É imprevisível o comportamento do eleitor
Entrevista – Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo Metropolitano de Natal
Anna Ruth Dantas
Repórter
Arcebispo metropolitano de Natal, dom Jaime Vieira Rocha orientou o clero para não assumir posturas político-partidárias para o pleito deste ano. Embora ponderando que como cidadão o padre deve atuar, dom Jaime alerta que nenhuma posição político-partidária pode ser levada ao altar. Chamando atenção para importância do processo democrático, o arcebispo analisou que não é benéfico para comunidade o sacerdote declarar apoio a um candidato. Mas destacou que é preciso estimular a população a participar do processo eleitoral. “Declarar-se por um candidato isso não é possível, não é benéfico para a comunidade e para missão do padre como tal. Cada um que tem sua vida particular, sua cidadania, e estará livre para exercer esta cidadania e esta grande dignidade da pessoa humana que é pode votar e ser votado”, destacou dom Jaime.
O arcebispo ressaltou a grande necessidade das reformas política e eleitoral e destacou que a igreja tem muito a contribuir com isso. “Há campanhas a serem lançadas sobre reforma eleitoral, reforma política, a igreja tem interesse nisso e contribuirá de modo cidadão para isto”, frisou. Para dom Jaime o grande drama a ser enfrentado pelos políticos no pleito deste ano é o próprio desgaste da classe. “O grande drama e desafio para os candidatos normalmente é a carga, há o peso de um desgaste normal, geral da política como um todo no nosso país”, analisou. Confira a entrevista que dom Jaime concedeu a TRIBUNA DO NORTE:
Qual a recomendação do senhor para os padres neste período eleitoral?
A recomendação é permanecer sendo o mesmo, para cada um zelar na sua condição de padre, pastor de comunidade, zelar pela isenção político partidária. Agora todos nós somos, Graças a Deus, cidadão e ser político, o que se pede é que não tenha alguma relação assim explícita visível do altar, da posição do padre na comunidade. Declarar-se por um candidato isso não é possível, não é benéfico para a comunidade e para missão do padre como tal. Cada um que tem sua vida particular, sua cidadania, e estará livre para exercer esta cidadania e esta grande dignidade da pessoa humana que é pode votar e ser votado. É Graça muito grande vivermos no Brasil este processo de aperfeiçoamento democrático com eleições normais e esperamos que seja realizado com lisura, transparência e credibilidade. Importante que possamos ser político, as nossas posturas também podem dizer alguma coisa nesta linha e não sou adepto nem devoto de cartilhas, o tempo da cartilha já passou. A CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) publicou reflexão válida, pensando no Brasil diante das eleições 2014 e é nesta perspectiva que deveremos investir para que a população se sinta autônoma, livre e consciente. Estamos vivendo um tempo de Brasil bastante novo, a população está se sentindo mais consciente e participativa para esse processo.
Caso algum padre assuma postura de apoiar candidato no exercício da sua atividade na comunidade, o senhor poderá adverti-lo?
Não gostaria de estar já fazendo essas previsões, nem antecipando esses fatos. Tudo gera expectativa e pode induzir a alguma atitude que venha realmente neste sentido. Vamos orientar de modo tranqüilo e dialogar, falando para o clero, durante as nossas reuniões, e alertando para zelar e pelo comportamento da isenção política neste processo político eleitoral. É claro que devemos apostar no direito do cidadão, de todos nós, com o voto consciente e o zelo pelas lideranças. Mas é preciso que a igreja, e precisamos identificar uma forma, que não seja explícita do ponto de vista político e partidário porque isso desgasta e compromete, como agir para os católicos, das comunidades tenham a clareza de identificar o politico, as pessoas que pela sua vida pública, pela sou comportamento se dedicam a sociedade e ao bem comum e ao que faz parte da vida da igreja, o mundo se move pela política. Seria hipocrisia querer prescindir essa sociedade plural, aberta e democrática, a política está aí. Se nós não valorizarmos os que estão conosco, se declaram pela igreja, as comunidades sabem com quem podem contar. Eu falo muito de preservar e garantir espaços na sociedade tão complexa, global, onde há tantas disputas por domínios e interesses particulares.
O que o senhor diria para os católicos neste processo eleitoral?
Participem. Não podem dizer que não irão votar em ninguém. Precisam tomar posição sem proselitismo.
A Arquidiocese fará algum evento de debate com os candidatos?
Como a campanha está começando tudo isso é possível. A dinâmica tem o seu tempo, há uma necessidade motivação. Estamos no final da Copa do Mundo. Passada a Copa e todo clima de futebol, aí vem atenção para política. Este ano se reveste da circunstância bastante ampla, depois da Copa vem as eleições. Certamente as atenções se voltam para a política, independente de quem quer que seja. A política é a arte do bem comum. É um exercício da democracia e é preciso que a sociedade possa investir. Muito provável que após este momento que vivemos atualmente (de Copa do Mundo) possamos ir vendo com os nossos grupos, pastorais sociais, a vida da igreja e sociedade, oportunizar seminário, sobretudo a discussão da política como tal. Há campanhas a serem lançadas sobre reforma eleitoral, reforma política, a igreja tem interesse nisso e contribuirá de modo cidadão para isto. Então é momento de reflexão e contribuição que nós podemos dar para o crescimento da democracia.
Quais são os principais dramas a serem enfrentados pelos candidatos neste pleito?
O grande drama e desafio para os candidatos normalmente é a carga, há o peso de um desgaste normal, geral da política como um todo no nosso país. Vivemos o momento atual da história. Claro que com isso não generalizamos todos (os políticos) no mesmo patamar de avaliação, de julgamento, há sempre pessoas muito boas, políticos dedicados, consagrados e respeitados e devem exercer este mandato que lhe é próprio. Nem todo mundo nasceu para política. É vocação. A sociedade precisa ajudar a confirmar valores, aperfeiçoar processos. Para classe política hoje é desafio, é como peso essa herança recebida que vem sendo visível as pessoas atentas a isso. São muitos os desafios. Vemos essas somas astronômicas de seus bens, patrimônio (dos candidatos divulgadas pelo Tribunal Regional Eleitoral), mas também o que vão gastar. Isso é preocupante para que essas coisas se transformem e mudem. A reforma eleitoral e reforma política precisam ser enfrentadas.
O que esperar do eleitor nesta campanha?
Diante dos últimos acontecimentos e com o componente novo na vida sociopolítica econômica do país, com o fenômeno das manifestações, confesso que vejo como algo imprevisível (o comportamento do eleitor). Nós continuamos, mais do que nunca no ano eleitoral, com a força e independência das redes sociais. Não sabemos para onde (os eleitores) vão pender. E tem também o grande eleitorado do Nordeste que não detém o uso dessa ferramenta (a rede social) restrita a parcela da população. Mas ela (a rede social) não deixa como meio de exercer sua influência. O povo brasileiro está muito consciente do seu papel, seu valor e sua força agora.
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