Na avaliação do deputado estadual Kelps Lima (Solidariedade), o prefeito de Natal, Álvaro Dias, transformou a pandemia do novo coronavírus em uma “peça de marketing” e, com isso, “brinca com a vida das pessoas”. Segundo o parlamentar, que é pré-candidato a prefeito da capital potiguar e deve enfrentar Álvaro nas urnas em novembro próximo, o prefeito faz “politicagem” dentro das unidades de saúde do município. Álvaro Dias tem sido acusado de “populismo” devido ao fato de, entre outras medidas, autorizar a distribuição de medicamentos que não têm eficácia comprovada contra a Covid-19.Nesta entrevista ao Agora RN, Kelps Lima fala sobre a forma como as gestões municipal e estadual enfrentam a pandemia. Por isso, também não poupa críticas à governadora Fátima Bezerra – que comanda um governo, em sua avaliação, “vacilante”.
Na conversa abaixo, o parlamentar confirma que é pré-candidato à reeleição, mas acredita que não é o momento de antecipar o debate eleitoral. Ele ainda fala sobre outros temas estaduais e municipais.
Confira na íntegra:
AGORA RN – O senhor criticou o governo Fátima Bezerra, na semana passada, pelo retorno, na Assembleia Legislativa, da discussão sobre a Reforma da Previdência. Por quê?
KELPS LIMA – Discutir um projeto de repercussão gigantesca como esse com a Assembleia fechada, com o perdão da palavra, é uma covardia com os servidores.
AGORA – O senhor defendeu que a PEC só seja votada em plenário quando voltarem as sessões presenciais – o que não acontecerá antes de agosto. Mas o Estado tem apenas até 31 de julho para aprovar as mudanças na Previdência. Como conciliar o prazo exíguo e essa demanda do senhor?
KL – Vários estados estão dando entrada em ações (na Justiça) para dilatar este prazo. Fátima sequer tentou. Muito pelo contrário, deixou o projeto parado na comissão que é composta somente por deputados do governo. Todos os prazos estão sendo mudados devido à Covid-19. Eu mesmo só não entro com essa ação pois a competência é exclusiva do governador.
AGORA – Na comissão especial, foi encartada uma emenda que eleva a faixa de isenção dos inativos para R$ 3 mil. O senhor concorda com essa mudança?
KL – Concordo, mas essa isenção deveria ser maior. Fátima optou por fazer uma taxação menor para quem ganha mais e uma bem maior para quem ganha menos.
AGORA – A propósito, como o senhor avalia a tramitação da proposta até agora?
KL – Fátima fez uma armadilha que sabe que a Assembleia sempre vai cair, pois a maioria dos deputados é governista. Segura o projeto até o fim do prazo e manda dizendo que quem não votar é contra o Rio Grande do Norte. Mas parece que dessa vez a estratégia dela não vai dar certo.
AGORA – O Estado tem 37 mil casos confirmados e quase 1,4 mil mortos pelo novo coronavírus. Mesmo assim, governo e prefeituras têm autorizado a retomada das atividades econômicas. O senhor considera essa medida correta?
KL – Tanto a governadora como o prefeito (Álvaro Dias, de Natal) têm um arsenal de informações que lhes permitem tomar uma decisão robusta. Espero que essas decisões estejam sendo tomadas assim. O que me parece até agora é que não são. O prefeito transformou a pandemia em uma peça de marketing e brinca com a vida das pessoas, fazendo politicagem dentro das unidades de saúde. Já a governadora está completamente perdida, vacilante, sem saber que decisões tomar.
AGORA – Como o senhor avalia o desempenho da Prefeitura do Natal e do Governo do Estado no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus?
KL – A história dirá o que cada um fez. O episódio da tentativa de contratação de uma parente do prefeito por R$ 14 milhões sem licitação para o hospital de campanha e a perda dos R$ 5 milhões em respiradores do Consórcio Nordeste são símbolo da forma como a cidade e o Estado estão gerindo a crise.
AGORA – Em Natal, o prefeito Álvaro Dias determinou a distribuição de hidroxicloroquina e ivermectina como “prevenção” – dois medicamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus. Por isso, foi acusado de “populismo”. O senhor concorda?
KL – Estrategicamente, estão distribuindo medicamento na época da queda natural dos casos. Então, vão dizer que essa queda foi devido ao uso do medicamento. O nome disso chama-se bomba semiótica.
AGORA – Apesar de ter apenas dois anos de mandato, e de ter feito a carreira política no Seridó, o prefeito Álvaro Dias tem sido o mais lembrado pelos eleitores nas pesquisas de intenção de voto. A que o senhor atribui essa popularidade?
KL – Álvaro é o único pré-candidato com estrutura na rua, no caso, a Prefeitura. Ele ainda não entrou em zona de combate. Com tanto rabo preso, será um alvo batido assim que começar o processo eleitoral.
AGORA – A Prefeitura do Natal tem insistido, mesmo com a pandemia e com a proximidade das eleições, na aprovação do novo Plano Diretor. Como o senhor avalia essa pressa?
KL – Acho que o Plano Diretor deve ser votado. Só não pode ser por processo eletrônico e às escondidas.
AGORA – No início do ano, o senhor anunciou que seria candidato a prefeito de Natal nas eleições deste ano. A pandemia mudou os planos?
KL – Não mudou os planos. Mas não posso ficar falando de eleição com tantas pessoas morrendo, doentes, desempregados, com negócios fechando… Faço política por paixão e convicção. Desejo mudar e melhorar nossa cidade. Não vou usar a dor alheia para isso. Essa cota já é preenchida por Álvaro Dias.
AGORA – As eleições de 2020 foram adiadas para novembro. Qual a sua avaliação?
KL – Uma eleição inteira não é mais importante do que a vida de uma pessoa. Se for para colocar pessoas em risco, deve-se adiar as eleições.
AGORA – A oposição ao prefeito Álvaro Dias é ampla, mas aparentemente dispersa. Na sua opinião, isso não favorece a reeleição do atual prefeito? O senhor acredita na união de alguns pré-candidatos?
KL – Isso é normal, ainda mais com a pandemia. Já já a máscara de Álvaro vai cair. Natal tem uma eleição em dois turnos. É natural que os partidos queiram colocar seus candidatos no primeiro turno para mostrar suas propostas para a cidade. Em um segundo turno, se Álvaro estiver lá, todos vão se unir contra, pois ele representa o que existe de pior na política do Estado.
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