SÃO GONÇALO DO AMARANTE RN-DEPRESSÃO: O MAL ECÔNOMICO DO SÉCULO?
O: O MAL ECÔNOMICO DO SÉCULO?
O impacto da depressão vai muito além do individual; a doença é uma questão até mesmo de saúde pública, com consequências sócio-econômicas importantes.
Seria a depressão o câncer do século 21? Esse foi um dos tópicos do Fórum Econômico Mundial de 2018, na Suíça. A conclusão foi que a doença, apesar de não ser mortal como um tumor maligno, é cada vez mais comum e tem consequências devastadoras, parecidas com as de diversos tipos de câncer no século 20.1
Mas por que a depressão, um transtorno mental, foi discutida em um evento global sobre economia? Hoje, mais de 300 milhões de pessoas são afetadas por ela. Quando ela dura muito tempo ou sua intensidade vai de moderada ou grave, ela pode se tornar um problema sério de saúde, afetando a produtividade do paciente no trabalho, na escola e na família. Na pior das hipóteses, pode levar ao suicídio.2 Agora, multiplique essa produtividade falha ou inexistente por 300 milhões, e a preocupação dos economistas começa a fazer mais sentido.
Impactos econômicos da depressão
Sim, a depressão, um mal que muitos consideram “frescura”, impacta diretamente a economia global. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)3, por exemplo, a doença pode desencadear desempenho insuficiente no trabalho por causa de sintomas como falta de atenção, perda de memória e dificuldades de planejamento e tomada de decisões.
A depressão também pode provocar a aposentadoria antecipada, o que gera custos ao governo. Na Europa, 47% dos gastos causados pela depressão são com aposentadorias desse tipo. Mas quando há tratamento disponível, estes custos caem para apenas 3%.3
A depressão é, ainda, o transtorno de saúde mental mais predominante e caro entre pessoas com idade para trabalhar. Também segundo a OMS, 11% dos cidadãos da União Europeia sofrem sintomas depressivos em algum momento da vida3.
Mesmo quando comparadas a doenças supostamente mais graves, a depressão ainda é cara. Em 2013, ela já era considerada a segunda maior causa de invalidez em todo o mundo, além de contribuir para o aumento de suicídios e de doença arterial coronariana4.
A OMS estima que, até 2030, a depressão pulará para o primeiro lugar em causas mundiais de invalidez, superando doenças cardíacas, doença pulmonar obstrutiva crônica, problemas neurovasculares e até consequências de acidentes de carro.3
Com esses dados, fica mais fácil entender porque precisamos levar a depressão a sério e entendê-la como um problema de saúde pública, com graves implicações sociais e econômicas.3
Se a depressão é tratável, por que ela causa tanto impacto na economia?
É fato que a depressão é uma doença tratável, já que existem terapias eficazes para ela. Porém, menos da metade dos pacientes deprimidos no mundo são tratados, a taxa é menor do que 10%.2
As causas dessa proporção tão baixa incluem falta de recursos, falta de profissionais de saúde treinados e o estigma social associado a transtornos mentais.2 Neste último caso, há quem considere a depressão como um sinal de fraqueza ou de falta de vontade. Assim, é comum o deprimido sentir vergonha e medo de assumi-la e, por consequência, acaba não se tratando.5
Imagine quantas pessoas se sentiriam mais leves e mais predispostas a procurar ajuda se sua condição fosse encarada pela família e amigos com mais entendimento e cuidado.
Outra barreira para tratamentos efetivos é a avaliação imprecisa. Infelizmente, muitas pessoas com depressão não são diagnosticadas corretamente. Por outro lado, outros pacientes que não sofrem do transtorno também podem receber diagnósticos incorretos e tomar medicamentos sem necessidade.
De acordo com a OMS, análises econômicas mostram que prevenir ou tratar a depressão logo no início têm ótimos custo-benefícios para a sociedade. Por isso a depressão é uma questão de saúde pública com tantos impactos sociais e econômicos quanto doenças cardíacas, por exemplo. Que tal olharmos para ela com mais empatia?
Referências:
1. Holden C. Global Survey Examines Impact of Depression. Science 07 Abr 2000. Vol. 288, Ed. 5463, pp. 39-40. Disponível em: http://science.sciencemag.org/content/288/5463/39
2. World Health Organization [homepage na internet]. Depression [acesso em 4 Out 2018]. Disponível em: http://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/depression
3. World Federation for Mental Health – World Health Organization. Depression: a Global Crisis. World Mental Health Day. 10 Out 2012. Disponível em: http://www.who.int/mental_health/management/depression/wfmh_paper_depression_wmhd_2012.pdf
4. Brooks M. Depression Now World’s Second Leading Cause of Disability. Medscape. 06 Nov 2013. Disponível em: https://www.medscape.com/viewarticle/813896
5. Wolpert L. Stigma of Depression – a personal view. British Medical Bulletin. 01 Mar 2001. Vol 57: 221 – 224. Disponível em: https://academic.oup.com/bmb/article/57/1/221/301582
SABRAGE.MDY.18.10.0343
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