EXTREMOZ RN-Qual será a relação dos partidos à esquerda com Temer se o impeachment se consolidar?


Jornal GGN – O que farão os políticos que representam a esquerda no Congresso se o impeachment for consolidade e Michel Temer leve adiante propostas como a reforma da Previdência, mudanças nas leis trabalhistas, imposição de teto para gastos públicos que afetam saúde e educação? PT e outros partidos contrários ao “golpe” ficarão de fora do debate, por não reconhecerem o governo interino, ou vão participar em nome da defesa dos direitos sociais?

Por Celso Rocha de Barros

Diante de Temer

Na Folha

Talvez tenha sido cedo demais, mas talvez não tivesse jeito. Quando Lula e dirigentes do PT e do PC do B optaram por apoiar Rodrigo Maia na eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, causaram perplexidade na militância e em boa parte de seus parlamentares.

Rodrigo Maia era um Cunha Boy até outro dia. E o DEM, para quem era melhor negócio ser coadjuvante de Temer agora do que do PSDB em 2019, esteve sempre na vanguarda da luta pelo impeachment. Durante todo 2015, Maia e seu partido lutaram por um Brasil novo e melhor, em que todo brasileiro pudesse erguer a cabeça e dizer “o DEM tem vários cargos no governo, controla muitas verbas”. No discurso oficial do PT e do PC do B (que não compartilho), Rodrigo Maia tem indiscutível pedigree golpista.

O deputado federal Vicentinho escreveu no Twitter que não votaria em golpista, e foi acompanhado por grande parte da bancada, que se retirou do plenário na votação do segundo turno. Para muita gente na esquerda, inclusive entre seus parlamentares, o realismo das direções de PT e PC do B colocou em risco a única vantagem de ter perdido o poder: a dispensa de ter aliados com quem não se tem qualquer identificação, a volta da clareza entre aliado e adversário.

Quem já foi às manifestações contra o impeachment certamente percebeu que ali protesta-se contra Temer ao mesmo tempo em que celebra-se não tê-lo, ou aos semelhantes a ele, como aliados.

Entendo e simpatizo inteiramente com a reação da militância, em especial porque havia a opção de votar em Luiza Erundina. Mas entendo também o argumento a favor de apoiar Maia.

Mesmo se tiver sido cedo demais, em algum momento a esquerda vai ter que voltar para o jogo político, e o jogo político que temos é esse troço aí. Se Dilma voltar ao poder, as alianças voltarão a ser necessárias. Se não voltar, a esquerda pretende se ausentar das negociações da reforma da Previdência, ou do teto de gastos? A ideia é deixar a turma do pato fazer o que quiser?

No fundo, a questão é o quanto a esquerda está disposta a tratar o jogo político pós-impeachment como “normal”. Voltar às negociações cotidianas no Parlamento não seria reconhecer legitimidade no governo Temer? Como ficaria a tese de que houve um golpe de Estado? Não é fácil ver o adversário governar com votos que você conquistou. Ver os direitistas irresponsáveis de 2015 chamando ao diálogo é mesmo o fim da picada. A vontade é de mandar Temer ir dialogar com um pato inflável, com os Bolsonaros de Facebook, com Eduardo Cunha ou com o resto da turma que o colocou no poder.

Entendo tudo isso, mas recomendo não seguir esse instinto. Sugiro apoiar o que for necessário para a economia voltar a funcionar, criticar o que for regressivo, fazer as autocríticas necessárias para recuperar a credibilidade e deixar que as delações cuidem da legitimidade de Temer.

Era o que eu teria feito, aliás, se fosse da antiga oposição em 2015, e acho que era o que os generais do PSDB, no fundo, torciam para que acontecesse. Mas os tucanos foram substituídos por patos infláveis com muito menos autocontrole. Seria um erro se a esquerda também perdesse o senso estratégico. Deixem para o outro lado o monopólio de ser pato.

Celso Rocha de Barros é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford, com tese sobre as desigualdades sociais após o colapso de regimes socialistas no Leste Europeu. É analista do Banco Central. Escreve às segundas.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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