FÉ E OBRAS
Texto básico: Tiago 2.14-26
Texto devocional: Gênesis 22.1-19
Versículo-chave
“Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta” (Tg 2.26).
Alvo da lição
O aluno entenderá que a fé deve, necessariamente, ser traduzida em obras que beneficiam o próximo e glorificam a Deus.
Leia a Bíblia diariamente
Segunda: Mt 5.13-16; 25.31-46
Terça: Lc 10.25-37; Ef 2.10
Quarta: 1Jo 3.16-18
Quinta: Gn 15.1-21
Sexta: Gn 22.1-19
Sábado: Js 2.1-24
Domingo: Rm 4.1-25
Você acreditaria numa pessoa que se diz eletricista, mas não consegue trocar uma lâmpada? Você acreditaria num homem que diz ser excelente piloto, mas não consegue estacionar o carro numa garagem? Você acreditaria em alguém que diz ser matemático, mas não sabe o resultado de 8 x 8? Tiago também quer saber como é que uma pessoa pode dizer que tem fé, mas não possui uma obra, nem uma sequer, para poder provar esta fé! O problema é sério!
Qual é a fé que salva? Como conciliar Romanos 3.28 com Tiago 2.24? Estaria Tiago contradizendo o ensino de Paulo? Qual o papel das obras na salvação?
I – QUAL É O PROBLEMA?
“Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” (Tg 2.14).
O versículo acima, que é uma pergunta, leva-nos ao ponto central deste parágrafo, ou desta lição. Tiago quer saber como uma pessoa sem obras pode dizer que está salva? Antes que você pense errado, acompanhe comigo algumas observações.
1. Tiago inicia o parágrafo fazendo uma pergunta (Tg 2.14)
Uma pergunta não é uma afirmação. Uma pergunta chama ou espera uma resposta. Então, o autor está apenas iniciando o diálogo com seus leitores. A palavra“proveito”, no grego, significa “lucro ou vantagem”. Não pense que Tiago esteja pregando a salvação pelas obras, contradizendo o apóstolo Paulo. Analise as três afirmações a seguir:
a. Tiago dirige suas perguntas a alguém que defende a “fé somente”.
b. Tiago não afirma que a fé não pode salvar; ele está dizendo que a fé que essa pessoa afirma ter, ou seja, uma fé sem obras, não pode salvar.
c. Paulo e Tiago querem dizer a mesma coisa com a palavra “obras”: atos praticados em obediência à Palavra de Deus. A diferença entre eles é o contexto em que estas obras são praticadas. Paulo nega que as obras possam ter algum valor em nos colocar num relacionamento com Deus; Tiago insiste em que, uma vez estabelecido o relacionamento, as obras são essenciais (Tiago: Introdução e Comentário, Douglas Moo, p. 100).
2. Tiago ilustra de cinco maneiras o ensino que quer transmitir (Tg 2.15-25)
a. Indiferença em face dos irmãos necessitados (v.15-17).
Como reage o crente? Ele se despede das pessoas necessitadas usando palavras evasivas e piedosas: ”Vá em paz, irmão”, ou “estarei orando por você.” Mas o necessitado não está precisando de oração, e sim de auxílio material. Observe que Tiago não está falando de alguém na igreja que está querendo um carro mais novo ou uma casa na praia ou no campo. Ele está falando de gente na igreja que não tem o pão de cada dia e roupa suficiente para se cobrir ou se proteger do frio. O prefeito, não evangélico, de uma cidade do interior de São Paulo fez a seguinte afirmação: “Quando vejo um mendigo na rua, tenho a certeza que ele não é evangélico”. Que testemunho bonito, demonstrando que os crentes estão cuidando dos seus (1Tm 5.9)!
b. Pergunta retórica (v.18).
É o que os gregos chamavam de diatribé, isto é, “questões e objeções que são postas na boca de um crítico imaginário” (F.F. Bruce); recurso literário que Paulo usou muito na carta aos Romanos. Leia este versículo em outra versão: “Mas alguém poderá dizer: “Você tem fé, e eu tenho ações.” E eu respondo: “Então me mostre como é possível ter fé sem que ela seja acompanhada de ações. Eu vou lhe mostrar a minha fé por meio das minhas ações” (NTLH). Tiago não está simplesmente desafiando alguém de maneira inconsequente, ele só declara que a fé sem obras não é uma fé genuína e não pode ser provada.
c. Demônios (v.19).
Pode soar estranha a afirmação que demônios creem! Todavia, observe duas coisas. Primeiro, o autor pergunta: “Crês tu que Deus é um só?” A confissão da unidade de Deus (Dt 6.4) fazia parte da doutrina básica recitada duas vezes ao dia pelo judeu piedoso. Jesus confirmou isto em Marcos 12.28-29. A segunda coisa a observar é a natureza da “fé” dos demônios, que é uma mera apreensão intelectual. Aceitar certas coisas como verdadeiras não significa um envolvimento ou entrega pessoal. Na época de Jesus (assim como nos nossos dias) muitas pessoas acreditaram que Ele era quem dizia ser, mas nem por isso se tornaram Seus discípulos (cf. Jo 6.14-15). O próprio Pilatos declarou, duas vezes, a inocência de Jesus Cristo (Jo 18.38; 19.4). Resumindo: Tiago está afirmando que esta espécie de “fé demoníaca” é um simples reconhecimento de uma verdade. Eles chegam a tremer (literalmente, “eriçar cabelos”), mas sabemos que não são salvos. A fé salvadora vai além do intelecto, pois afeta nossa vontade e nossas ações.
d. Abraão (v.20-24).
Agora Tiago volta ao passado, e vai buscar o personagem do Antigo Testamento que ficou conhecido como o “pai de todos os que creem” (Rm 4.11), Abraão. Interessante notar que é o mesmo homem de quem o apóstolo Paulo lança mão quando quer ensinar a doutrina da justificação pela fé em Romanos 4. Todavia, existe uma diferença crucial que precisa ser feita. Quando Paulo fala de Abraão, ele menciona Gênesis 15.1-6, onde Deus fez a promessa e Abraão “creu no Senhor, e isso lhe foi imputado (“creditado” – NVI) para justiça” (Gn 15.6).
Quando Tiago cita Abraão como parte do seu argumento, ele menciona o homem que está sendo provado por Deus em Gênesis 22 e conclui. “Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou” (Tg 2.22). Os dois escritores do Novo Testamento citam o mesmo Abraão, mas Paulo está em Gênesis 15, na promessa; enquanto Tiago está em Gênesis 22, quando Isaque já é um cumprimento vivo e palpável. Em outras palavras, quando Abraão ofereceu seu filho Isaque, mostrou com esta obra a sua fé.
e. Raabe (v.25).
A história de Raabe é descrita em Josué 2.1-21, e também é citada em Hebreus 11.31. Ela havia se convencido de que “o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra” ( Js 2.11). Baseada nesta “fé”, ela “acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho” (Tg 2.25). O autor de Hebreus enfatiza a fé de Raabe, enquanto Tiago assinala as obras de Raabe.
3. As conclusões de Tiago (Tg 2.17, 24, 26)
Observe como estes versículos começam:
• v.17 – “Assim também”
• v.24 – “Verificais que”
• v.26 – “Porque, assim como”
São palavras que exprimem uma conclusão. Significam que Tiago apresenta um relato racional da sua tese doutrinária: uma fé sem obras é falsa, inoperante, estéril e morta.
II – O QUE SIGNIFICA?
Podemos responder à pergunta acima com as seguintes afirmações.
1. Obras não produzem fé; mas a fé produz obras, e as obras confirmam a fé.
2. O contraste é entre a fé sem obras e obras sem fé, e não entre fé e obras.
3. A questão não é uma opção entre fé e obras; mas sim entre a fé viva e a morta.
4. Tiago nunca afirma que as obras podem salvar; mas sim que a fé genuína e viva sempre redundará em boas obras. Alguns acham que o ensino de Tiago contradiz o ensino de Paulo acerca da justificação pela fé. Todavia, o quadro comparativo abaixo procura esclarecer a questão.
Paulo “versus”Tiago
O que Paulo rejeita são obras sem fé.
O que Tiago rejeita é fé sem obras.
Paulo nega a eficácia das obras antes da conversão.
Tiago apela à necessidade das obras depois da conversão.
Paulo declara como alguém é justificado.
Tiago enfatiza como alguém deve viver depois de justificado.
Paulo confirma a declaração por Deus da nossa retidão.
Tiago fala da demonstração de nossa retidão.
Abraão foi justificado porque creu em Deus.
Abraão foi justificado porque obedeceu a Deus.
Não temos que fazer opção por um ou outro. Temos que aceitar o ensino dos dois, porque eles se completam, e não se contradizem. Quando somos confrontados com a doutrina da salvação pelas obras, temos que chamar o teólogo Paulo, como fizeram os reformadores. Entretanto, quando somos confrontados pelos que acham que obras são desnecessárias para os cristãos, devemos ouvir o pastor Tiago.
III – O QUE APRENDEMOS?
1. Que desafios há para nós nesta lição?
2. O que aprendemos de novo?
3. Há neste texto alguma proposta para mudarmos algo em nossa vida?
4. Que outros textos confirmam este ensino? Sugestão: Procure na seção “Leia a Bíblia diariamente”, no começo desta lição.
Conclusão
Por toda a epístola de Tiago fica claro que o problema dos irmãos destinatários não era a ortodoxia (doutrina correta), mas a ortopraxia (prática correta). Eles não tinham problemas com o “crer”, mas com o “fazer”. É um desafio para todos nós, que enfatizamos tanto a salvação pela fé em Cristo Jesus, e constantemente nos esquecemos que nossas obras serão julgadas. No encerramento desta lição, vale reler 2Coríntios 5.10: “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo.”
Autor da lição: Pr. José Humberto de Oliveira