Vídeos que circulam nas redes sociais mostram o motociclista Acxel Gabriel de Holanda Peres algemado e conversando com policiais civis dentro do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), na Zona Norte da capital (veja acima). Ele se entregou e foi preso nesta sexta-feira (29) por suspeita de roubar e matar a tiros o estudante Renan Silva Loureiro na Zona Sul de São Paulo.
Em entrevista ao g1, o delegado-geral da Polícia Civil do estado, Osvaldo Nico Gonçalves, confirmou as gravações, mas disse que não sabia que elas tinham sido feitas. Ele ainda falou que as filmagens as quais a reportagem teve acesso mostram trechos da confissão de Acxel.
Segundo Nico, o preso confessou que se disfarçou de entregador e que roubou e matou Renan Silva Loureiro. E que depois fugiu numa moto com o celular da namorada dele. O caso repercutiu nas redes sociais por causa da violência, como mostra o vídeo que pode ser visto abaixo.
Acxel teve a prisão temporária de 30 dias decretada na quinta-feira (28) pela Justiça. Ele se apresentou nesta sexta ao Deic, onde deverá ser indiciado por latrocínio, que é o roubo seguido de morte. O crime ocorreu na noite da última segunda-feira (25).
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Falso entregador Acxel Peres — Foto: Reprodução
“Ele [Acxel] confessou o crime dizendo que queria roubar o celular das vítimas”, disse Nico à reportagem. O delegado afirmou ainda desconhecer quem fez a gravação de parte da conversa dele com o preso. “Provavelmente alguém que estava na sala de espera para onde ele foi levado filmou, mas não vi quem foi.”
Nico assumiu nesta semana o comando da Delegacia-Geral de Polícia. Ele aparece no vídeo conversando com Acxel, numa roda com outros policiais (veja o diálogo abaixo).
Nas filmagens que mostram a conversa entre o delegado e o preso, Nico fala para Acxel que Renan só quis proteger a namorada. O investigado rebate e alega que o estudante reagiu. Parentes da vítima também já tinham dito à reportagem que o universitário estava defendendo a namorada, que teve uma arma apontada para ela pelo assaltante.
O preso fala ainda nas gravações da conversa que tinha visto primeiro uma outra mulher, mas que, segundo ele, como ela estava sozinha, preferiu não abordá-la porque a vítima poderia gritar. Sugerindo então que optou por escolher o casal Renan e a namorada para assaltá-los em seguida.
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Acxel: “Tudo bem, eu saí. Eu fui para entrar algum dinheiro de alguma forma. Passei, olhei, vi eles. Eu tava subindo a [Avenida] Pedro Bueno, dei a volta, aí eu vi uma mulher.”
Nico: “”Ele foi proteger a namorada dele.“
Acxel: “Não, não. Ele foi para cima de mim. E tipo assim, eu vi uma mulher descendo uma rua, sozinha. Aí eu falei: Eu não vou pegar a mulher porque ela tá sozinha, ela vai gritar, né. Falei então. Eu fiquei andando, quando eu virei essa rua…”
Outro vídeo mostra o preso continuando a contar ao delegado-geral como foi o crime:
Acxel: “…com você. Falei: ‘Fica de boa, não vo… pega o celular dela’, eu falei. Só que, tipo na hora, ele, ele ficou num canto, a menina foi pro meio da rua. Eu não vi porque eu tava… a todo momento… porque eu não revistei ele… nenhum momento eu…”
Nico: “Você tinha mais alguém com você?”
Acxel: “Não. Eu tava sozinho. Tipo. Em nenhum momento eu…'”
Nico: “Mas tinha alguém dando…”
Acxel: “Não. Ninguém, ninguém… Não tinha ninguém, ninguém, ninguém. As únicas pessoas que tinham era um pessoal que estava arrumando a luz no final da rua. Um motoqueiro que…”
Nico: “Aí, aí conta o resto … aí?”
Acxel : “E tipo assim, aí na hora ele me deu o telefone. Eu coloquei no bolso, que pode ver na filmagem… porque eu não vi a filmagem, mas eu vi depois. Eu coloquei no bolso e já fui na menina, só que quando eu dei o tiro pro alto... porque ó, ó… voltando antes: Quando eu ele me deu o celular…“
Renan tinha 20 anos, era universitário, trabalhava numa cafeteria e foi padrinho de casamento três dias antes de ser assassinado na frente a namorada. O suspeito tem 23 anos e acumula dez passagens criminais por roubo e receptação de produtos roubados. Segundo a polícia, ele tinha 12 anos quando foi detido pela primeira vez.
“Desde ontem [quinta-feira, 28] que eu falei com ele e ele disse que ia se apresentar”, disse a advogada de Acxel, Maria Ligia Jannuzzi aos jornalistas, antes de seu cliente se apresentar e ser preso. “Ele está com medo.”
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Quatro disparos contra Renan
Câmeras de segurança gravaram o momento em que o assaltante atira para o alto e Renan se ajoelha dizendo: “Eu não tenho nada”.
O jovem se levanta em seguida, quando o criminoso aponta a arma para a namorada dele. Depois atira quatro vezes em Renan. Um dos tiros atinge sua cabeça e ele cai morto na Rua Freire Farto, no Jabaquara. “Socorro”, grita a garota, de 19 anos, no vídeo. Ela não se feriu.
O criminoso, que usava capacete e mochila térmica, fugiu numa moto levando o celular da namorada de Renan.
Policiais analisaram câmeras de segurança que gravaram a placa da moto para identificar o criminoso. Eles informaram ter ido até a casa de Acxel, onde não o encontraram, mas acharam uma jaqueta, uma mochila e um revólver, que foram apreendidos e passarão por perícia (veja abaixo). A investigação quer saber se a arma apreendida foi a mesma usada para matar Renan.
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Em depoimento à polícia, a namorada da vítima reconheceu parcialmente Acxel como o homem que abordou ela e Renan. Segundo a investigação, a jovem contou que identificou os olhos do atirador como os mesmos da foto do suspeito. Além disso, falou que o revólver apreendido foi o mesmo usado pelo bandido.
Mochila de entrega e revólver encontrados na casa de suspeito de matar jovem em assalto, segundo a polícia — Foto: Polícia Civil/divulgação
Filho defendeu namorada, diz mãe
O g1 conversou com a mãe e tias de Renan, que agora lutam por justiça, para que o assassino seja preso, julgado e condenado.
“Quero que ele viva para cumprir a pena dele. Meu filho e outras vítimas não podem ser mais estatística”, disse a social media Clarice Silva, de 42 anos.
Segundo as irmãs Camila e Carolina Garcia da Silva, na última vez que viram o estudante, ele estava feliz por cursar faculdade de administração de empresas na Unip e trabalhar numa das unidades da Starbucks. O rapaz havia sido padrinho de casamento de Carolina, na última sexta-feira (22).
“Quando alguém sai com uma arma para roubar está disposto a tudo… E meu meu filho [estava] ajoelhado pedindo por favor, com as mãos para cima”, afirmou a mãe de Renan sobre o criminoso que matou seu filho.
“Vi várias vezes os vídeos porque queria entender o que aconteceu. Fico triste quando as pessoas querem colocar a culpa na vítima que reagiu. Quero reforçar que ninguém deve reagir. O bandido apontou a arma para a namorada de Renan, ele foi defendê-la e acabou baleado”, disse Clarice.
Clarice Silva, mãe de Renan, usou sua rede social para escrever sobre o filho assassinado durante um assalto em São Paulo — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal
Caso repercutiu entre políticos
A morte de Renan também abriu o debate entre políticos, policiais e empresas de aplicativos sobre a implantação de medidas para tentar coibir a ação de assaltantes em motos que usam mochilas térmicas como disfarce para cometer crimes.
O aumento nos crimes cometidos por falsos entregadores fez com que a a Associação de Bares e Restaurantes de São Paulo (Abrasel-SP) procurasse a Secretaria da Segurança Pública em março para relatar o uso indevido das mochilas de aplicativo por criminosos disfarçados.
O número de roubos, furtos e homicídios cresceu no estado de São Paulo no mês de março, em comparação com o mesmo período de 2021, segundo os dados mensais da Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Renan morava com a mãe e o irmão mais novo. O jovem que teve seus sonhos interrompidos por um criminoso foi enterrado num cemitério na Lapa. Cerca de 250 pessoas acompanharam o cortejo.
Cerca de 250 pessoas participaram do cortejo a Renan Silva Loureiro no cemitério da Lapa, em São Paulo — Foto: Divulgação/Arquivo pessoal
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