As 15 mulheres mortas a tiros por motociclistas desde janeiro deste ano, em Goiânia, têm idades entre 13 e 29 anos. Elas não possuem características físicas semelhantes, mas a maioria possui cabelos longos e de cor escura. Em todos os casos, os crimes tiveram dinâmica parecida: o suspeito chega de motocicleta, saca a arma, dispara contra a vítima e foge sem levar nada.
Uma força-tarefa investiga os crimes desde o último dia 4, mas nenhum assassinato foi solucionado até agora. Um suspeito de envolvimento na morte de duas dessas mulheres foi detido, conforme anúncio feito na última sexta-feira (8) pela polícia.
Assassinatos
O primeiro homicídio cometido por um motociclista foi o de Bárbara Luíza Ribeiro Costa, de 14 anos, em 18 de janeiro, no Setor Lorena Park. Este caso passou a ser incluído na força-tarefa no decorrer da investigação, pois transcorreu com algumas diferenças em relação aos demais. No dia do crime, segundo a ocorrência, a menina estava esperando a avó no banco de uma praça quando um homem em uma motocicleta atirou no peito da vítima e fugiu sem levar nada.
Um dia depois, em 19 de janeiro, Beatriz Cristina Oliveria Moura, de 23 anos, foiassassinada ao sair para comprar pão no Setor Nova Suiça. Pessoas que presenciaram o crime relataram à Polícia Militar que um motociclista armado passou próximo à vítima e efetuou os disparos. O suspeito fugiu sem levar nenhum pertence da jovem.
A dona de casa Lílian Sissi Mesquita e Silva, de 28 anos, foi a terceira mulher assassinada de forma semelhante. O crime ocorreu em 3 de fevereiro, quando ela foi buscar os filhos, de 10 e 6 anos, na escola, no Setor Cidade Jardim. Um motociclista parou no meio da rua, esperou a vítima se aproximar, desceu do veículo, chegou perto dela e deu um tiro no peito. O suspeito fugiu em seguida sem levar nada.
lanchonete (Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)
O quarto caso similar ocorreu mais de um mês depois, em 14 de março. Na ocasião, a assessora parlamentar Ana Maria Victor Duarte, de 27 anos, foi baleada em frente a uma lanchonete do Setor Bela Vista. De acordo com a Polícia Militar, ela estava na companhia do noivo e de uma amiga em frente ao local quando um homem deu voz de assalto. Ele pediu o celular do homem, que entregou. Depois, pediu o da vítima, mas ela disse que não estava com ele. Logo em seguida, a mulher foi baleada. O suspeito fugiu sem levar nada. A Polícia Civil chegou a divulgar um retrato falado do suspeito e a informar que ele seguiu a assessora da residência dela até a lanchonete.
Na noite de 23 de abril, Wanessa Oliveira Felipe, de 22 anos, morreu ao levar um tiro nas costas em uma farmácia do Bairro Goiá. Testemunhas relataram à PM que o suspeito chegou ao local em uma moto preta usando capacete e fugiu após o crime sem levar nada. A jovem morreu no local.
(Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)
O sexto crime cometido por um motociclista foi registrado em 8 de maio, em um bar no Setor Jardim América. Um homem em uma motocicleta preta se aproximou e atirou contra Janaína Nicácio de Souza, de 25 anos, que morreu no estabelecimento. Ela estava acompanhada de um amigo, que não foi atingido.
No mesmo dia houve a sétima execução de mulher por um motociclista em Goiânia. Bruna Gleycielle de Sousa Gonçalves, 26 anos, estava em um ponto de ônibus da Avenida T-9, no Setor Bueno, quando um homem pediu o celular, antes mesmo de ela pegar o aparelho na bolsa, o suspeito atirou. Ele fugiu sem o telefone. A vítima, que tinha acabado de sair do trabalho, morreu no local.
Em 23 de maio, a polícia registrou o oitavo homicídio com características de execução semelhantes. A adolescente Carla Barbosa Araújo, de 15 anos, estava sentada com a irmã, de 17 , em um banco quando elas foram abordadas por um motociclista. O suspeito atirou na garota mais nova após as meninas afirmarem que não portavam celulares. Ele fugiu em seguida.
(Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)
Mês mais violento
A nona vítima de um motociclista foi a estudante Isadora Aparecida Cândida dos Reis, 15 anos. Campeã brasileira de capoeira, a adolescente foi assassinada quando estava voltando para casa com o namorado, no Setor São José, em 1º de junho. O ladrão deu voz de assalto e atirou quando a vítima deixou o celular cair no chão. Ele fugiu sem levar nada.
Em 15 de junho, a décima mulher foi executada na capital por um motociclista, no Centro. Grávida de cinco meses, Thamara da Conceição Silva, 17 anos, seguia com o marido para uma igreja, quando sentou em um banco da praça entre a Rua 3 e a Alameda Botafogo. Um motociclista se aproximou e, sem falar nada, atirou contra a jovem. Um dia após o crime, o marido dela foi detido, pois havia um mandado de prisão aberto contra ele pelo crime de tráfico de drogas. Na ocasião, ele negou participação no homicídio da mulher.
No mesmo dia, a 12ª jovem foi executada por um homem em uma motocicleta. Conforme a polícia, Taynara Rodrigues da Cruz, de 13 anos, conversava com uma amiga na Praça da Bandeira, que fica na frente à escola na qual ela cursava o ensino fundamental, quando um motociclista chegou e atirou. Segundo a investigação, o suspeito mandou a outra garota correr para também não ser baleada e ela escapou ilesa. Taynara, que é a mais nova das vítimas dos casos apurados, não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
(Foto: Reprodução/ TV Anhanguera)
Ainda no dia 15 de junho, ocorreu outro assassinato de mulher na capital. Desta vez, Danielly Garmus da Silva, 23 anos, estava com mais três pessoas em um bar no Setor Jardim Curitiba 4. Testemunhas relataram aos policiais que dois motociclistas passaram em frente ao local e atiraram. Apenas um dos feridos resistiu.
Vítimas em carro
A 13º vítima, Rosirene Gualberto da Silva, 29 anos, foi assassinada no dia 19 de julho, no Setor dos Funcionários. A PM relatou na época do crime que ela estava acompanhada da irmã em um VW Gol, quando elas foram abordadas pelo homem armado que se aproximou em uma motocicleta e deu voz de assalto. Segundo a polícia, o suspeito exigiu que as vítimas entregassem as chaves do carro. Enquanto ela procurava, o criminoso efetuou vários disparos que atingiram as duas e fugiu, sem roubar nenhum pertence delas. A irmã de Rosirene sobreviveu.
(Foto: Mariana Gomes/ Arquivo Pessoal)
Menos de uma semana depois, um motociclista atirou em Juliana Neubia Dias, 22 anos, que estava dentro de um Fiat Palio, com o namorado, parada em um semáforo no Setor Jardim América. De acordo com relatos do companheiro da vítima à Polícia Militar, o suspeito parou ao lado do carro e efetuou diversos disparos, que atingiram o pescoço e o tórax da garota. O rapaz e uma amiga que também estavam no carro não se feriram.
15ª vítima
A vítima mais recente do suposto assassino em série é Ana Lídia de Souza, de 14 anos, baleada em um ponto de ônibus do Setor Conjunto Morada Nova no dia 2 deste mês. Ela aguardava uma condução para se encontrar com a mãe na Feira da Lua, no Setor Oeste. Segundo a Polícia Civil, dos três tiros disparados pelo suspeito, dois atingiram o peito da menina. O motociclista fugiu logo após o crime sem levar nenhum pertence da vítima.
ônibus (Foto: Reprodução/TV Anhanguera)
Além dos assassinatos dessas mulheres, a Polícia Civil incluiu na força-tarefa a execução de um homem, que não teve as informações divulgadas, e duas tentativas de homicídios de vítimas do sexo feminino. No entanto, na sexta-feira, uma das tentativas de homicídio foi retirada das investigações porque, segundo a polícia, não passou de um boato. No total agora são investigados 17 casos: 15 assassinatos de mulheres, o assassinato de um homem e uma tentativa de homicídio contra uma mulher. Segundo o titular da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), Murilo Polati, estes casos podem ter relação com os demais.
Investigação
Para a Polícia Civil, os crimes tiveram dinâmica semelhante. Porém, conforme Murilo Polati, as investigações apontam que as motocicletas usadas são de marcas e cilindradas diferentes, além das descrições físicas dos suspeitos não serem as mesmas.
O delegado explica que algumas das investigações indicam crimes passionais e outras apontam envolvimento das vítimas com consumo e tráfico de drogas. Entretanto, ele não dá detalhes para não comprometer os inquéritos.
Desde maio, quando surgiu a possibilidade de que exista um “serial killer” na capital, após uma mensagem de voz compartilhada pelo aplicativo de celular Whatsapp, a Polícia Civil tratava o caso como um boato. No último dia 3, a corporação voltou a afirmar que não crê na possibilidade de que um assassino em série esteja agindo em Goiânia, mas revelou, pela primeira vez, que não descarta a hipótese.