uziu produção de células que atacam o tumor em metade dos pacientes que participaram de teste inicial
Por Rafael Garcia — São Paulo
10/05/2023 16h38 Atualizado há um dia
Células do pâncreas vistas em microscópio; órgão é vulnerável a um dos tipos mais agressivos de câncerCélulas do pâncreas vistas em microscópio; órgão é vulnerável a um dos tipos mais agressivos de câncer BCC/DP
Uma vacina de RNA, molécula auxiliar do DNA, obteve resultados promissores no tratamento de um dos tipos mais letais de câncer de pâncreas. Em um teste clínico de fase 1 (desenhado para avaliar a segurança) o produto conseguiu induzir produção de células do sistema imune contra tumores em 50% dos voluntários que o receberam.
O novo imunizante foi desenvolvido pela empresa alemã BioNTech com a mesma tecnologia que a companhia aplicou na vacina contra Covid-19, criada em parceria com a Pfizer. No caso do produto contra câncer, os cientistas preparam uma vacina “personalizada” para cada paciente, baseado no perfil genético do tumor.
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A confirmação de que a nova vacina antitumor era segura já tinha sido anunciada no ano passado pela BioNTech, mas a alegação de que o produto conseguia de fato gerar resposta imune ainda estava pendente. Só depois de um estudo sobre a vacina passar por revisão independente é que a conclusão foi validada.
Um artigo científico detalhando o ensaio clínico sai publicado da edição de hoje da revista Nature. No teste, realizado pelo Memorial Sloan Kettering Cancer Center, de Nova York, um grupo de 16 pacientes recebeu uma aplicação do produto após passar por cirurgias de remoção de tumor, paralelamente a quimioterapia. Os voluntários também estavam recebendo imunoterapia de anticorpos monoclonais.
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Os pacientes do grupo eram todos diagnosticados com adenocarcinoma ductal pancreático, o subtipo mais prevalente — e mais agressivo — da doença no órgão. Esse tumor de pâncreas desafia cientistas, e há seis décadas médicos não conseguem elevar a taxa de sobrevida dos pacientes, que é de cerca de 12%.
Em um período de um ano e meio de acompanhamento, metade dos voluntários apresentou produção de células T do sistema imune capazes de atacar o tumor. Aqueles em que vacina apresentou atividade não tiveram remissão nesse intervalo. Nos pacientes sem resposta imune o câncer, voltou tipicamente após 13 meses em média.
“De forma geral, nós reportamos evidência preliminares de que uma vacina individualizada de RNA mensageiro, em combinação com imunoterapia e quimioterapia, induziu atividade substancial de células T do sistema imune nos pacientes que passaram por remoção cirúrgica do adenocarcinoma, e isso teve correlação com a demora na remissão”, escreveram na Nature os cientistas, liderados por Luis Rojas, pesquisador do Memorial Sloan Kettering.
O RNA da vacina funciona passando instruções para as células dos pacientes produzirem pedaços de células tumorais que funcionam como antígenos — moléculas que “treinam” o sistema imune a atacar o câncer.
Como o ensaio clínico não foi desenhado para avaliar eficácia de produto, porém, os pesquisadores reconhecem que é preciso que os testes sigam adiante, pelas fases 2 e 3, até que tenham certeza de que a vacina de fato pode ajudar os pacientes contra a doença.
Tentativas anteriores de criar imunizantes contra o câncer de pâncreas, que usavam células humanas inteiras, não apenas as moléculas de RNA, fracassaram à medida que tentaram avançar em ensaios clínicos e pré-clínicos.
A esperança maior dos cientistas é que, com uma plataforma de produção de RNA, é possível controlar melhor o tipo de antígeno que cada paciente precisa receber para que seus sistemas imunes combatam o tumor.