SÃO GONÇALO DO AMARANTE RN-Amor por pães: conheça a história de dois empreendedores


 

Julia Macedo sempre soube que queria ser padeira (Foto: Aline Bertuol)Julia Macedo sempre soube que queria ser padeira (Foto: Aline Bertuol)

Julia Macedo sempre soube que queria ser padeira (Foto: Aline Bertuol)

Farinha, fermento, água, sal e muito amor são os ingredientes básicos para se fazer um pão de fermentação natural. E essa é a rotina de Julia e Carlos, ambos são empreendedores no ramo da panificação em Florianópolis. Mas antes de colocar “a mão na massa”, eles percorreram outros caminhos.

A manezinha, Julia Macedo, de 24 anos, abriu em 2015 a padaria Pão à Mão, no bairro Santa Mônica, na Capital. Graduada em Administração, Julia conta com sinceridade que não era daquelas estudantes do curso que sonhava em empreender, ela conta que não tinha o perfil, e assume que o sonho mesmo era de ser padeira.

“Só que não existia nenhuma padaria em Florianópolis que fosse exatamente como eu sonhava, então tive que criar uma. E foi quando chegou a hora de fazer o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) que resolvi fazer um plano de negócios sobre um clube de assinatura de pães semanal e foi assim que a Pão à Mão começou”, lembra.

Aos poucos e com o apoio e incentivo da família – os pais de Julia, Celina e Jurandir trabalham com educação financeira – ela teve liberdade para empreender e dar um passo de cada vez.

“Só fui abrir um CNPJ depois de um ano com a padaria porque até então ela funcionava nos fundos da casa dos meus pais. E acredito que sem esse apoio seria impossível, pois no início os pães davam uma renda variável que eram suficientes para continuar produzindo e pagando as minhas contas pessoais”, lembra.

Quando o clube assinaturas começou, Julia planejava o cardápio, fazia as compras e toda a produção sozinha em um quarto nos fundos de casa e no final da tarde de sexta ela saia correndo para fazer as entregas. Eram sempre dois tipos de pão e um doce.

“Com o tempo a demanda e a produção foram crescendo até que não conseguia mais dar conta sozinha. E em 2016 alugamos uma sala [em um centro comercial] e montamos uma pequena fábrica em que os clientes vinham comprar pães frescos, realmente feitos na nossa cozinha e sem pré-misturas”, relembra.

Com o passar dos anos a padaria foi crescendo e com o aluguel da sala ao lado foi possível ampliar a estrutura.

“Hoje nós somos em 16, contando comigo, tudo é produzido aqui a partir de água, farinha orgânica, sal e muito esforço. Tenho muito orgulho da minha equipe”, conta.

Paixão pela cozinha

Oriunda de uma família com descendência italiana, alemã e portuguesa, o gosto pela cozinha foi despertado ainda cedo. Julia conta que sempre gostou muito de cozinhar, tanto que quando saiu do ensino médio foi aprovada em dois cursos Gastronomia e Administração.

“Comecei a cursar as duas, mas depois de um semestre senti que não estava fazendo nenhuma das duas direito, e decidi, mesmo gostando muito da Gastronomia, seguir estudando Administração na Federal”, lembra.

Em 2014, Julia percebeu que a cozinha era realmente a sua área, pediu demissão do estágio de planejamento financeiro e foi trabalhar em um pequeno restaurante de massas artesanais.

“Hoje percebo que eu realmente não consegui fugir da cozinha e fico super feliz com isso. A parte boa é que agora eu tenho autonomia em todas as áreas da padaria”, sorri.

Além do curso intensivo de panificação na Levain Escola de Panificação do Rogério Shimura, em São Paulo, Julia tem uma biblioteca imensa de livros de gastronomia, que segundo ela foram lidos e estudados.

Fermento pra massa crescer

Julia lembra que passou por alguns “perrengues” no começo, mas que hoje consegue pagar todas as contas, inclusive o próprio salário.

“De lá pra cá muita coisa mudou, formas, tamanhos e fórmulas. Mas acho que em termos de mudança, o que mais mudou fui eu. Sinto que empreender está sendo uma jornada de crescimento pessoal impagável e completamente doida”, completa.

Crescente expansão

O mercado da panificação está crescendo bastante, especialmente as padarias de fermentação natural e com ingredientes de verdade. Essa volta à alimentação natural é uma tendência mundial e Julia fica feliz ao ver outros empreendimentos conquistando espaço. Tanto que distante cerca de três quadras, também no bairro Santa Mônica, está a Benvenuta Pães Especiais, aberta por Carlos Augusto Kiehl, em junho de 2016.

Carlos Kiehl foi da hotelaria à padaria (Foto: Bruno Pagliarelli)Carlos Kiehl foi da hotelaria à padaria (Foto: Bruno Pagliarelli)

Carlos Kiehl foi da hotelaria à padaria (Foto: Bruno Pagliarelli)

Da hotelaria para a panificação

Gaúcho de Passo Fundo, Carlos, 42 anos, mudou para a capital catarinense em 2008. Ele atuou por 20 anos na área de hotelaria até decidir empreender e abrir o próprio negócio.

“Iniciei em hotelaria ainda como estagiário no hotel San Martin, em Foz do Iguaçu (PR). Ali passei por todas as áreas, desde a lavanderia até a recepção. Um tempo depois fiz meu segundo estágio no Hilton em São Paulo (SP), e fui contratado pouco antes de terminar o período curricular do estágio”, lembra.

Em 1998, Carlos pediu demissão e voltou para o Sul. Em Porto Alegre trabalhou em três redes até que foi convidado, em 2006, para gerenciar um hotel, em Caxias do Sul (RS). No período acumulava a função de gerente geral e gerente regional de vendas da rede.

Permaneceu por dois anos no cargo até que em 2008 mudou para Florianópolis para trabalhar na implantação de um resort em Jurerê Internacional. De lá pra cá atuou em vários hotéis da região, prestou coinsultoria para outros, até outubro de 2015. Chegou a receber em 2011 o prêmio VIHP (Very important Hotel Person) como melhor gerente geral de hotéis categoria “Midscale” no Brasil.

“Em novembro do mesmo ano fiz o curso Empretec do Sebrae, quando busquei ampliar meu conhecimento, visando empreender em alguma área até então não definida. Após o curso comecei a montar o plano de negócios do que hoje é a Benvenuta Pães Especiais”, lembra.

O empreendedor fez também um curso na área de panificação na “Levain”, de propriedade do Rogério Shimura, um dos nomes mais conhecidos e respeitados do Brasil nessa área.

Hora de mudar

Carlos comenta que é complicado deixar uma área da qual dominamos e temos reconhecimento no mercado para ser novato em outra, ainda mais quando a ideia é empreender.

“Temos que buscar soluções, seja colocando dinheiro, dedicando tempo e assumindo riscos e compromissos. Empreender significa motivar-se dia a dia, não deixar “a peteca cair” e ter sempre presente o risco de falharmos e termos que começar novamente”, diz.

Porque a panificação?

Um dia quando estava voltando para casa, Carlos passou em um local que tinha fama por seus pães e comprou um para o jantar. Ele conta que ficou preso no trânsito e começou a ler o rótulo da embalagem.

“Confesso que fiquei confuso com a quantidade de ingredientes que aquilo tinha e comecei a me questionar se aquilo tudo era realmente necessário para fazer um produto, já que muitas vezes assisti minha avó fazer usando apenas farinha, fermento, água e sal”, conta.

E ao pesquisar, descobriu que o pré-mix, uma mistura de ingredientes industrializados resulta sim, em pães, porém com uma carga de química que garantia mais durabilidade.

“Fui em busca da panificação por fermentação natural, que é a forma original de fazer pão. Isso, por todos os benefícios que agrega tanto nutricionalmente quanto em termos de sabor, aroma e durabilidade”, destaca.

Herança gastronômica

O gosto pela gastronomia vem desde que Carlos era pequeno. Ele diz que isso foi herdado dos pais, Arno Otto Kiehl, já falecido, e Ana Maria Kiehl.

“A mãe sempre me disse que um desejo de meu pai era abrir um restaurante, e muitas lembranças que tenho envolvem reuniões em família sempre em volta de uma mesa com almoços e jantares preparados por ele”, recorda.

Crescimento em mais de 100%

Desde o primeiro ano até hoje a padaria teve um crescimento bruto em mais de 100%. Carlos diz que se for comparado apenas os últimos 12 meses, o crescimento é de cerca de 35%.

“Começamos com quatro funcionários, sendo dois na produção e dois no atendimento. Nesse ponto, e até por questões de espaço físico, não crescemos muito, apenas agregamos um a mais na produção. Havia também um sócio, que ficava com a parte de caixa e administrativa, e isso me permitia ficar focado na produção. Com a saída dele foi preciso reorganizar as funções”, completa.

Serviço

Pão à Mão – Florianópolis/SC

Benvenuta Pães Especiais – Florianópolis/SC

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