Manaus – “Narizinho, bota o narizinho, só o narizinho”, avisa o homem com um prato à frente da fila de detentos. Com uma carta de rei de copas, ele junta o que sobrou do pó branco no prato de vidro e leva até o nariz de um colega, que aspira o conteúdo. A cena foi flagrada com um celular no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. O vídeo, obtido pela Folha de S. Paulo e publicado no UOL, mostra a fila de, pelo menos, dez detentos em um corredor do presídio para consumir cocaína. “É a fila do pancadão, rapaziada!”, grita um dos presos, que usam a suposta droga e, imediatamente, voltam para o final da fila para repetir o processo. “Nunca mais acaba a fila”, gritam. Alguns escondem o rosto, outro faz um sinal como se estivesse cortando o pescoço. Há, ainda, os que riem e provocam. “Anísio Jobim, porra!”, gritam dois deles, confirmando o local da filmagem. “Acabou, acabou a zeroína”, anuncia outro, enquanto os detentos desfazem a fila e se dispersam. A livre distribuição de drogas em presídios do Amazonas é uma rotina, afirma Adinaldo Matta, diretor da Associação dos Agentes Penitenciários Terceirizados. No Anísio Jobim, são eles que vigiam os detentos. “É uma recreação deles. Os ‘xerifes’ das cadeias às vezes distribuem essas drogas para os que não têm poder econômico e não podem comprar a droga. É uma troca de pequenos favores”, afirma Matta, que já atuou no Compaj. “Eles fazem isso até para mostrar seu status dentro da unidade”, completa Mata. Em nota, a Secretaria de Estado de Justiça e Direitos Humanos do Amazonas afirma que o vídeo foi gravado em 2004, em outra unidade. Matta, da associação dos agentes terceirizados, diz não ter dúvidas de que o local é mesmo o Compaj. Santiago, do sindicato dos agentes, disse que o vídeo foi gravado no fim de 2013.