Assú RN; Para Barbosa, o problema está no poder dado ao Congresso


Jornal GGN – Em entrevista concedido ao UOL e assinada por Carlos Madeiro, Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF e bastante responsável pelo caminho trilhado pelo país via Judiciário, por sua atuação no mensalão, disse que o poder vai se transferindo para os “cafundós do Congresso”.

Para Barbosa, a crise política nacional poderá afetar, de forma dura, a democracia brasileira, com mudança de eixo governamental nos próximos anos. As declarações foram dadas durante palestra na Conferência Nacional de Legisladores Estaduais, em Aracaju.

“O que muito me preocupa na incerta situação política atual é a fragilidade institucional generalizada que está se criando. Nosso sistema sempre teve como âncora fundamental a Presidência da República. Mas, se essa situação heterodoxa criada pelo segundo processo de impeachment em 24 anos se consolidar, qual será a configuração política fundamental para o Brasil nas próximas décadas? A maioria dos brasileiros não está percebendo, mas pode acontecer o seguinte: haverá nada mais, nada menos, que a transferência do centro político nacional da Presidência para os cafundós do Congresso Nacional. E tenho muitas dúvidas se é isso que os brasileiros querem”, disse ele.

Barbosa criticou ainda a ascensão do PMDB ao poder calcado na abertura do processo de impeachment contra Dilma. Para ele esta ascensão é desprovida de legitimidade e faz com que Temer tenha que buscar apoio no Congresso, já que não tem apoio popular.

“O presidente tem como influenciar o Congresso e o trazer para o seu lado –caso o presidente tenha talento, carisma e tenha sintonia com o povo. Sem isso, ele se torna refém do Congresso, se torna uma peça manipulável”, afirmou ele.

Ele falou ainda da ideia de mudar o sistema político brasileiro. “O curioso é que volta e meia aparece alguém –buscando atender a interesses personalíssimos ou de grupos desprovidos de meios de ascender ao poder por processo democrático– a propor mudar esse sistema o qual vivemos a 127 anos. Ora se propõe mudar para o parlamentarismo, ora se quer instruir o semipresidencialismo. Não são propostas sérias! É puro personalismo, são atalhos para quem quer chegar ao poder máximo, mas não tem votos suficientes. É inadmissível um país com o peso do Brasil, com a grande democracia, uma improvisação de um sistema que, mal ou bem, vem funcionando para outro, cujas bases pouca gente conhece”, explicou.

Barbosa entende que é preciso uma participação popular maior no processo. “O povo brasileiro vai continuar como no fim do século 19, quando houve troca de regime? Vai assistir a tudo bestializado, como dizia [o historiador] Murilo de Carvalho? Eu lhes faço essa pergunta a título de provocação, na perspectiva de mero expectador dessa cômica cena politica brasileira”, disse. “Temos que lutar muito, como cidadão, para que o país não trilhe o retrocesso. É um momento bastante sensível”, completou.

Ele disse que sua preocupação é grande com a percepção internacional ao país. “Ninguém poderia prever que nosso sistema político iria trincar, como está trincando. O Brasil parece querer integrar o bloco das nações que têm instabilidade política. Isso é muito ruim, muito lamentável. O problema é muito sério, afinal, como explicar às pessoas, ao mundo, aquilo que uma boa parcela da nossa população não conseguiu explicar e não conseguiu digerir?”, perguntou-se.

Disse também que o poder interino está nas mãos de dois grupos que não conseguiram chegar ao poder. São grupos distintos de operadores políticos, um que nos 30 anos de vida democrática não conseguiu levar nenhuma eleição presidencial e o outro que no prazo constitucional para novas eleições completará 20 anos desde a última vitória em eleição presidencial. Falou ele sobre PMDB e PSDB.

Voltou ao tema internacional, questionando como justificar ao mundo a situação do país e como explicar isso tudo de forma convincente aos brasileiros. “O país vai suportar conviver nessa dúvida, nessa incerteza, nessa possível instabilidade durante dois anos e sete meses? Porque os nossos acadêmicos, os grandes intelectuais, os meios de comunicação, todos os atores têm evitado discutir essa questão? Tudo isso, tem um impacto grande no desenvolvimento do país”, complementou.

(Com informações do UOL)fotorjoaquimbarbosa

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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