Sexo, amor e compulsão
A Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu o impulso sexual excessivo no Código Internacional de Saúde, como transtorno, em 1992. O problema atinge homens e mulheres, independente de classe social, idade ou orientação sexual. Porém eles representam 80% dos afetados.
São pessoas com fixação em pornografia, masturbação excessiva e sexo com vários parceiros e de forma repetida, sem controle, às vezes até mesmo em um único dia. O que importa é a quantidade e não a qualidade.
Nesse tipo de transtorno obsessivo-compulsivo, o sexo casual, inclusive com estranhos, passa a ocupar mais espaço do que família, trabalho, estudos e é cumulativo. Quanto mais sexo, mais vontade. Tudo isso causa sofrimento, depressão, angústia, ansiedade e até mesmo intenção de suicídio. O compulsivo sexual se expõe a riscos como doenças sexualmente transmissíveis e violência extremada.
Ainda são poucos os estudos sobre o assunto no Brasil. De acordo com um estudo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, São Paulo, pelo menos 72% dos pacientes com diagnóstico de compulsão sexual também apresenta m algum tipo de comorbidade psiquiátrica associada, como transtornos de humor e ansiedade.
O tratamento é a psicoterapia e, em alguns casos, medicamentos como antidepressivos, os inibidores seletivos de captação de serotonina, e os estabilizadores de humor. “Lembrar que esses medicamentos, na verdade, não param com a doença; eles controlam”, como explica o sexologista João Benévolo.
Enfrentando o problema
Para ajudar quem tem problemas não só com compulsão sexual, mas com relacionamentos de uma forma geral, foi criado o grupo Dependentes de Amor e Sexo Anônimos (DASA), que age nos moldes do conhecido Alcoólicos Anônimos.
Criado em Natal há três meses, o DASA é um programa de 12 passos que auxilia pessoas que se reúnem para expor seus depoimentos no enfrentamento de problemas como: sedução, amor demasiado, dependência de relacionamentos amorosos ou pessoas que com outras disfunções e neuroses emocionais, sexuais ou afetivas. A sala do grupo fica na rua João Pessoa, 2019, Edifício Sisal, sala 202, Cidade Alta, telefones: 8759-2300 e 9698-8889. E-mail: [email protected].
O DASA tem representações em várias cidades brasileiras e funciona como uma espécie de irmandade de cura e ajuda mútua. Todos os membros possuem padrões comuns de comportamento obsessivo e compulsivo, seja sexual ou emocional. O grupo foi formado originalmente, em 1976, em Boston, Estados Unidos, quando os seus membros iniciais perceberam que o sexo e a dependência emocional estavam afetando suas vidas de forma devastadora, tal qual o vício em drogas ou álcool.
João Benévolo aprova a iniciativa, com algumas ressalvas. “Eu já tenho casos de pacientes que melhoraram bastante. Eu acho bem interessante quando é bem conduzido. Se o paciente está motivado, esses grupos favorecem bastante. Você tem um suporte por trás, uma família, um emprego, é um bom caminho.”
Tratamento ou papoterapia?
A psicanalista Odete Bezerra não considera eficaz, em termos de tratamento, a reunião de pessoas para relatos e desabafos conjuntos de problemas de vida sem a presença de um terapeuta. Mas considera válido o método, que denomina de “papoterapia”, tal qual amigos que se encontram para falar de suas experiências pessoais. “Cada pessoa tem um motivo para ter desenvolvido aquele transtorno, mas alivia. Então, o encontro com o outro sem que tenha um profissional para dirigir e saber aproveitar a fala de cada um, porque cada um é tratado individualmente, no coletivo é como se fosse um tratamento em massa. Então, se tiver um terapeuta naquele encontro, naquela reunião, aí o proveito é considerado, sim, um tratamento curativo.”
Ela distingue o que é compulsão, obsessão, dependência e outras neuroses. O transtorno compulsivo, segundo a psicanalista, é quando a pessoa não controla o próprio corpo; quando a mente não domina o desejo, mesmo sendo uma necessidade que conscientemente não é saudável. Mas mesmo assim a razão não está no controle. Já na obsessão, há um descontrole na própria mente e a pessoa não controla o pensamento.
“O obsessivo repete o pensamento. Ele acabou de pensar que deixou a namorada em casa, mas a mente dele vai passar informações que ele não controla, do tipo dúvidas. Será que ela ficou realmente em casa? A inconstância no pensamento gera o transtorno”, comenta Odete Bezerra.
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