SÃO GONÇALO DO AMARANTE RN-Leia trecho de ‘O Homem Mais Inteligente da História’
Em O Homem Mais Inteligente da História, o psiquiatra Augusto Cury se vale das ferramentas que o tornaram o autor mais vendido da década: frases de autoajuda e invenção de conceitos diversos, como o GEEI (Gasto de Energia Emocional Inútil). Sai com 272 páginas pela Editora Sextante e narra uma mesa redonda na qual teólogos e cientistas discutem a inteligência de Jesus Cristo. Tudo começa em uma reunião da ONU, conforme mostra o primeiro capítulo, transcrito abaixo.
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A ERA DOS MENDIGOS EMOCIONAIS
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, a ONU, deu início à reunião de emergência sobre a violência no mundo. Os principais líderes políticos das nações, assim como pensadores das mais diversas áreas, estavam presentes. Os números mostravam um aumento assustador da violência não apenas nos países pobres e emergentes, mas também nas nações mais ricas.
– Bullying nas escolas, violência contra mulheres e crianças, assédio moral nas empresas, agressões sexuais, corrupção na política, sabotagem no mercado, exclusão de imigrantes, suicídios, homicídios, terrorismo. Enfim, o leque de violência nas sociedades modernas é enorme. Vivemos o apogeu do progresso material, o ápice da era digital, mas não estancamos a hemorragia da violência ao redor do mundo. Ao contrário, ela está aumentando… É incompreensível! – concluiu, preocupado.
– Está aberto o debate para encontrarmos soluções sustentáveis.
Muitos presidentes, ministros e parlamentares fizeram suas considerações. Alguns poucos sociólogos também mencionaram o adensamento populacional, as crises econômicas, a exclusão social e outros tantos problemas como fatores agravantes.
Quando a conferência se aproximava do fim e os presentes já estavam cansados de ouvir as mesmas discussões, o Secretário-Geral retomou a palavra:
– A ONU agradece a participação dos líderes mundiais nesta grande conferência sobre as causas e soluções para a violência na era moderna. Faremos um relatório que será enviado a todas as nações, embora eu tenha a impressão de que ainda falta um diagnóstico adequado da questão.
– E falta mesmo! – proclamou Marco Polo, um psiquiatra pesquisador que estava entre os espectadores.
Estressado, o Secretário-Geral advertiu:
– Sinto muito, senhor, mas o debate não está aberto à plateia.
– As grandes ideias não são propriedade das lideranças políticas, mas da mente de quem as pensa – confrontou-o Marco Polo.
Pego de surpresa, o Secretário-Geral da ONU pensou melhor.
– Abrirei uma exceção. Seu nome?
– Marco Polo – apresentou-se de forma breve.
– Seja rápido, por favor. A hora está avançada – pediu delicadamente o Secretário.
Polêmico, ousado, provocador, Marco Polo sentiu-se à vontade:
– Senhoras e senhores, não apenas pisamos na superfície do planeta Terra, mas também na camada superficial do planeta emoção. Está em curso uma verdadeira explosão de transtornos psíquicos e sociais. E uma das grandes razões para isso é o fato de a educação clássica ter se tornado excessivamente cartesiana, lógica, linear, desprezando as habilidades socioemocionais capazes de proteger a psique. Se não mudarmos o paradigma fundamental da educação, seremos uma espécie inviável!
A plateia se agitou.
– Mudar o paradigma da educação? Como assim, senhor Marco Polo?
– questionou um intrigado ministro canadense que estava na primeira fila.
– A educação mundial precisa passar da era da informação para a era do Eu como gestor da mente humana! A primeira gera gigantes na ciência, mas crianças no território da emoção; a segunda cria seres humanos bem resolvidos, coerentes e altruístas.
O tema era completamente novo e, ao mesmo tempo, perturbador. As pessoas que haviam bocejado nos últimos discursos mostravam-se agora despertas.
– O que é ser gestor da mente humana? – questionou uma senadora americana. – Nunca ouvi falar dessa tese!
– Ser gestor da mente humana é saber gerenciar os pensamentos, proteger a emoção, libertar a criatividade e se tornar protagonista da própria história. A educação clássica crê que a maneira de formar mentes brilhantes é bombardear o cérebro com milhões de dados e fazer os alunos assimilá-los. Isso é um grande engano!
– Mas há séculos a educação é assim, detentora e transmissora das informações mais relevantes da sociedade – retrucou o ministro da Educação da França.
– Sim, doutor, mas essa educação não funciona mais, pelo menos não coletivamente. A mente dos nossos alunos mudou muitíssimo. Assim como não é possível dar tinta e pincéis a uma máquina e esperar que ela crie obras-primas como as que Da Vinci, Van Gogh e Rafael pintaram, não é possível formar obras-primas na tela da mente humana com esse estilo de educação. As pessoas precisam aprender a pensar coletivamente, a ser altruístas, a se colocar no lugar do outro e ser tolerantes às frustrações!
Nesse momento, Marco Polo pediu licença para fazer algumas projeções no telão. Ele sempre levava consigo um pen-drive com os vídeos e as animações que costumava utilizar em suas palestras. No entanto, seu pedido foi negado.
– Não será permitido. Está tarde, senhor – falou com arrogância um assistente do Secretário-Geral.
– Se a plateia não quiser me ouvir, sento-me agora – respondeu com segurança Marco Polo.
Isso fez a plateia chiar. Os espectadores agora pareciam sedentos por ouvir as novas ideias que o psiquiatra trazia.
O pedido foi então reconsiderado. Autorizado pelo Secretário-Geral, Marco Polo entregou seu pen-drive ao técnico responsável e começou a mostrar imagens reais: carros sendo conduzidos de maneira irresponsável, em alta velocidade, desrespeitando as normas de trânsito e causando acidentes horríveis. Em seguida completou:
– Nosso intelecto é um veículo mental complexo e o dirigimos de forma irresponsável. Por quê? Porque as escolas e as universidades não educam o Eu, que representa a capacidade de escolha, o livre-arbítrio, a consciência crítica para estar ao volante. Um olhar atravessado estraga o dia, uma crítica asfixia a semana, uma traição pode comprometer uma vida.
– Está sugerindo que estamos na infância do Eu como diretor da mente? – indagou o primeiro-ministro francês, indignado.
– Sim. É isso que estou afirmando! – respondeu com convicção.
Em seguida, com o cuidado de preservar a identidade das pessoas envolvidas, projetou no telão situações gravíssimas que mostravam jovens contrariados se mutilando e garotas anoréxicas, só pele e ossos.
– E sabem por que essas meninas estão magras como os pobres famintos da África subsaariana? – indagou Marco Polo. – Porque se sentem gordas. A ditadura da beleza está matando nossos jovens por dentro.
Em seguida mostrou cenas de pessoas anônimas cometendo os mais diversos tipos de violência e até assassinatos por motivos banais.
– Pequenas contrariedades geram reações desproporcionais. Estamos na era do descontrole emocional.
Era possível perceber a perplexidade no rosto dos que assistiam à apresentação de Marco Polo. Um político famoso que estava na primeira fileira lembrava silenciosamente que no dia anterior gritara com a esposa como se ela fosse sua escrava: “Saia da minha frente, sua débil mental! Esse terno não combina com essa gravata!” Sentia-se envergonhado.
Marco Polo seguia com a apresentação:
– As vacinas nos protegem contra viroses, mas quais vacinas podem prevenir a violência e os transtornos psíquicos? Sem mudar a educação, é impossível. Qual delas você daria a quem você ama? Normalmente nenhuma! Estamos acostumados a dar broncas, apontar falhas, tecer críticas…
– Mas quem tem dentro de si um manual de regras de comportamento não faz um bom trabalho educacional? – questionou um senador republicano dos Estados Unidos.
– Desculpe-me, mas quem possui apenas um manual de regras está apto a consertar máquinas, não a formar mentes brilhantes.
Depois desse comentário, Marco Polo ainda complementou:
– A falta de proteção da emoção é a maior de todas as violências, e a cometemos contra nossos próprios filhos!
– Como podemos mudar isso, doutor Marco Polo? – perguntou o
Secretário-Geral, abalado.
– Há muitas ferramentas à nossa disposição: podemos ser mais lentos para reagir e mais rápidos para pensar; ser empáticos e nos importar com a dor dos outros; ter consciência de que por trás de alguém que fere há uma pessoa ferida; pensar como humanidade e não apenas como grupo social… E todas essas ferramentas estão relacionadas com a gestão da própria mente.
Em seguida o pesquisador mostrou que na atualidade levamos o veículo mental, a construção dos pensamentos, a uma velocidade nunca antes vista. Por isso é fácil perder o autocontrole!
– Mas… mas… nunca ouvi falar nisso – comentou um líder alemão.
– Mas agora é tempo de ouvir! Hoje uma criança de 7 anos possui mais dados que imperadores romanos. Uma de 9 anos possui mais informações que Sócrates ou Platão. Isso não é suportável. O excesso de informações não utilizadas torna-se lixo intelectual. Esgota o cérebro. Em média, quem tinha mais informações: Einstein ou os bons engenheiros e físicos da atualidade?
– Einstein? – disse um ministro da Educação europeu.
– Errado, senhor. São os engenheiros e físicos da atualidade. Mas por que não produzem ideias complexas como as que o jovem Einstein produziu aos 27 anos, no tosco escritório de patentes em que trabalhava? O que forma um pensador não é a quantidade de dados, mas sua organização.
Marco Polo projetou algumas animações reveladoras. Crianças e adolescentes conectados o dia todo no celular, mas desconectados de si mesmos. De repente, diante da menor contrariedade, tinham reações explosivas. Também mostrou crianças dormindo mal e outras acordando de madrugada para acessar as redes sociais. Pareciam zumbis.
– Mas a era digital trouxe ganhos inegáveis! – questionou uma líder indiana.
– Sim, inclusive um aumento cognitivo e uma melhora do raciocínio lógico e da produtividade. Mas também trouxe prejuízos gigantescos. Não podemos fechar os olhos para isso. Milhões de jovens são vítimas de intoxicação digital. – E Marco Polo explicou melhor: – Tire-lhes os celulares e muitos terão sintomas de abstinência como as geradas pela dependência de drogas! Ansiedade, insatisfação crônica, impaciência, baixa tolerância a frustrações, um tédio atroz quando sentem que não têm nada para fazer.
– Mas estamos na era da democracia, somos livres em nossas escolhas… – defendeu um filósofo suíço.
– Mas, senhor, eu asseguro, nunca nas sociedades democráticas houve tantos escravos no único lugar em que é inadmissível ser um prisioneiro: na própria mente.
– Mas o desenvolvimento tecnológico levou ao aumento da expectativa de vida. Não podemos condená-lo. Vivemos o dobro do tempo que os romanos viviam! – disse uma líder italiana, especialista em saúde pública.
– A tecnologia levou a ganhos importantíssimos. No passado uma amigdalite matava. Mas precisamos ver o outro lado da moeda social. Vivemos em média 80 anos, mas a mente humana está tão estressada pelo excesso de informações que hoje em dia 80 anos passam como se fossem 20 no passado.
– Então nosso sistema virou uma fábrica de doidos. Para o senhor, estamos vivendo mais em termos biológicos e morrendo mais cedo em termos emocionais, é isso? – indagou um político francês.
– Tenho certeza de que estamos vivendo esse paradoxo. Essa é uma violência subliminar contra nós mesmos, mas não catalogada pela ONU nem discutida neste debate. Não parece que dormimos e acordamos com a idade que temos hoje, senhoras e senhores?
– O doutor Marco Polo tem razão. Algumas pesquisas indicam que esse ritmo frenético nos torna mais individualistas e insatisfeitos.
Estamos na era da indústria do lazer, mas nunca tivemos uma geração tão triste. Esse é outro grande paradoxo – afirmou Michael, um neurocientista que mais tarde se tornaria amigo de Marco Polo.
– Estamos na era dos mendigos emocionais – concluiu Marco Polo.
– Muitos dos senhores aqui trajam ternos e gravatas de marca, mas não poucos mendigam o pão da alegria. Essa é outra autoviolência.
Houve um burburinho na plateia.
– Quer dizer então que as sociedades modernas viraram um manicômio a céu aberto? – bradou um político russo.
As pessoas ficaram inquietas. Estavam ali para discutir a violência dos outros, e não sabiam que eram violentas consigo mesmas. Marco Polo mencionou também a multiplicação do número de mendigos na França do século XVIII. Devido às guerras, corrupção política e conflitos sociais, produziram-se tantos miseráveis que era possível tropeçar nos famintos que viviam nas ruas. Mas hoje estamos na era dos miseráveis emocionais. E citou um país jovem, ensolarado e alegre, o Brasil:
– Por exemplo, na cidade de São Paulo, no período de 2002 a 2012, o índice de suicídios entre jovens aumentou 42%.
– Que loucura é essa? Se isso acontece no Brasil, para onde caminha a humanidade? – comentavam as pessoas umas com as outras.
Marco Polo completou:
– A FAO, órgão da ONU responsável pela segurança alimentar, como os senhores devem saber, detectou que há 800 milhões de pessoas passando fome no mundo. Um problema intolerável. – E, fitando os olhos do Secretário-Geral, que estava perturbado com a exposição, apontou: – Mas as estatísticas não dizem que há bilhões de mendigos emocionais, alguns morando em belos apartamentos e em casas confortáveis.
A plateia irrompeu em aplausos. Marco Polo ia encerrar sua fala, mas as pessoas solicitaram que continuasse. Um político argentino inclusive comentou algo muito sério, mas de modo engraçado:
– Onde há um restaurante emocional, doutor Marco Polo? Sou impaciente, reclamo muito, detesto quando meu notebook ou celular demora para ligar. Sou um faminto emocional.
Muitos sorriram e o aplaudiram. Marco Polo comentou:
– A principal característica dos mendigos emocionais é fazer pouco do muito. Por exemplo, os pais têm pavor de que os filhos se tornem dependentes de drogas, mas, sem perceber, viciam o cérebro deles com excesso de estímulos.
De repente, uma das maiores empresárias da Espanha, que dava o mundo aos filhos, mostrou-se preocupadíssima:
– O excesso de presentes pode prejudicar nossos filhos?
– Pode ser uma violência contra a saúde emocional deles, senhora. Pode levá-los a precisar de cada vez mais estímulos para sentirem algumas migalhas de prazer. Não são apenas as drogas que causam dependência – alertou Marco Polo.
Os líderes estavam muito perturbados; muitos caíam nessa armadilha. Então o psiquiatra projetou a imagem de uma criança africana soltando pipa, feliz da vida. Depois a de outra correndo atrás de animais, sorrindo, como se tivesse mergulhado num oásis de prazer. A seguir, mudou a paisagem, mostrando uma animação em que um menino fazia birra: “Eu quero mais!” Outra gritava com a mãe: “Você tem que me dar um celular novo!” Comportavam-se como pequenos reis que faziam dos pais seus serviçais.
“Meu Deus, o que estou fazendo com meus dois filhos…”, disse a si mesma a empresária. “Dou presentes quase todos os dias e quanto mais dou, menos agradecem, mais reclamam e mais infelizes ficam.”
– O risco de pais abastados gerarem desnutrição emocional e ansiedade é maior do que o de pais pobres… – completou Marco Polo.
Os líderes mundiais esfregavam as mãos no rosto, assustados. Representavam a elite de seus países.
– Você nos tirou o chão, doutor Marco Polo. Discutimos violência neste congresso, mas não a que praticamos com nossos filhos – falou o ministro da Defesa da Alemanha. – Para mim, basta. Precisamos repensar nossas atitudes violentas.
Marco Polo não podia mais se calar. Antes da saída do ministro da
Defesa, ele jogou mais uma bomba emocional no colo da plateia:
– Por favor, procurem dar aos seus filhos o que o dinheiro não pode comprar: sua presença e sua história. Ensinem-lhes a contemplar o belo. Esse é o presente dos presentes!
– Contemplar o belo é o mesmo que admirar o belo? – indagou o ministro ainda de pé.
A resposta o fez sentar-se:
– Não! Até um psicopata como Adolf Hitler admirava o belo. Ele acariciava sua cadela Blondi com uma das mãos e com a outra telefonava aos seus subordinados ordenando guerras irracionais. Era vegetariano, não queria que os animais sangrassem, mas não se importava que crianças e mulheres sangrassem nos campos de concentração. Admirar o belo é uma experiência fugaz. Contemplar o belo é se entregar atenta e detalhadamente.
As pessoas se entreolhavam. O Secretário-Geral da ONU indagou:
– Os grandes pensadores da história porventura contemplavam o belo?
– Raramente. Einstein era depressivo; Kafka, pessimista; Van Gogh, hipersensível; Nietzsche, mórbido. O sucesso financeiro, político, intelectual, se não for trabalhado, gera insucesso emocional, leva a uma psicoadaptação ao próprio sucesso, fazendo com que as pessoas precisem de “muito” para sentir “pouco”. Celebridades, à medida que ascendem na carreira, asfixiam o prazer de viver…
Terminou comentando que muitos milionários, conforme enriquecem mais e mais, tornam-se sem perceber miseráveis morando em palácios.
– Estou assustado… Entrei rico e saí mendigo da sede da ONU! – brincou um empresário do vale do Silício.
Todos deram gargalhadas.
– A emoção é democrática, senhoras e senhores, ela se alimenta especialmente das coisas simples e anônimas da vida.
De repente, uma pergunta inesperada e dificílima de responder tumultuou ainda mais o ambiente:– E Jesus Cristo, sabia contemplar o belo? – indagou um líder do Parlamento britânico.
Marco Polo parou, respirou profunda e prolongadamente e respondeu:
– Respeito os que aderem a alguma religião, mas sou ateu. Para mim, Deus é uma ideia construída pelo cérebro humano, que, por ser apaixonado pela vida, não suporta seu caos na solidão de um túmulo… Portanto, não vou discutir religião aqui.
Mas o líder do Parlamento britânico o confrontou:
– Eu não perguntei se o senhor crê em Deus ou não. Perguntei se o personagem Jesus era saudável, feliz, se contemplava o belo! – insistiu.
Marco Polo respirou lentamente. O clima ficou tenso na reunião da ONU.
– Nunca estudei sua personalidade, mas as religiões cristãs vendem a ideia de que Jesus Cristo era um homem triste, intimista, que carregava o mundo nas costas, com baixo nível de alegria.
De repente, uma ouvinte ficou de pé e, em sintonia com o político inglês, desafiou Marco Polo:
– Sei que você estuda o processo de formação de pensadores, doutor. Você é muito ousado, mas parece que tem medo de investigar a mente de Jesus sob o ângulo das ciências humanas – comentou aquela psicóloga sem meias palavras.
Todos ficaram espantados com a audácia da mulher.
– Medo, eu? – disse Marco Polo, olhando bem nos olhos dela.
– Sim, medo, o velho cárcere humano! Por que você não aceita o desafio de investigar os amplos aspectos da inteligência de Jesus?
Silêncio geral na plateia. Marco Polo partiu para o ataque:
– A senhora acha correto me pressionar diante desta nobre plateia de líderes mundiais? – falou, aparentemente indignado.
– Sem dúvida que sim! – afirmou ela.
Um burburinho tomou conta do lugar. O Secretário-Geral da ONU se levantou para tentar moderar a situação. Em seguida Marco Polo indagou, mais sério ainda:
– Qual é o seu nome?
– Anna.
Então ele abriu um sorriso e comentou:
– Vou pensar no seu questionamento, Anna. Mas antes quero dizer publicamente que eu te amo…
Ninguém entendeu nada. Após um silêncio cálido, ele explicou:
– Bom, preciso gerir minha mente, pois até minha esposa está me estressando…
Quando ficaram sabendo que Anna era sua mulher, todos sorriram, se levantaram e irromperam em aplausos. Enxergaram neles um casal incrível, espontâneo e inteligente. E nesse clima Marco Polo encerrou sua participação.
Muitos saíram da reunião da ONU transformados; alguns, reflexivos; outros, atordoados. Perceberam que não sabiam dirigir o veículo mental, queriam liderar o mundo, mas não eram líderes de si mesmos. Estavam no rol dos mendigos emocionais, vivendo de migalhas de prazer.
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