Irmã de jovem morta em acidente diz que suspeito não aparenta ‘remorso’
Corpo de vítima já foi cremado; família revelou que córneas foram doadas.
Jéssica Queiroz foi atingida por um condutor bêbado que está preso em GO.
A família da gerente de bar Jéssica Correia de Queiróz, de 25 anos, morta após ser atropelada em Goiânia, criticou a atitude do administrador de empresas Hélio Ferreira da Silva, de 44, preso suspeito do crime. Segundo a irmã da vítima, Marília Mesquita, o motorista não aparentou importância com o crime durante audiência de custódia que determinou que ele siga detido.
“[Ele não demonstra] nenhum remorso, nenhuma culpa, nenhum arrependimento. O Brasil tem uma política de que quem tem dinheiro não sofre as consequências dos seus atos. Já ficou bem claro que tanto ele como a família têm uma situação bem definida, uma vida confortável. Parece que ele não estava preocupado mesmo, que não estava sentindo absolutamente nada”, lamenta.
O acidente aconteceu na noite de sábado (16). Imagens de câmeras de segurança mostram quando Jéssica, pilotando sua moto é atingida na traseira por um Hyundai HB 20, na Avenida 85, no Setor Bela Vista.
Com a batida, a jovem foi arremessada e só parou a cerca de 100 metros do local do acidente (veja vídeo abaixo). Segundo Delegacia Especializada em Investigação de Crimes de Trânsito de Goiânia (Dict), o teste do bafômetro confirmou a embriaguez e ele foi indiciado por homicídio doloso.
Durante a audiência de custódia, o advogado de Hélio, Aldair Oliveira Souza criticou o fato de seu cliente permanecer preso. “A defesa esperava que o juiz fosse colocar ele em liberdade porque é direito dele. Ele é primário, tem residência fixa e ocupação lícita. Esses são os requisitos objetivos que a legislação assegura para colocar a pessoa para responder o processo em liberdade. Ele não representa perigo social”, defendeu.
Doação de órgãos
O corpo de Jéssica foi cremado na tarde desta terça-feira (19). Outra irmã da jovem, Renata Mesquita, revelou que a família fez a doação das córneas seguindo as ações de solidariedade que a vítima fazia quando era vida.
“Ela sempre foi muito solidária e bondosa, tinha um coração enorme. Em vida, ela sempre tentou ajudar todo mundo no que ela pudesse. Em outubro, cortou o cabelo e doou para o Hospital do Câncer. Com a morte dela, conseguimos doar as córneas. Uma pessoa vai receber os olhos verdes mais lindos que já existiram. A gente incentiva que as famílias façam isso, porque desta forma ela continua viva em alguém. Sei que ela ia ficar muito feliz com isso”, pondera.
Jéssica deixa uma filha, de 7 anos. Renata afirma que o pai da criança foi o primeiro a ser avisado do acidente por um policial que estava a paisana, viu tudo e tentou socorrer a motociclista. Ela conta que custou acreditar que as informações eram verdadeiras.
“Um policial que estava de folga no local assistiu tudo, correu para tentar socorrer e pegou o celular da minha irmã. Ela desbloqueou pela digital e fez a última ligação dela para o pai da nossa afilhada. Na hora ele não acreditou, pediu confirmação de como ela era, como era a moto. Como estava muito nervoso, esse mesmo policial levou nosso cunhado até a minha casa. Ele não conseguia ficar de pé ou falar, mas deu a notícia. A gente começou a correr atrás de confirmar, porque a gente não acreditou que era verdade até que viu ela deitada sem vida”, pondera.
A irmã diz que ainda está “em choque” pelo que ocorreu e que Jéssica, por causa de sua alegria, era o “sol de sua vida”. Renata fez questão de mandar um recado para a família de Hélio lamentando a situação, mas ressaltando que quer que ele pague pelo crime.
“Lamento muito por estarem passando por isso, não desejo isso a ninguém, Lamento pelos filhos dele que, se Deus quiser, vão ter um pai preso pelo resto da vida. Mas a dor da minha afilhada e da minha mãe é muito maior, a gente soube que ele estava bebendo por estar com problemas no trabalho com a família e transferiu os problemas dele para a nossa família, atingindo minha irmã dessa forma. Pegou a arma, que foi o carro e saiu. Pelo que eu soube, ele nem freia, nem tenta desviar”, disse.
Embriaguez
Após o acidente, Hélio foi levado a um hospital para ser avaliado, mas não precisou ficar internado. O teste do bafômetro realizado na unidade de saúde apontou que Hélio estava embriagado. O exame constatou 1,4 miligramas de álcool por litro de ar expelido. Por isso, o motorista foi indiciado por homicídio doloso, quando há a intenção de matar.
“Ele assumiu a produção do resultado morte ao ingerir bebida alcoólica e assumir a condução do veículo, sabendo que havia comprometimento das suas funções neurológicas e psicológicas. O dolo eventual é porque o resultado da sua conduta era indiferente para ele. Ao beber e dirigir, ele sabia que esse resultado poderia ocorrer”, explicou a delegada Caroline Paim, responsável pelo caso.
Ainda conforme ela, o motorista confessou que consumiu bebida alcoólica antes do acidente. Ele relatou que ficou em um bar por mais de 8 horas.