a seguir, do dia 18 de maio, eles falam sobre um carro da Polícia Civil que passava na Avenida Beira-Mar:

Sentinela 1 – “Do cais, atividade tá indo uma barca da preta aí pro seu lado”

Sentinela 2 – “Atividade, hein. Vê se passa, passa direto…”

Sentinela 1 – “A visão das casinha?”

Sentinela 3 – “A Tá de boa, tá de boa, patrimonial tá passando. Tudo dois, tudo dois”

A “barca preta” a que eles se referem é o carro da Polícia Civil.

Nesta outra conversa, um dos olheiros falara sobre um carro da Polícia Militar. O traficante chama a caminhonete da PM de “barca grande” e “casinha” é o ponto de observação.

Sentinela 1 – “Aê da casinha, rolô uma barca grande aí na sua direção. Aí da casinha, vai sair do sinal agora, vai na sua direção da casinha, e a pequena deu a volta por lá da casinha. Fica na atividade mil grau da casinha”.

Nessa gravação é possível ouvir um olheiro chamando a atenção do outro porque a polícia entrou no bairro e os demais comparsas não foram avisados.

Sentinela 1 – “Coé mano, como é que você deixa os homi passá assim, doido”

Sentinela 2 – “Que que é mano, falei lombro lombro”

Sentinela 1 – “Mas você gritô já tava aqui em cima, doido”

Sentinela 1 – “Parasita não mano, cê tem que ver a hora que eles esntra lá, parcero”

Sentinela 2 – “Eles entraram pela rua de cá, mano, a rua de… do lado aqui, ó. Tô aqui no morrinho”

Sentinela 1 – “Então mano, mas você tem que avisar quando eles entra lá na pista lá, mano”

Sentinela 1 – “Atividade, mano, atividade”

Sentinela 2 – “É nóis, tá dois”

Uso de gírias
De acordo com o delegado Fábio Pedroto, titular da Delegacia de Tóxicos e Entorpecentes, a quadrilha do bairro Jesus de Nazaré usa várias gírias durantes a comunicação via rádio.

“Quando eles dizem ‘tá tudo dois’ querem dizer que está tudo tranquilo. Quando eles usam o termo ‘lombrado’ é que a polícia está bem perto ou que invadiu o morro”, explicou.

O delegado ressalta que o uso dos rádios comunicadores dificultam muito a ação da polícia, pois eles escondem as armas, drogas e se escondem antes mesmo dos policiais entrarem na comunidade.

O delegado afirma que já instaurou inquérito e que já começou a identificar os homens que aparecem nas imagens.