O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que o pedido de caixa dois pelo PT era habitual e foi centralizado pelo ex-ministro Edinho Silva (Comunicação Social), tesoureiro da campanha presidencial de Dilma Rousseff em 2014.
Segundo Janot, os pedidos de doação oficial e não oficial para financiar campanhas eram um hábito, sendo que muitas vezes isso ocorria mediante ameaças a empresas de paralisar facilidades.
“Em verdade, o pedido de pagamento para auxílio financeiro ao Partido dos Trabalhadores, notadamente para o custeio oficial e não oficial (caixa 2) das campanhas eleitorais, muitas vezes mediante ameaças de cessação das facilidades proporcionadas ao núcleo econômico [empreiteiras] pelos núcleos político e administrativo da organização criminosa, revelam-se como medida habitual, institucionalizada e centralizada, em parte, na pessoa de Edson Antônio Edinho da Silva”, afirmou o procurador.
“Tais facilidades proporcionadas ao núcleo econômico ocorriam inclusive em contratos com a Petrobras -embora não se limitassem a estes”, completou.
Edinho era investigado no STF por suposta ligação com a Lava Jato. Nesta semana, o ministro Teori Zavascki determinou que o caso seja enviado para o juiz Sergio Moro, uma vez que Edinho perdeu o ministério e o direito a foro privilegiado com o afastamento de Dilma da Presidência por causa do avanço do processo de impeachment no Senado.
A investigação sobre Edinho começou a partir da delação premiada do dono da UTC, Ricardo Pessoa. Ele afirmou aos investigadores que entendeu, ao conversar com o ex-ministro da Comunicação sobre recursos para a campanha eleitoral de
Dilma, em 2014, que o esquema de pagamento de doações para obtenção de obras na Petrobras continuaria em um eventual segundo mandato da presidente.
O PT pediu R$ 20 milhões da UTC, mas os valores para a campanha de Dilma foram acertados em R$ 10 milhões, sendo que R$ 7,5 milhões foram pagos e o restante não foi depositado porque o empresário acabou preso em novembro de 2014. À Polícia Federal, Edinho negou que tenha pressionado a UTC a fazer doações
No parecer, Janot faz análise de dados obtidos nos aparelhos telefônicos apreendidos em poder de José Adelmário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e de Marcelo Odebrecht, dono da Odebrecht. “Cumpre ainda destacar que Edinho Silva, em mensagem encaminhada para Leo Pinheiro em 08 de agosto de 2014, encaminha, ao que tudo indica, cronograma de pagamentos a cargo da OAS para custar campanhas eleitorais”, anotou Janot.
Para Procuradoria, dados dos aparelhos telefônicos de Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo Odebrecht, “confluem para ratificar a hipótese investigativa sob foco: a de que Edinho Silva cobrava doações em troca de facilidades contratuais no governo federal”.
“Nos celulares, foi encontrada a anotação n° 4923 com alusão a Edinho (provavelmente Edinho Silva) como pessoa amplamente conhecedora da conta (possivelmente conta corrente para pagamento de propina)”, afirma.
“Tal registro do nome de Edinho ocorre justamente em sequência ao registro de liberação de ‘contribuições’ (regularmente utilizada nas anotações pela palavra ‘feira’, relacionando a ‘Vaca’ –possivelmente João Vacari Neto), notório operador financeiro da lavagem de dinheiro da corrupção da Petrobras, já investigado e processado na 13ª Vara Federal do Paraná”, concluiu Janot.
Janot faz referência a delação premiada de Walmir Pinheiro, ligado à UTC, que relata ter ouvido de Pessoa pressão de Edinho. Walmir disse ter sido orientado pelo ex-presidente da empreiteira a procurar Manoel Araújo Sobrinho, assessor de Edinho, para fazer o repasse de R$ 5 milhões.
OUTRO LADO
Em nota, o ex-ministro afirmou que é “favorável à apuração de todos os fatos com relação à minha atuação na campanha de Dilma Rousseff em 2014. Sempre agi de maneira ética, correta e dentro da legalidade”, afirmou.
“Criou-se uma tese de que todas as doações à campanha de Dilma são ilegais, enquanto que as doações feitas pelos mesmos doadores aos demais candidatos são legais. Jamais pressionei ou ameacei empresários. Todas as contribuições realizadas à campanha de Dilma em 2014 foram declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral. As contas foram todas aprovadas por unanimidade pelos ministros do TSE”, completou.
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