A PROVIDÊNCIA DE DEUS
Ester 4
Introdução
Uma das coisas que mais nos marca em relação a atuação de Deus em nossas vidas é pensar que a sua providência vem em nosso favor. Sabemos que sempre podemos esperar no Senhor e descansar em Sua manifestação em nosso favor.
Porém, na prática nem sempre é assim pelo menos por dois fatores. Um, porque embora a bíblia esteja repleta de textos que falam que Deus sempre age em nosso favor, por vezes nos apressamos e não aguardamos em Deus. Dois, porque muitas vezes o contrário também é verdade, ou seja, achamos que descansar em Deus é cruzar os braços e optamos por não fazer nada, esperando que Ele faça tudo por nós.
A história de Ester é uma lição bíblica da providência de Deus em favor de seu povo, ao mesmo tempo em que nos ensina quais atitudes devemos tomar, ou seja, qual é o nosso papel dentro desta providência.
A providência de Deus surge diante do impossível
A história bíblica nos conta que quando Mardoqueu informou a Ester o que haveria de acontecer aos judeus esta lhe disse que não poderia comparecer à presença do rei sem que fosse chamada (v.11).
Deus age no impossível. E por que isso? Penso que seja por duas razões: A primeira é a de que Deus não fará aquilo que cabe a nós fazermos. A segunda é que ele quer que reconheçamos a cada dia a nossa pequenez.
Quando Paulo escreveu a segunda carta aos Coríntios ele disse: “Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte”. (II Co 12.10).
Quando Maria recebeu a notícia através do anjo de que geraria Jesus Cristo do Espírito Santo, antes mesmo que duvidasse daquela palavra, ele avisou-a de que sua prima Isabel que era estéril estava grávida de seis meses. Diante do olhar abismado de Maria, o anjo acrescentou: “Pois nada é impossível para Deus.” (Lc 1.37).
Humanamente, Ester não poderia mais comparecer à presença do rei, porém, para Deus não há impossíveis.
A providência de Deus surge diante da reflexão
Quando Mardoqueu recebeu a resposta de Ester, deixou claro de que ela era a melhor opção de intercessão junto ao rei naquele momento. A palavra de Mardoqueu é surpreendente: “Não pense que pelo fato de estar no palácio do rei, de todos os judeus só você escapará, pois, se você ficar calada nesta hora, socorro e livramento surgirão de outra parte para os judeus, mas você e a família de seu pai morrerão. Quem sabe se não foi para um momento como este que você chegou à posição de rainha?”(vs.13,14).
Como podemos perceber, a confiança que Mardoqueu tem no livramento dos judeus baseia-se na soberania de Deus ao levar adiante Seus propósitos e cumprir Suas promessas. O livramento viria; ainda que não fosse por meio de Ester. Portanto, é claro no contexto que há relação entre a soberania divina e a responsabilidade humana.
Em meio às aflições precisamos parar para refletir. Foi o que Mardoqueu fez e ainda levou Ester a fazê-lo. Foi também o que José fez ao dizer a seus irmãos que tudo o que lhe aconteceu foi para que trouxesse vida à terra. Nossa ansiedade muitas vezes põe tudo a perder e precisamos confiar que o Senhor fará a Sua parte e nós devemos fazer a nossa.
A providência de Deus surge diante da oração
Não há providência de Deus se não orarmos. Precisamos crer que Ele pode fazer e buscá-lo em oração. Jeremias 33.3 nos conforta: “Clame a mim e eu responderei e lhe direi coisas grandiosas e insondáveis que você não conhece”.
Quando Ester ficou se viu diante daquela terrível circunstância pediu a Mardoqueu que convocasse ao povo a que orasse e jejuasse em seu favor por três dias (vs.15,16). É uma proposta de culto, portanto. E culto é sacrifício. É por isso que Ester também decidiu-se por jejuar junto com suas criadas mesmo estando no palácio e desfrutando das iguarias do reino.
A oração é a chave que abre as portas do céu. Se existe algo que Deus não suporta é um coração contrito. Uma ação que é precedida de oração e de um exame de consciência não contém presunção.
A providência de Deus surge diante da submissão
Quando Ester clamou ao povo que jejuasse e orasse disse a Mardoqueu: “Depois disso irei ao rei, ainda que seja contra a lei. Se eu tiver que morrer, morrerei.” (v.16)
A palavra submissão pode ser muito bem o sinônimo perfeito para a palavra discípulo.
Hoje vivemos um tempo de determinismo religioso. Ester está tão disposta a morrer, como Sadraque, Mesaque e Abede-Nego na fornalha, como Estevão diante do Sinédrio, como Paulo e Pedro diante dos reis e como Jesus diante da cruz. Todos esses oraram pedindo a interferência de Deus. Porém, todos estavam dispostos a receber de forma submissa a providência de Deus – ainda que fosse a morte!
Tem sido assim conosco também? Vejo que muitas de nossas orações são para termos a interferência de Deus em nossos desejos, mas não estamos preparados para morrer pela causa de Deus.
O lugar mais elevado onde um homem pode estar é inclinado na presença de Deus. Quando nos submetemos, Deus age em favor do seu povo. Submeter-se é orar e permitir livremente o agir de Deus sobre nossas vidas e sobre as circunstâncias que nos rodeiam.
Conclusão
A história de Ester é uma lição da providência de Deus em relação ao Seu povo no meio de uma nação pagã. Aliás, o tema do livro é conhecido como “O Cuidado Providencial de Deus”. Deus olhou por Sua nação e a protegeu com Sua providência através de Ester e Mardoqueu, livrando-a das mãos de Hamã, o perverso imediato do Rei Xerxes.
Deus participa dos acontecimentos do mundo para salvar o Seu povo do mal e cumprir seus propósitos redentores em seu favor. Todos os crentes devem lembrar que Deus está no controle do que acontece até o cumprimento total de Sua história.
Nessa história temos a nossa função e devemos encará-la como um encargo para ser usado em beneficio dos outros. Fomos criados para as boas obras, as quais Deus preparou para nelas andarmos.
Que essa lição da providência de Deus possa ser guardada em nossos corações sabendo que Deus sempre estenderá a mão em favor do Seu povo.
“Vejam! O braço do Senhor não está tão curto que não possa salvar, e o seu ouvido tão surdo que não possa ouvir.” (Is 59.1)