BRASIL- Como encarar o dia de luto ou de glória após as eleições?


Colunista de VivaBem

28/10/2022 04h00

Enquanto vivemos o último dia de um dos processos eleitorais mais complicados e desgastantes da história do Brasil, já é possível afirmar que a segunda-feira (31/10) será uma data tanto de uma ressaca incrível como de um alívio tremendo, a depender de qual dos candidatos (o seu ou o outro) ganhar o pleito.

Em termos numéricos, considerando-se os resultados apertados das últimas pesquisas, dá para arriscar que pouco mais da metade da população estará celebrando, enquanto a outra parte vai lamentar.

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Vou focar aqui, primeiro, nas pessoas cujo candidato não alcançar sucesso. A derrota e a elaboração do luto (entendido aqui no seu sentido mais amplo, de perda) passa por algumas fases. Classicamente, a psicologia fala em cinco fases do luto, a saber:

  • 1º estágio – negação e isolamento
  • 2º estágio – raiva
  • 3º estágio – barganha ou negociação
  • 4º estágio – depressão
  • 5º estágio – aceitação

Cuidado com negação e raiva

É bom lembrar que nem todo mundo passa por todas as fases, nem todos experimentam a mesma sequência, e que a duração de cada um dos estágios varia muito em cada pessoa. Ficar “retido” em uma das fases pode prejudicar o indivíduo em suas relações sociais, no trabalho, na sua saúde mental e qualidade de vida. Ou seja, é importante que o caminho seja para frente, no sentido da elaboração do processo de luto, na direção da aceitação do resultado.

É natural que negação e raiva sejam inicialmente os sentimentos mais comuns. Nessa fase que se corre maiores riscos de atitudes e comportamentos que podem gerar arrependimento e constrangimento futuros. Assim, entender os limites do razoável, do respeito e da tolerância são pontos cruciais.

Aliás, em um momento social polarizado, ao final de uma eleição em que não se discordava de ideias, projetos e pontos de vista e, sim, buscava-se a desqualificação do outro (daquele que pensa diferente), essas fases iniciais do luto podem ser ainda mais sensíveis e complexas, com risco de violência e agressividade gratuitas.

Daí a importância de se negociar com a gente mesmo nossas frustrações e insatisfações, de se admitir que é normal ficar triste e aborrecido, mas que é fundamental aprender a lidar com o resultado e a realidade que ele impõe. Não é ser conformista, mas é superar para poder seguir em frente.

Luto coletivo

Um processo de luto coletivo é um fenômeno social que pode ser bastante impactante. O que “eu” sinto reverbera no que o “outro” sente e o sofrimento pode ganhar escala. É similar ao que se observa, por exemplo, após a morte de uma personalidade importante, conhecida nacionalmente, e que gera alguma forma de identificação com parte significativa da população. Quem não se lembra da tristeza, indignação e mal-estar geral no dia seguinte à morte do piloto Ayrton Senna?

Exatamente por perceber que esse momento é sensível e entender a “dor” do outro, que a parcela da população que vai celebrar a vitória do seu candidato deve, também, agir com respeito e compreensão. Comemorar a vitória sim, afinal o processo foi duro, mas tendo sempre em vista que a outra quase metade da população não venceu e merece consideração.

Uma população que não respeita posições divergentes (até antagônicas) e não consegue conviver com suas diferenças, está sempre sob o risco de rupturas e intolerância.

Se esse processo horroroso e absolutamente anormal das eleições desse ano não servir de exemplo de como uma disputa presidencial deve caminhar, insistiremos em erros graves e, assim, famílias, amigos, colegas e vizinhos vão continuar eternamente divididos, se estranhando e pouco se respeitando.

Vença quem vencer, fomos todos um pouco derrotados em 2022. O processo foi um atestado da incapacidade de boa parte dos políticos e da população de entender o que é democracia. Que nas próximas eleições, o pensar diferente não seja razão e motivo de se agredir o outro. E isso não depende só deles que estão lá em cima, no topo da pirâmide do poder, mas de cada um de nós e de escolhermos quem merece nos representar. Luto ou glória, amanhã será um novo dia para o Brasil. Boa sorte para todos nós!

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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