SÃO PAULO SP-BRASIL-O perfil dos alunos que ocupam as escolas em São Paulo
Enviado por Fernando J.
Obsevações: 1. não há partido ou sindicato por detrás do movimento; 2. por serem de escolas públicas ou muito jovens, a maioria não participou das manifestações de junho/2013; 3. protagonismo das meninas; e 4. matéria honestíssima, que nenhum jornalão da grande mídia ousosu fazer. Mais. Espero que após o fim das ocupações, independentemente dos resultados, haja um legado de envolvimento e participação política desses jovens que vão votar pela primeira vez em 2016 ou 2018. E, se houver esse legado, certamente será capitalizado pelo PSOL e pela UJS, do PC do B. Por exemplo, na audiência pública com o Secretário, o único político presente que eu vi era o Giannazzi, do PSOL.
Do Diário de São Paulo
Por serem muito jovens na época ou porque os pais não deixaram, a maioria deles não participou das manifestações de 2013 contra o aumento nas tarifas dos ônibus e Metrô que culminou com centenas de milhares de pessoas nas ruas.
Mas agora dão a cara para um movimento que promoveu a ocupação de, até sexta, 67 escolas no estado. Eles são contra o projeto de reorganização da educação e se tornaram um problema para o governo. O DIÁRIO percorreu ontem quatro escolas das zonas Sul, Oeste e Centro para conhecer os rostos desse movimento. São adolescentes de classe média ou baixa, filhos de diaristas, motoristas, porteiros de prédio ou trabalhadores autônomos.
Muitos demonstraram preparo e conteúdo. Citaram, por exemplo, o educador Paulo Freire, criador da educação popular, voltada tanto para a escolarização quanto à formação da consciência política. Mas, por outro lado, negaram ser manipulados por movimentos, sindicatos e partidos.
“O que nos move é uma causa definida, lutamos contra o fechamento da nossa escola”, disse Fernanda Sousa, 17 anos, aluna da Escola Estadual Comendador Miguel Maluhy, na Zona Sul. “Não somos nem de direita nem de esquerda.”
Já Ingrid dos Santos, também de 17 anos, da Escola Estadual João Kopke, na região central, acha que o que eles estão fazendo é política, mas não partidária. “A gente quer fazer a história e não só ler a história nos livros”, respondeu.
Em todas as escolas visitadas, os estudantes se impuseram uma rotina definida. Alguns cuidam da segurança, outros da limpeza e/ou da cozinha. Nas horas livres, participam de atividades culturais e palestras. Na Escola Comendador Miguel Maluhy, por exemplo, foram realizados saraus literários, oficinas de teatro e até o ensaio de bateria de uma pequena escola de samba da comunidade do bairro.
Nessa unidade, ontem, os alunos estavam envolvidos num mutirão para pintar a quadra e paredes que estavam com a tinta descascada. Já na João Kopke, os manifestantes distribuíram comida para moradores de rua da vizinha Cracolândia. “A ocupação me deu uma visão social que eru não tinha”, disse Talhia Macedo, 17.
Nome: Fernanda Sousa
Idade: 17
Escola: Miguel Maluhy
Série: 2 ensino médio
Justiça
Fernanda Sousa sempre teve um senso de justiça muito forte. É isso que, segundo ela, a levou a lutar pelo não fechamento da escola no Morumbi, Zona Sul, onde estuda. Filha de uma agente de segurança de hospital, a adolescente frequenta há apenas dois meses as aulas neste colégio, mas se tornou uma das lideranças do movimento de ocupação. “Aprendi cedo a lutar pelo que quero”, disse. “Nada vem de graça.” Fernanda é uma das únicas da turma que já participou de atos públicos. “Estive nas ruas em 2013 com minha mãe”, disse.
Nome: Ana Carolina Martins
Idade: 17
Escola: Miss Brown
Série: 3 ensino médio
Focada
Ana Carolina Martins está focada no vestibular para psicologia, mas nem por isso deixou de se engajar no movimento contra o fechamento de sua escola, em Perdizes, na Zona Oeste. Representante da sua sala, ela é uma das articuladoras da ocupação. “Não penso em política. Esse movimento é pela continuidade da escola. Além disso, minha meta é me preparar para entrar na faculdade.” Estudiosa, ela aproveita as horas livras para colocar as matérias em dia. “Vou fazer de tudo para ser aprovada este ano.”
Nome: Lizandra Lima
Idade: 15
Escola: Fernão Dias Paes
Série: 1 ensino médio
Engajada
Apesar da pouca idade, Lizandra participa de todas as manifestações da sua escola já há algum tempo. Moradora de Taboão da Serra, ela foi estudar na Fernão Dias, em Pinheiros, na Zona Oeste, justamente pela fama que o colégio tem de progressista. A ocupação, diz ela, serviu para abrir sua cabeça. “Aqui nós estamos vendo que a união faz a força e mostra o poder que a gente tem”, afirmou. Seu sonho é cursar psicologia. A mãe, contou, é mais conservadora e está preocupada. “Ela não concorda muito com o que estamos fazendo.”
Nome: Guilherme Allegro
Idade: 16
Escola: Miss Brown
Série: 2 ensino médio
Representante
Filho de um dentista e uma fonoaudióloga, Guilherme tem uma origem diferente da maioria dos seus colegas. Estuda em escola estadual por opção, não por necessidade. Pensa em cursar gastronomia e relações internacionais. Representante dos alunos que ocuparam sua escola, ele se disse contra a utilização política do movimento. “Não acho que deveria ter lado político”, afirmou. Esta é primeira vez que ele se engaja em algum movimento. “Nas manifestações de 2013 ainda era muito novo e não pude ir”, lembrou. “Acompanhei pela televisão.”
Nome: Talhia Santos
Idade: 17
Escola: João Kopke
Série: 3 ensino médio
Social
Filha de um zelador de um prédio residencial e de uma faxineira, Talhia disse ter descoberto sua vocação profissional durante a ocupação de sua escola na região central. “Pretendo fazer serviço social para atuar junto aos movimentos transformadores, ajudar quem precisa”, afirmou. Essa é a primeira vez que ela participa de um movimento. “Mas tenho uma tendência a me colocar mais à esquerda”, disse. “Isso porque penso nos outros.” Seus pais, disse, estão preocupados com ela.
Nome: Lucas Sátiro
Idade: 17
Escola: Miss Brown
Série: 3 ensino médio
Delegado
Iniciante no movimento estudantil, Lucas quer cursar direito para ser delegado de polícia. “Não sou reacionário, apenas quero fazer justiça e prender as pessoas do mal”, afirmou. Distante da política, ele disse que a luta pela sua escola acabou o levando a uma causa. “Entrei em um movimento político, mas não partidário”, alertou. “É a primeira vez que me interesso por algo assim. Antes nunca havia me interessado. Nem das manifestações de rua de 2013 cheguei a participar.
Nome: Ingrid Santos
Idade: 17
Escola: João Kopke
Série: 3 ensino médio
experiente
A palavra ocupação já faz parte da vida de Ingrid. Ela vive há três anos, com a família, num prédio invadido no Centro. Agora, lidera o movimento que tomou conta de sua escola. “O Brasil é uma questão de tempo”, afirmou. “O que estamos fazendo mostra que tudo é luta.” Idealista, ela pretende ser enfermeira e atuar junto às populações vulneráveis. “Estudamos aqui próximo à Cracolândia e isso nos dá uma dimensão do problema social deste país”, disse. Sobre os atuais governantes, ela diz: “Eles devem ficar espertos porque vamos dar o troco nas eleições.”
Nome: João Constantino
Idade: 19
Escola: Fernão Dias Paes
Série: 3 ensino médio
militante
João costuma fazer parte de militância. Participa de todos os atos que vê pela frente e preferiu perder o emprego, numa firma de cobrança, a não participar da ocupação de sua escola. “Entro de cabeça nas coisas e não consigo parar”, afirmou. Vivendo com a avó, ele disse que tem uma vida difícil e, por isso, luta contra as injustiças do mundo. “Desde os 16 anos participo de movimentos e atos públicos”, contou. “Estive nas manifestações do Movimento Passe Livre, em 2013. Acho que ali germinou uma semente de transformação em mim.”
Nome: Mayara Melo
Idade: 19
Escola: Miguel Maluhy
Série: 2 ensino médio
líder
Presidente do Grêmio estudantil, Mayara é filha de uma diarista e foi a responsável pela mobilização na sua escola, pela redes sociais. Pretende ser pedagoga e atuar junto aos mais carentes. “Li o livro ‘Pedagogia do Oprimido’, do Paulo Freire, e me encontrei”, afirmou. Eleitora de Luciana Genro (PSOL) nas eleições presidenciais do ano passado, ela se disse frustrada por não ter participado das manifestações de 2013. “Minha mãe não deixou.” Moradora da Favela Vila da Praia, não gosta quando dizem que vive numa comunidade. “É favela mesmo.”
Nome: Sarah dos Santos
Idade: 17
Escola: Miguel Maluhy
Série: 2 ensino médio
aberta às novidades
Filha de uma professora e um motorista, Sarah sente que tem muito a aprender com o que está acontecendo em sua vida. “É tudo muito novo”, disse. “Não imaginava estar participando de um movimento transformador como este.” Para o futuro, sonha em ser psicóloga. “Ainda há muito tabu com as doenças psicológicas e quero atuar nesta área”, contou. Politicamente, ela não sabe como se considera. “Não participei das manifestações de 2013 porque era muito nova e nunca votei numa eleição. Aliás, votei para o grêmio aqui da escola.”
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