ASSU RN-‘Dificuldade financeira’ travou missão, diz Janine após cinco meses no MEC


renatojanineribeiro

10/10/2015 06h00 – Atualizado em 10/10/2015 06h00

‘Dificuldade financeira’ travou missão, diz Janine após cinco meses no MEC

Para ex-ministro, não houve tempo, porém, de falar em ‘missão cumprida’.
Leia entrevista concedida por Renato Janine Ribeiro ao G1.

Ana Carolina MorenoDo G1, em São Paulo

Renato Janine Ribeiro participou de reunião no Instituto Lula, em São Paulo. (Foto: Heinrich Aikawa/Instituto Lula/Divulgação)Renato Janine Ribeiro. (Foto: Arquivo/Heinrich Aikawa/Instituto Lula/Divulgação)

 

Fora do cargo de ministro da Educação há menos de uma semana, Renato Janine Ribeiro tem aproveitado o tempo livre para atividades que não conseguiu fazer durante os cinco meses em que esteve à frente do Ministério da Educação (MEC). Na tarde desta sexta-feira (9), por exemplo, antes de conceder uma entrevista ao G1 por telefone, o professor de ética e filosofia da Universidade de São Paulo (USP) foi ao cinema.

Na conversa, Janine relaciona as dificuldades financeiras do governo como um dos principais motivos de insatisfação com sua missão no MEC. Mas defende as reformas feitas ao Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) como “um dos grandes motivos de orgulho”.

Ele reiterou, ainda, que por enquanto prefere falar sobre educação do que sobre a crise política do país. “Sou analista político, vou voltar a tratar desse assunto, mas está muito perto agora. E educação é muito importante para o Brasil para a gente ficar só na questão política.”

Leia abaixo a entrevista:

Não deu para cumprir a missão porque estávamos em dificuldade financeira muito grande. O que sinto é que fiz o que podia ser feito. Me sinto satisfeito de ter dado passos que foram importantes para melhorar a educação.”
Renato Janine Ribeiro,
ex-ministro da Educação

Foi possível deixar o cargo com a sensação de missão cumprida?
Renato Janine Ribeiro – Missão cumprida não, porque o país tem muita coisa a fazer. Educação é um universo muito grande. Não deu para cumprir a missão porque estávamos em dificuldade financeira muito grande. O que sinto é que fiz o que podia ser feito. Me sinto satisfeito de ter dado passos que foram importantes para melhorar a educação. Alguns de longo prazo.

A própria questão da Base Nacional Comum, que não é fácil. Exige muita discussão, mas sinto que consegui fazer um avanço nessa discussão. E há outros pontos, a formação de diretores de escolas, que é complexa e é uma coisa que tem que ser desenvolvida. Abrimos o projeto disso, isso tudo vai poder ser desenvolvido.

Basicamente, quando você está numa situação de muita dificuldade financeira, o que tem que fazer é procurar propostas para depois que a situação melhorar elas poderem ser efetivadas.

Deu para colocar duas medidas em prática na Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] de pouco custo, mas que sinalizam a preocupação com revoltas e biografias, que no Brasil não são muito desenvolvidas, estudadas, e iniciar algumas ações de pouco custo.

E tem mais uma coisa: hoje o grande desafio da educação é a qualidade. Tivemos expansão de mais e mais pessoas avançando na economia, na criação de novas escolas e tudo mais. Mas agora está na hora de assegurar uma melhora da educação em termos de qualidade. Nesse ponto me sinto um pouco… Não digo satisfeito, mas sinto que deu para fazer um trabalho.

Agora, a pessoa deve ser muito mentirosa que esses resultados são frutos do governo do PT. Esses resultados são frutos de 500 anos de um Brasil injusto.”
Renato Janine Ribeiro,
ex-ministro da Educação

O senhor falou muito sobre um esforço grande em conseguir divulgar os dados da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA). O senhor se deparou com algum tipo de falta de transparência quando chegou ao governo?
Renato Janine Ribeiro – Não senti nada disso, nem no ministério nem no governo. A decisão de divulgar os dados da ANA foi exclusivamente minha. O Chico [Soares, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, o Inep] propôs, eu achei muito razoável, muito correto. A gente sabia que ia ser uma decisão difícil, que ia nos expor a críticas, porque, afinal de contas, os dados foram preocupantes.

Agora, a pessoa deve ser muito mentirosa que esses resultados são frutos do governo do PT. Esses resultados são frutos de 500 anos de um Brasil injusto. O que é importante nos dados na ANA, e que algumas pessoas não notaram? É que você vê que não tem só alfabetizados e analfabetos.

Tem diferentes níveis de alfabetização. Tem pessoas que sabem ler só a palavra “cavalo”, elas conseguem ler palavras, mas não uma frase. E tem pessoas que leem uma frase, mas entendem muito pouco do que leram. Estas pessoas também não são alfabetizadas, mas estão num nível melhor. Quando conseguimos distinguir esses níveis de analfabetismos, abrimos espaço para cada um desses níveis serem tratados da forma adequada.

Muita gente não tem noção do tamanho do problema, ou tem noção só da boca pra fora. “Ah o Brasil tem 60% de analfabetos.” O que não é verdade, é muito menor. Mesmo você pegando os piores dados: como o de que 57% dos alunos não sabem fazer conta direito”. Isso é muito assustador. Mas ao mesmo tempo você sabe o que você tem que fazer para resolver. É importante a gente revelar esses dados, porque dessa maneira você sabe qual tipo de trabalho tem que fazer em cada nível.

Como o senhor vê todas as mudanças que foram implementadas no Enem?
Renato Janine Ribeiro – Essa parte seria melhor você falar com o próprio Inep, com o professor Chico Soares. Eu tenho responsabilidade por ter apoiado a posição de divulgar o Enem por escola, e tentar entender, que também é uma coisa muito importante. Fazer as pessoas entenderem que não é apenas um ranking, de qual a melhor escola do Brasil, qual a melhor escola de São Paulo, em Brasília, no Rio. O pai fica desesperado, ele não tem dinheiro para botar o filho na escola, ou ela só aceita gente cuja família já estudou lá.

O melhor Enem é o da escola que pegou alguém com dificuldade e fez aquele aluno mudar de nível. Ser capaz de acrescentar valor. Se a escola pega meninos que são muito pobres, ou em situação de vulnerabilidade, normalmente em conjunto eles vão ter muito mais dificuldade em aprender.

Acho que o que o Enem mostra é que as pessoas não precisam ficar presas ao destino. “Não dei certo porque a família é pobre.” Não. Você pode ter todas as dificuldades, mas a escola pode enfrentar isso e melhorar sua vida. Não é fácil, mas mesmo assim, com apoio bom do professor, da escola, você consegue avanços.

O Fies para mim foi um dos grandes motivos de orgulho, porque foi menos contratos, mas mais em cursos nota 5. No primeiro semestre, que é o dado que eu tinha, porque o do segundo semestre ainda não foi divulgado, já no primeiro semestre conseguimos colocar 20% em cursos nota 5.”
Renato Janine Ribeiro,
ex-ministro da Educação

O senhor acha que 2015 é um ano em que houve um ponto de inflexão nas políticas do governo?
Renato Janine Ribeiro – O ponto em comum de várias dessas mudanças é tentar fazer melhor com menos dinheiro. O Fies para mim foi um dos grandes motivos de orgulho, porque foi menos contratos, mas mais em cursos nota 5. No primeiro semestre, que é o dado que eu tinha, porque o do segundo semestre ainda não foi divulgado, já no primeiro semestre conseguimos colocar 20% em cursos nota 5. E no ano passado eram 8% em cursos nota 5.

Quando você, com menos dinheiro, garante mais gente em cursos melhores, você está prestando um serviço. Fizemos com que o Fies fosse entendido sim como programa social, com pessoas mais pobres. Mas é também um programa de desenvolvimento do país. Quando você coloca alguém na faculdade, você está pensando na pessoa, mas também está pensando no que essa pessoa vai trazer para a sociedade. Quando eu mandei priorizar saúde, engenharia e professorado, isso favorece sim o aluno, mas vai fazer algo para a sociedade. Para melhorar educação básica, a área de saúde e a nossa produção, então você não está pensando só no aluno, está pensando no aluno e na sociedade.

E destaco também uma matéria que não se encaixa em nenhum dos três casos: um dos resultados bons foi que, no segundo semestre, metade dos financiamentos de direito no segundo semestre foram para cursos nota 5. Foi quando realmente as medidas que determinei foram aplicadas. Conseguimos com isto que o dinheiro da sociedade da sociedade seja mais bem aplicado.

Em outras palavras, quando tem escassez de dinheiro, você precisa fazer duas coisas. Aplicar melhor esse dinheiro, e preparar programas que sejam programas bons, para quando voltar a ter dinheiro, que eles venham a ter mais resultados.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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