SÃO GONÇALO DO AMARANTE RN-Política industrial e de inovação: o avanço fugaz dos últimos anos, por Paula Quental
do Brasil Debate
Política industrial e de inovação: o avanço fugaz dos últimos anos
por Paula Quental
A grave crise em que o Brasil está submerso, para a qual o atual governo só oferece como solução cortes de gastos e mais austeridade, pode enterrar a jovem política industrial com foco em inovação que começou a avançar no país a partir de 2003. Tal política, ou conjunto de políticas, tinha como objetivo reduzir a distância que separa a economia brasileira dos países desenvolvidos e das práticas industriais mais avançadas.
E é justamente em tempos de crise que investimentos em tecnologia e inovação não devem cessar, por serem ativos estratégicos que podem impulsionar e sustentar o crescimento, defende Glauco Arbix, professor Titular do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo e pesquisador do Observatório da Inovação do Instituto de Estudos Avançados – USP.
Arbix é autor do estudo “2002-2014: Trajetória da inovação no Brasil – Avanços, indefinições e instabilidade nas políticas públicas de fomento à inovação e tecnologia”, que analisa as políticas recentes de inovação, e esteve no último dia 1º em encontro para debater o tema na sede em São Paulo da Friedrich-Ebert-Stiftung (FES) Brasil, instituição responsável pela publicação.
Segundo o professor, que foi presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) de 2011 a 2015, a indústria brasileira está com a produtividade “praticamente estagnada” desde o final da década de 1970 e a economia do país vem se mantendo à margem das grandes ondas de desenvolvimento. Uma mudança nesse quadro depende, de acordo com ele, de uma política industrial com foco em inovação, baseada em sinergias entre o setor público e o privado. “Só tem sentido política industrial se for política de inovação”, afirma.
Foi exatamente essa visão que ganhou destaque a partir do primeiro governo Lula, o qual, observa Arbix, recuperou iniciativas de políticas industriais marginalizadas ao longo da década de 1990. Nesses anos, a crença difundida era de que a abertura e a liberalização da economia seriam suficientes para gerar desenvolvimento tecnológico.
“O governo Lula abriu uma fresta de esperança com a formulação de políticas com foco na inovação. Mas, ao longo dos anos, esse foco se desfez para abrir caminho para a reprodução de velhas políticas, que flertaram com o protecionismo e a tutela estatal. Se é certo que a batalha pela inovação e tecnologia no Brasil avançou muito, também é verdade que ainda há um longo caminho pela frente”, analisa o professor.
Entre 2000 e 2014, os investimentos em P&D em relação ao PIB no Brasil passaram de 1,04% a 1,38%, principalmente como iniciativa do setor público. Porém, segundo Arbix, ainda é preciso ir além. “Nenhum país relevante investe menos de 2% em P&D”.
Um resumo da evolução das visões de políticas industriais implementadas no país pode ser visto no Quadro 1, retirado do estudo:
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