Eduardo, agora, vive nos campos do Senhor
Obrigado aos internautas e a todas as pessoas que nos ajudaram a realizar esta cobertura inesquecível, sob todos os aspectos, desde a última quarta-feira.
Sem vocês, não seria possível colocar no ar um trabalho jornalístico digno de um advento tão excepcional e diante de uma figura da dimensão do ex-governador e presidenciável Eduardo Campos.
Elio Gaspari alerta para o desfaio de comunicação de Marina
Manejando-se apenas percentagens vai-se a lugar nenhum. Falta saber o que Marina proporá para transformar preferências em votos. No primeiro turno de 2010 ela teve cerca de 20 milhões de votos (19,33%). Até agora, o programa de sua chapa foi ralo e confuso. Fala em “eixos programáticos”, “brasileiros socialistas e sustentabilistas”, “borda de desfavorecidos”, “democracia de alta intensidade”, em “ampliar a dimensão dos controles ex post frente à primazia dos controles ex ante”. Propõe plebiscitos e “um novo Estado”. Isso pode dar em qualquer coisa.
Com dois minutos no programa eleitoral gratuito contra 11 de Dilma e quatro de Aécio Neves, só as redes sociais e a internet poderão socorrê-la. Tomara que isso aconteça e que ela ponha carne no feijão. A ideia de uma candidata a líder espiritual reconforta o eleitor desencantado com a polaridade PSDB-PT, com seus mensalões mineiro e federal. Para o primeiro turno isso é um bálsamo. Para o segundo, uma aventura.
Aécio Neves retoma campanha nesta segunda-feira, no Rio de Janeiro
O candidato à Presidência da República da Coligação Muda Brasil, Aécio Neves, estará nesta segunda-feira (18/08), no Rio de Janeiro. Pela manhã, a partir das 10 horas, ele visitará a Unidade da Polícia Pacificadora (UPP) da Comunidade de Santa Marta, em Botafogo, Zona Sul, do Rio.
À tarde, a partir das 15 horas, Aécio se reúne com o presidente estadual do PSDB do Rio de Janeiro, o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha, parlamentares e candidatos do partido nas eleições de outubro.
Cientista político crítico de Eduardo viu festa exagerada em velório
Recebi o artigo abaixo ainda no sábado, em plena comoção com a morte do ex-governador Eduardo Campos e não publiquei em respeito a dor da família. No entanto, como acredito na liberdade de expressão, estou publicando-o agora, em nome da pluralidade que marca o Blog de Jamildo. Antes, recomendo a leitura de dois posts anteriores, em que a própria viúva Renata Campos explica porque não queria uma despedida triste.
“Esse negócio de tristeza, aqui não combina”, diz Renata Campos
Renata Campos vai transformar o luto em luta, em favor de Marina e Paulo Câmara
Quando a morte é uma festa
Por Michael Zaidan Filho
Esse é o título do livro escrito pelo historiador baiano João Reis, falando dos velórios realizados no interior do Brasil. Para não fugir à tradição, o velório e o funeral do ex-governador de Pernambuco e ex-candidato à Presidência da República pelo PSB tem tudo para se transformar num mega-espetáculo, inclusive com carros de som convocando a população do Recife para o evento fúnebre, a ser realizar – aliás – no Palácio do Governo. A festa tem a cara de uma ato político-eleitoral, com a anuência da família do falecido.
Nem bem ainda o IML tinha realizado o exame de DNA para a identificação dos despojos que corresponderia ao corpo do ex-governador, o irmão- literato usou de suas habilidades intelectuais para redigir uma carta aberta propondo a substituição do irmão morto pela irmã (de fé?) Marina Silva na cabeça da chapa majoritária do PSB. Não deixa de ter seu valor de curiosidade etnológica essa mistura – tipicamente nordestina e brasileira – entre negócios e luto. A morte também pode ser um grande negócio. Haja vista a venda de flores pelas floriculturas do Recife. Muitas lucram com a morte trágica e o sentimento de luto da família do ex-governador. Daí a preocupação com o funeral que deve contar com honras de Estado.
Lembrem-se do suicídio de Getúlio Vargas, a morte de Tancredo Neves, a morte de Miguel Arraes e agora, a do seu neto e herdeiro político. Muita gente quer tirar proveito desse funeral. Até os adversários e ex-adversários políticos do ex-governador. Um evento desse tipo pode ser facilmente transformado – com o auxílio inestimável da mídia e do governo estadual – numa comoção popular semelhante à perda do pai primordial, do deus ancestral, das divindades totêmicas que velam pela sorte dos vivos. Não será a primeira vez na história política brasileira.
O primeiro desaparecido ilustre que encabeça a lista é o rei D. Sebastião Diniz, morto na batalha de Al Kacequibir, na Africa, em sua cruzada contra os mouros. A espera messiânica de D. Sebastião – romanceada por Ariano Suassuna – alimenta até hoje o imaginário político brasileiro, que vive aguardando o retorno do encantado. A transformação do messianismo religioso em messianismo político para, hoje em dia, obra de assessores de campanha política a serviço da esperteza de parentes do falecido (lembrar a carta aberta do irmão- literato)
Não vai ser tarefa fácil. Um líder religioso ou profano não surge assim da noite para o dia, por obra e graças de um desastre aéreo, por mais investimento simbólico-propagandístico que venha a receber. A tragédia desses líderes precisa corresponder- de verdade – a uma vida de sacrifício, de dedicação ao interesses da população, martírio, exílio e morte. Como dizia Hegel, os verdadeiros líderes históricos não passaram de caixeiros viajantes do espírito absoluto: uma vez cumprida a sua tarefa, são abandonados à sua própria e infeliz sorte. Não é bem este o caso do neto de Arraes.
Nem na vida, nem na morte se vê indício de sacrifício ou abnegação por uma grande causa humanitária. Quem se lembra da foto, divulgada pela imprensa, o ex-governador tomando champagne em seu jatinho, enquanto a população de Pernambuco sofria com a greve dos policiais do seu “pacto pela vida”, não pode concordar com o seu ingresso no Panteão dos deuses. A rigor esse exercício de santificação é mais da responsabilidade dos que estão vivos (bem vivos) do que do morto.
Em primeiro lugar, da família, que não quer perder o controle da sucessão do cabeça de chapa. Daí a carta-aberta do irmão literato. Segundo da ex-senadora Marina Silva de olho em sua indicação oficial, na próxima quarta-feira, como sucessora de Campos. Do Próprio PSB em encontrar um nome a altura de substituir o nome do ex-governador na chapa majoritária. E da coligação política local em garantir a eleição do preposto para o governo estadual.
No fundo, a morte é um bom negócio. De um cenário pouco estimulante, pode se fazer uma mudança eleitoral que beneficie a candidata e a coligação estadual do PSB. Como diziam os filósofos, a morte é sempre um problema para os vivos. Eles é quem tem de ressignificar a tragédia para dar um novo sentido às suas vidas e ambições. E assim, quando o cortejo fúnebre passar pelas ruas do Recife, com o esquife dos mortos, na triste caminhada onde estarão o coração, a mente, os sentimentos de muitos daqueles, que na frente das câmaras, se desesperam e choram como as antigas carpideiras contratadas para se lamentar nos velórios das cidades do interior do País.
Descubra mais sobre Blog do Levany Júnior
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.