SÃO GONÇALO DO AMARANTE RN-RAÍZES DA MISÉRIA NO BRASIL: DA SENZALA À FAVELA
é professor Dr. do Programade Pós-Graduação em Ciência
Política; coordenador do Núcleode Estudos Estratégicos (NEST) da UFPE/Recife- Brasil.
Introdução
Abordar a questão das Raízes da Miséria no Brasil exige, necessariamente, todo um esforço de pesquisa, de leitura e re-leitura de certas obras clássicas brasileiras, seja da Sociologia, da Economia ou de nossa literatura, que tornam este esforço uma tarefa quase impossível numa vintena de páginas. Este é o primeiro desafio.O segundo desafio, vem do sábio conselho de Machado de Assis: “se não tens força nem originalidade para renovar um assunto gasto, melhor é que te cales e te retires”. Há muita gente que já escreveu, ao menos tangencialmente, sobre a matéria, muito embora permaneça uma temática de extrema atualidade, para não dizer de urgência, quando sabemos que o nosso País, verdadeiro campeão de crescimento econômico em termos mundiais, no Século XX, não pode caminhar de forma tranqüila e gradual para o futuro, com o aprofundamento da pobreza e das disparidades regionais e de renda: somos também recordistas em termos de injustiças sociais.
A estrutura deste trabalho tem 3 momentos articulados: no primeiro deles, apresento elementos centrais da reflexão do economista indiano Amartya Sen, que tem toda uma obra dedicada ao fenômeno da fome e da pobreza, e um conceito-chave, do entitlement ou da habilitação que permite articular , por exemplo, a escravidão com a pobreza. Ainda, algumas conceituações que nos ajudam a identificam a pobreza de uma forma mais abrangente, que não apenas identificando-a com uma restrição de ordem econômica.
Em segundo lugar, busco identificar as origens da miséria no Brasil, relacionando-a com o período Colonial – mais especificamente com o tratamento dado aos índios e negros, que vão formar, no processo de miscigenação, as classes despossuídas e pobres entre nós – articulado com um sistema patrimonialista e conservador, baseado no latifúndio, que impregna o imaginário e a cultura do País até os dias de hoje.
O terceiro momento, da permanência e aprofundamento da miséria brasileira, já num contexto de economia mundializada, onde as tensões entre o nacional e o internacional são, não apenas mais visíveis, mas talvez, mais difíceis de serem superadas. A divisão internacional do trabalho e o controle acrescido das grandes corporações internacionais sobre o mercado mundial, têm operado no sentido da manutenção do papel dos países periféricos enquanto exportadores de commodities, por um lado, e receptores de empresas multinacionais modernas, com escala de produção limitada aos mercados internos destes países, por outro, resultando numa inclusão perversa, que reproduz as desigualdades sociais, obstaculiza avanços tecnológicos, fragiliza opções de bem estar social .
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