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02/05/2016 12h57 – Atualizado em 02/05/2016 13h22

‘Percebi nela muito medo’, conta pai de jovem desaparecida no Pará

Estudante ligou para a família que vive em Belém após desaparecer há 1 mês
PF suspeita que ela tenha sido aliciada após converter-se ao islamismo.

Do G1 PA

Após desaparecer de Belém há cerca de um mês, a universitária Karina Raiol Barbosa, de 20 anos, finalmente fez contato com a família. Equipes da Interpol e da Divisão Antiterrorismo da Polícia Federal investigam o caso, que corre em sigilo, para saber se a jovem teria sido aliciada para deixar o Brasil após se converter ao islamismo e se há ligação com grupos extremistas.

Os pais da estudante de jornalismo contam que foram surpreendidos por uma ligação da jovem há poucos dias.

“Nesse contato, ela estava muito nervosa. Aí eu disse: ‘Filha, onde você está?’. Ela me disse ‘Pai, eu não posso dizer isso senão eu vou ter problemas’. O que eu percebi nela foi muito medo e aquilo apavorou a gente”, revela Nerino de Almeida Barbosa, pai de Karina.

O número de telefone que a estudante usou para entrar em contato com a família está registrado em nome de uma empresa localizada na cidade de Linhares, no Espírito Santo. A equipe de reportagem foi ao local para obter informações, mas ninguém foi encontrado no endereço. Segundo os vizinhos, a sala nunca foi ocupada.

“Essa ideia de que simplesmente a Karina foi embora porque quis, isso aí não entra na minha cabeça não. Com certeza ela foi aliciada. Eu quero que a Polícia Federal cumpra o papel dela e esclareça pra gente isso tudo”, pede o pai da universitária.

“Eu só queria que ela se materializasse na minha frente, eu pudesse abraçar ela e não soltar mais”, conta, emocionada, a mãe, Rosiane da Silva Raiol.

Desaparecimento

Segundo a polícia, Karina raiol saiu do Brasil no último dia 5 (Foto: Arquivo Pessoal/ Karen Raiol)Segundo a polícia, Karina raiol saiu do Brasil no
último dia 5 (Foto: Arquivo Pessoal/ Karen Raiol)

De acordo com a família, Karina saiu de casa às 10h do dia 4 de abril, levando apenas um casaco fino e uma sandália. O último contato com a jovem foi às 13h do dia 4. Karina informou que estava gravando vídeos para um trabalho na Universidade Federal do Pará (UFPA), onde cursava Jornalismo, e disse que iria dormir na casa da avó. Em seguida, o telefone de Karina ficou fora de área. Por volta de 18h, os parentes foram até a universidade, mas não a encontraram.

“O celular dela já estava dando desligado e eu pensei ‘Isso não é normal'”, afirma a mãe.

No aeroporto internacional de Belém, o pai soube, com auxílio da polícia, que Karina havia tirado passaporte em dezembro de 2015. No dia 5, os parentes descobriram que Karina havia se afastado da universidade. De acordo com a UFPA, a estudante já não frequentava o curso. Apesar de não ter trancado a matrícula, Karina tinha muitas faltas, e no começo de fevereiro deixou de ir à aula.

A Polícia Federal informou que Karina decolou de Belém no dia 4 de abril, às 17h, fazendo uma conexão em Belo Horizonte, às 20h, antes de seguir para o aeroporto internacional de Guarulhos, em São Paulo. Na manhã do dia 5, ela viajou para Casablanca, no Marrocos, a última parada antes chegar à cidade de Istambul, na Turquia.

A irmã de Karina, Karen Raiol diz que buscou o paradeiro da estudante tentando acessar o e-mail pessoal com o uso da senha que tinha. Em meio a muitas mensagens, encontrou um e-mail de Karina para uma empresa especializada em transferências bancárias internacionais. No email, Karina diz: “Preciso receber um dinheiro vindo do exterior e gostaria de saber como funciona. Nunca usei e é a primeira vez que recebo valores do exterior”

“Eu tenho a convicção de que esse dinheiro custeou a viagem dela para fora do país”, supõe a irmã. O pai também acredita na hipótese. “Karina não tinha dinheiro”, diz ele.

A última localização da jovem indica supostamente um hotel em Istambul. No celular, a irmã conta que encontrou uma mensagem de um site de reservas que pergunta como foi a estadia dela entre os dias 6 e 8 de abril.

Isolamento e conversão ao islamismo
Segundo a família, Karina era uma jovem tímida e caseira. Reclusa, ela não tinha muitos amigos e só costumava sair para ir à aula. De acordo com Karen, no começo da adolescência, a irmã sofreu de depressão e vivia isolada. “Ela fez tratamento, tomou remédios, e havia um pré-diagnóstico de esquizofrenia. Passaram até um exame cerebral, mas com o tempo ela melhorou e não fizemos”, relata.

Câmera de celular registrou a conversão de Karina ao islamismo, em 2015. (Foto: Reprodução/ TV Liberal)Câmera de celular registrou a conversão de Karina
ao islamismo, em 2015.
(Foto: Reprodução/ TV Liberal)

Em 2014, Karina iniciou um curso de língua árabe que teria relação com a UFPA. Em seguida, passou a frequentar a mesquita de Belém. Em nota, a UFPA informou que segundo o professor Saif Mounssif, pesquisador da Faculdade de Engenharia Naval da universidade e integrante do Centro Islâmico Cultural do Pará, a estudante esteve, em 2014, em um curso de língua árabe oferecido pelo Centro e, pouco tempo depois, manifestou o desejo de conversão à religião muçulmana. Em abril de 2015, ela se converteu ao islamismo, e um vídeo pela câmera de um telefone celular mostra a cerimônia de conversão da estudante.

“Ela nos chamou, a mim e o pai para uma conversa inclusive ela estava nervosa e falou que queria se converter ao islamismo. Aí nos perguntamos por que e ela disse que foi onde encontrou Deus”, diz a mãe.

Mounssif, porém, ressalta que o curso de idioma não aborda questões políticas ou religiosas em relação ao Estado Islâmico. Segundo Saif, Karina deixou de frequentar o espaço em novembro de 2015.

“Eu comecei a me preocupar um pouquinho porque a gente sabe que um muçulmano recém-convertido, ele não pode ficar procurando informação em qualquer lugar. Ele não pode ficar na internet achando que lá só tem coisa boa”, esclarece.

“Ela gostava muito da comida árabe, gostava de todas as meninas, e ela não quis mais estar com a gente”, explica Vânia Mounsif, colega de mesquita.

Após o desaparecimento, a irmã descobriu outra atitude estranha de Karina ao acessar o celular dela: em uma rede social, a jovem comprou um niqab, vestimenta que deixa apenas os olhos visíveis. O traje, pouco visto no Brasil, é usado por mulheres muçulmanas em países onde a tradição islâmica é mais forte.

Terrorismo
Em busca por pistas, Karen foi atrás de outras pessoas com quem Karina ainda conversava e chegou até a professora do curso de inglês.

“Ela relatava sobre a situação do povo da Síria, como é que eles estão vivendo”, detalha a professora Danielly Silva Barbosa Silva.

Em mensagem escrita por Karina em uma rede social, ela opinou sobre o terrorismo. (Foto: Reprodução/ TV Liberal)Em mensagem escrita por Karina em uma rede
social, ela opinou sobre o terrorismo.
(Foto: Reprodução/ TV Liberal)

Em uma das mensagem, a universitária criticava as condições de vida da população na cidade controlada pelo ditador Bashar Al Assad. Desde 2011 a Síria vive uma guerra civil entre tropas do governo e extremistas islâmicos.

“Agora eu penso nos ‘afortunados que conseguiram escapar dessa cidade, que outra opção eles têm senão se juntar aos grupos terroristas? É a única forma de lutar contra o governo porque os países ocidentais e árabes não estão fazendo nada”, escreveu.

“Ela estava falando que as pessoas acabam aderindo ao terrorismo, mas não que eles fossem pessoas ruins, mas eu não vi nada preocupante”, afirma Danielly.

O pai da universitária só vê uma única possibilidade para explicar a saída da filha do país.

“Eu tenho a certeza absoluta de que ela estava sendo orientada a fazer toda essa ação”, suspeita.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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