CARNAUBAIS RN-Precisa-se de solidão
“A solidão que o poeta ainda quer, e da qual sabe mais, é a da vida que vai embora, enquanto tudo amanhece”. O trecho do poema de Nauro Machado, traz o sentido da solidão para muitos. Não só poetas e escritores, necessitam da solidão para produzir. Temida e muitas vezes necessária, existem profissões em que a solidão é quase uma exigência. E lidar com o sentimento da saudade é um dos obstáculos mais duros. Famílias inteiras aguardam a volta dessas pessoas que precisam se isolar para ganhar o pão de cada dia ou para descobrir estrelas, como é o caso do astrónomo José Dias Nascimento
Ele passa de quatro a cinco noites em ambientes extremos, geralmente com mais de 2500 m de altitude. “Da última vez fiquei sete noites nos Pyrineus franceses em dezembro e 12 noites nos Andes chilenos em outubro”, lembra.
Para ele, a solidão de alguns astrônomos na realidade é parte de um esforço para responder a questão se estamos de fato sozinhos e solitários no Universo. “Bom isso numa escala “Astronômica” estamos motivados para responder a questão, – que eu considero a maior questão que ciência poderia produzir- Estamos sozinhos no Universo?”, indaga.
José Dias, que é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, hoje é um dos astrônomos mais reconhecidos do mundo. “Tenho fotos incríveis das duas missões. É assim que chamamos a viagem.”
Para chegar até os observatórios, é preciso um ritual. A família fica distante e para chegar até lá é preciso pegar avião, trem e até teleférico.
Esse isolamento é necessário, devido aos observatórios astronômicos utilizarem o telescópio para observar estrelas, planetas, galáxias, normalmente durante a noite. Por isso, são instalados em locais livres de poluição luminosa, além de condições de umidade especial para não prejudicar a óptica do telescópio (no chile chega a 4% a umidade relativa). Desta forma o melhor local para a instalação de observatórios astronômicos são as montanhas altas a 2500, 3000 metros acima do nível do mar.
Dentro desses observatórios, o astrônomo realiza suas pesquisas e produz dados para suas descobertas. Geralmente passa noites sozinho ou com algum técnico de operação do telescópio. Uma vez com os dados obtidos, trabalha em grupos de pesquisa com outros astrônomos espalhados pelo mundo. José lembra que os observatórios astronômicos, estão espalhados pelo mundo. “Existem grandes observatórios, como o ESO e o Gemini (Chile e Estados Unidos), o Pic du Midi (França), Monte Palomar (Estados Unidos), entre outros”.
Todo esse esforço vital, rendeu a José a descoberta das estrelas Gêmeas do Sol no Sul da França e no Chile. A partir da descoberta, essas estrelas reproduzem a única possibilidade de ser estudada a evolução do Sol. E além disso, o entendimento de que e as estrelas gêmeas do Sol devem possuir planetas parecidos com a Terra. “Está em voga a busca por esses planetas. Nos próximos 20 anos devemos responder a questão da “solidão cósmica”: Estamos sozinho no Universo ?”.
O astrônomo mesmo responde, acreditando que a previsão que se fala hoje na NASA (US) e ESA (Europa) e em grandes centros pelo mundo afora, como no CfA-Harvard, o maior laboratório de Astrofísica do Mundo, é de 20 anos.
Para ele, a descoberta remonta a 400 anos atrás com Giordano Bruno, um monge italiano,que perguntou-se e escreveu “No espaço, deve existir inúmeras terras que circundam em torno de outros sóis, que podem ostentar sobre eles criaturas semelhantes ou mesmo superiores aos que existem em nossa Terra humana.” Giordano foi executado por ter perguntado isto. A Igreja não perdoou. Ele foi queimado na fogueira, em Roma, no ano de 1600. “Somente agora, 400 anos depois é que estamos enfim..procurando resposta de forma sistemática”. E quem precisa da solidão?
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