‘Virou um passageiro’, diz especialista sobre piloto de avião após imagens


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Após a divulgação de imagens inéditas feitas por câmeras de monitoramento de um prédio em construção em Santos, no litoral de São Paulo, que mostram pela primeira vez o momento exato da queda do avião que matou o candidato à Presidência da República, Eduardo Campos (PSB), e mais seis pessoas no dia 13 de agosto, o G1 ouviu especialistas sobre o assunto, baseados no vídeo.

Britto analisa imagens do acidente com aeronave de Campos (Foto: Rodrigo Martins/ G1)Britto analisa imagens do acidente com aeronave
de Campos (Foto: Rodrigo Martins/ G1)

Segundo o comandante Marcus Estevão Bandeira de Britto, coordenador de Aviação da Escola Técnica de Pilotagem Congonhas, a questão estrutural da aeronave certamente será debatida durante as investigações sobre o acidente. “Qualquer coisa que a gente possa vir a falar ainda continua sendo especulação. Porém, o que ficou claro é que o piloto tentou a arremetida e houve algum problema estrutural. Ele não estava com incêndio no motor, não fez um pouso de emergência, assim como também não houve nenhuma falha em termos de potência. Ele simplesmente aparece descendo em um ângulo muito violento, cerca de 45 graus para baixo, em voo ‘picado’, voando literalmente em direção ao chão”, diz.

Ele também não descarta um problema nos flaps, que são estruturas nas asas do avião que, quando acionadas, aumentam a área de contato da asa com o ar fazendo com que, assim, a velocidade da aeronave diminua. “Esse modelo é um avião moderno, de última geração, que tem sistemas de segurança para evitar que isso aconteça. Mas, pode ter ocorrido alguma falha no sistema ou alguma coisa aconteceu para que a aeronave perdesse a condição de voo dessa maneira. Quando o avião perde a condição aerodinâmica, ele simplesmente cai. Já quando perde o motor, a aeronave plana até o chão. O problema foi estrutural. Pode ter sido um flap, pois se um deles recolhe e o outro não, traz um desequilíbrio para o avião”, comenta.

Comandante Britto falou sobre hipóteses do acidente (Foto: Rodrigo Martins/ G1)Comandante Britto falou sobre hipóteses do
acidenteem Santos, SP (Foto: Rodrigo Martins/ G1)

O comandante ressalta que a aeronave perde o controle em situações desse tipo. “Quando o flap não é recolhido na velocidade adequada, existem estabilizadores traseiros que colocam o avião em descendente. Então, esse tipo de assimetria não é tão incomum de acontecer. Com certeza, isso tira o controle aerodinâmico do voo”, explica.

Britto não descarta a hipótese de que o piloto tenha sido surpreendido por alguma falha técnica. “É bem dificil, na condição do ângulo que ele estava, fazer qualquer manobra nesse sentido. Ele não tinha condição nenhuma de segurar a aeronave. Ele foi para o chão sem controle e, pelo que vimos, ele praticamente virou um passageiro no voo”, conclui.

Já o piloto comercial Paulo Ortega, que também trabalha na Baixada Santista e está acostumado a sobrevoar a região há mais de 30 anos, não acredita que o piloto da aeronave  tenha escolhido um ponto para cair. “Não acredito nessa opção. Se constatado algum problema, o lugar mais indicado, nesse caso, seria a praia”, analisa.

Avião, Eduardo Campos, Santos (Foto: Guilherme Dionízio/Estadão Conteúdo)Especialistas analisam imagens da queda (Foto:
Guilherme Dionízio/Estadão Conteúdo)

Ortega conta que sobrevoou a região nesta terça-feira e observou a paisagem. “O local é um mar de telhados. Na velocidade em que o avião saiu das nuvens, acredito que tenha sido loteria e não escolha do piloto”, completa.

O também piloto comercial Maurício Gimenez, que trabalha há 18 anos na região, é mais um a descartar a possibilidade de o comandante da aeronave de Campos ter escolhido a área em que cairia. “O avião veio em uma descendente direta, caiu como um foguete. Com certeza ele não viu nada, não teve nem tempo de pensar ‘Eu vou pousar aqui, para ninguém se machucar’. Ele caiu completamente sem controle. Foi até um milagre não ter morrido ninguém que estava no solo, no momento do acidente”, pondera.

Gimenez vê algumas alternativas como possíveis explicações para a queda da aeronave que matou Eduardo Campos e outras seis pessoas. “Pelas imagens, o avião caiu sem nenhum comando, nenhuma atitude do piloto. Isso pode ter inúmeras razões, como problemas no flap ou desorientação do comandante. Por algum motivo, apesar de a aeronave ser moderna, ele pode ter perdido a orientação espacial, sem saber se estava voando de cabeça para baixo. Ele pode ter ficado sem nenhum tipo de visibilidade ou orientação por instrumentos”, acrescenta.

Trabalhos de buscas e investigação seguem no local do acidente com o avião de Eduardo Campos, um dia após a tragédia em Santos (Foto: Paulo Whitaker/Reuters)Local onde a aeronave caiu, matando Campos e
mais seis pessoas (Foto: Paulo Whitaker/ Reuters)

Investigações
A aeronave com prefixo PR-AFA, onde estava o candidato a presidência da República, Eduardo Campos (PSB), e mais seis pessoas, caiu por volta das 10h do dia 13 de agosto, no bairro Boqueirão, em Santos. (Veja como foi a queda do avião). Todos que estavam a bordo da aeronave morreram no local.

A Aeronáutica informou em nota que o avião decolou do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, com destino ao aeroporto de Guarujá, também no litoral. “Quando se preparava para pouso, o avião arremeteu devido ao mau tempo. Em seguida, o controle de tráfego aéreo perdeu contato com a aeronave”, informou.

Após o acidente, a Polícia Federal (PF) escaneou a área atingida pelo avião. As imagens foram registradas com a utilização de um drone, veículo aéreo com câmera não tripulado. Um mapeamento 3D foi feito a partir das primeiras fotos e vídeos que foram colhidos pelos peritos, com o objetivo de realizar uma possível reconstituição do que aconteceu minutos antes da queda do jato particular. Com o material coletado, PF conseguiu entender o trajeto feito pela aeronave.

A Força Aérea Brasileira (FAB) é responsável pela investigação do acidente aéreo. Todas as peças do avião, que foram encontradas no local do acidente, estão sendo analisadas por técnicos do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa). Especialistas americanos e canadenses, além de representantes da fabricante dos motores e do avião auxiliam as investigações na Base Aérea de Santos.

Segundo a FAB, a gravação da caixa-preta do avião com prefixo PR-AFA não é do voo de Campos e sim de outro voo realizado dias antes. A Aeronáutica informou, nesta terça-feira (19), ter constatado que o jato particular estava com o trem de pouso e os flaps recolhidos. O trem de pouso é composto por equipamentos e pneus para permitir a aterrisagem de aeronaves e os flaps são instrumentos na asa que reduzem a velocidade de aviões.

De acordo com a FAB, o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), responsável pela apuração do acidente, precisa saber em que momento o procedimento de recolher os flaps e o trem de pouso ocorreu e qual era a velocidade da aeronave, pois, segundo o manual do jato, é informado que o recolhimento dos flaps só pode ocorrer em velocidade inferior a 370 km/h.

A FAB também analisará itens relacionados ao “fator humano” do acidente. Entre as medidas que serão tomadas durante a investigação, está apurar se os pilotos estavam voando por mais horas seguidas do que a lei permite e ouvir os familiares deles para averiguar se Marcos Martins e Geraldo Magela Barbosa, os dois pilotos do jato, passavam por problemas pessoais.

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Levany Júnior

Levany Júnior é Advogado e diretor do Blog do Levany Júnior. Blog aborda notícias principalmente de todo estado do Rio Grande do Norte, grande Natal, Alto do Rodrigues, Pendências, Macau, Assú, Mossoró e todo interior do RN. E-mail: [email protected]

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