Jornal GGN – Com as taxas de juros em patamares mínimos históricos, e os bancos centrais efetuando compras com frequência, o mundo está cheio de crédito. Porém, e de forma paradoxal, a escassez de liquidez internacional pode colocar a economia global em risco.
Em artigo publicado no site Project Syndicate, o professor de economia da Universidade da Califórnia (Berkeley), Barry Eichengreen, explica que o termo “liquidez internacional” está relacionado a ativos de elevada qualidade, e aceitos em todo o mundo para o pagamento de faturas de importações e serviço da dívida externa – e são os mesmos ativos usados pelos bancos centrais ao intervirem nos mercados cambiais. Entre outras funções, eles também são garantias aceitas para empréstimos transfronteiriços.
“A principal diferença entre estes ativos internacionais e os ativos líquidos genéricos, portanto, é que só os primeiros são aceitos em um grande número de países, e usados regularmente nas transações entre esses países”, explica Eichengreen. “A forma mais importante de liquidez internacional é claramente representada pelos títulos de tesouro dos Estados Unidos, que são detidos por bancos, empresas e governos de outros países”. Segundo o articulista, uma definição mais genérica sobre liquidez internacional considera as responsabilidades dos bancos centrais dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) – o seu “dinheiro de alta potência”, as obrigações soberanas desses países classificados como AAA e AA, os títulos de dívida de organizações supranacionais como o Banco Mundial e os bancos de desenvolvimento regional, e o ouro detido por instituições e por particulares.
“Mas se os adicionarmos, chegaremos imediatamente a uma conclusão surpreendente”, diz Eichengreen. “A liquidez internacional caiu de perto de 60% do PIB global em 2009, aos apenas 30% de hoje. Esta mudança deve-se, de igual modo, às quedas das classificações de risco das obrigações soberanas emitidas pelos países altamente endividados durante a crise, o que as torna pouco atraentes para utilização nas transações internacionais, e à inelasticidade de outras fontes de liquidez”.
O articulista explica que os observadores mostram-se “perplexos” com o fato do comércio global, que avançou mais depressa que o PIB (Produto Interno Bruto) global por um longo período de tempo, agora está avançando mais devagar, e tentam entender ainda a queda no fluxo global de capitais. “A escassez de liquidez internacional, que dificulta o financiamento e a liquidação destas transações transfronteiriças, é uma explicação possível”, diz Eichengreen.
Estimular o governo norte-americano a emitir mais dívida não é visto como uma solução – na visão do economista, faze-lo “só ameaçaria a queda das notas de risco e tornaria os investidores estrangeiros relutantes à detenção de obrigações do tesouro dos EUA”. Uma alternativa poderia ser o estímulo aos países em crise, cujas obrigações perderam o grau de investimento, a arrumar suas finanças, para que esses títulos voltem a ser atraentes. “Mas o fortalecimento financeiro demora, até mesmo para o governo mais empenhado, como qualquer responsável grego pode confirmar”.
Outra opção será o Fundo Monetário Internacional (FMI) aumentar a oferta da liquidez internacional com a emissão de Direitos de Saque Especiais (DSE), unidades contábeis compostas por dólares norte-americanos, libras Britânicas, euros, ienes Japoneses, e renminbi chineses, e que podem ser creditados nas contas dos países membros do FMI, que são obrigados a aceitá-los em transações transfronteiriças, de acordo com os Artigos do Acordo do Fundo. Entretanto, não existem mercados privados para estes papéis.
“Provavelmente, a solução mais prática será permitir que o FMI se endivide junto dos mercados financeiros privados e use esses proveitos para emitir DSE adicionais. Com a garantia coletiva das suas responsabilidades por parte dos governos-membros, as suas obrigações seriam tão boas quanto o ouro”, pontua o articulista. “Na verdade, para que a sua garantia fosse credível, os membros deveriam comprometer-se a recapitalizar o Fundo, caso alguns dos seus empréstimos incorressem em perdas. Mas nada é grátis”
(Adaptação livre por Tatiane Correia)