Para o mestre de música. Davídico.
1 No Senhor me refugio.
Como então vocês podem dizer-me:
“Fuja como um pássaro para os montes”?
2 Vejam! Os ímpios preparam os seus arcos;
colocam as flechas contra as cordas para das sombras
as atirarem nos retos de coração.
3 Quando os fundamento estão sendo destruídos,
que pode fazer o justo?
4 O Senhor está no seu santo templo;
o Senhor tem o seu trono nos céus.
Seus olhos observam;
seus olhos examinam os filhos dos homens.
5 O Senhor prova o justo,
mas o ímpio e a quem ama a injustiça,
a sua alma odeia.
6 Sobre os ímpios ele fará chover
brasas ardentes e enxofre incandescente;
vento ressecante é o que terão.
7 Pois o Senhor é justo,
e ama a justiça;
os retos verão a sua face.
(Salmo 11, NVI)
Este poema nasceu em uma situação tensa: a vida de Davi foi crescentemente ameaçada, não por bandidos, mas por altos funcionários públicos do governo. Os amigos lhe aconselharam a fugir e buscar um esconderijo nas montanhas, um bem conhecido território pelo anterior pastor. Mas Davi se recusa a ser conduzido pelo medo e se determina a confiar no Deus que o ungiu para governar o Israel. Sua confissão, “No SENHOR me refúgio” (v. 1), pode indicar que ele planeja ir para o santuário de Deus por achar um refúgio. Este salmo como um todo parece considerar o Templo um asilo ou esconderijo onde Deus responde à queixa do Seu servo perseguido por meio de um oráculo profético.
O poema de Davi é caracterizado por um agudo contraste entre o justo e o ímpio dentro de Israel. Sua palavra-chave para com Deus e os fiéis é “justo”. O estilo de repetição e ações progressivas cria uma tensão crescente que é resolvido em um clímax dramático.
Não podem ser definidos os eventos históricos precisos na vida de Davi, embora os esforços de Saul para matar Davi (1 Sam 18-20) e a revolta de Absalão (2 Sam 12) indiquem a realidade da situação crítica de Davi.
No Senhor me refugio.
Como então vocês podem dizer-me:
“Fuja como um pássaro para os montes”?
Vejam! Os ímpios preparam os seus arcos;
colocam as flechas contra as cordas para das sombras
as atirarem nos retos de coração.
Quando os fundamento estão sendo destruídos,
que pode fazer o justo?
(Sal. 11:1-3, NVI)
Os inimigos de Davi, o ungido, são chamados “os ímpios” (v. 2). Eles atacam de uma emboscada: eles atiram “das sombras [na escuridão] … aos retos coração ” (v. 2). Não só a vida de Davi está em perigo, mas todos os que lhe são leais – “os justos” – estão em sério perigo. Os fundamentos morais – lei e justiça – do povo da aliança como uma sociedade estão em jogo. Em desespero os amigos de Davi clamam, “Quando os fundamento estão sendo destruídos, que pode o justo?” (vs. 3).
Quando corrupção entrou nos conselhos legislativos do governo e tem afetado os oficiais da lei e da ordem, então “todos os fundamentos da terra são abalados” (Sal. 82:5). Porém, sempre que o caos ameaça a comunidade da aliança, os salmos de Israel não desanimam mas instilam esperança pelo futuro apontando a Yahweh como o supremo Rei-Juiz do mundo.
É Deus quem preside à assembléia divina;
no meio dos deuses, ele é o juiz.
(Sal. 82:1, NVI)
Digam entre as nações: “O Senhor reina!”
Por isso firme está o mundo, e não se abalará,
e ele julgará os povos com justiça.
(Sal. 96:10, NVI)
A resposta séria de Davi a seus companheiros assustados é um das consolações mais significantes num tempo de crise, com uma mensagem permanente de esperança para o futuro.
O Senhor está no seu santo templo;
o Senhor tem o seu trono nos céus.
Seus olhos observam;
seus olhos examinam os filhos dos homens.
O Senhor prova o justo,
mas o ímpio e a quem ama a injustiça,
a sua alma odeia.
Sobre os ímpios ele fará chover
brasas ardentes e enxofre incandescente;
vento ressecante é o que terão.
(Sal. 11:4-6, NVI)
A mensagem inspirada está clara: há um Deus no céu que se preocupa e que trará justiça na terra. O homem vive em um universo moral! Ele nunca pode escapar de sua responsabilidade para com Deus. Destinos eternos entram agora em visão, uma perspectiva escatológica para o juízo final. Davi toma nova coragem pelo futuro assim que os seus olhos voltam do caos na terra para o Senhor “em seu santo templo”. A afirmação que o Senhor está no Seu santo templo está repleto de significado apocalíptico. Isto é desdobrado passo a passo nas próximas linhas até que seja estabelecido a certeza de que o céu executará justiça na terra. O Senhor como o Rei de Israel assegura completamente a sobrevivência do Seu povo da aliança. O supremo Juiz não está dormindo em Seu trono divino. Ele não está desinteressado nos negócios humanos ou não envolvido no destino de Seu povo na terra. “Os seus olhos estão atentos, as suas pálpebras sondam os filhos dos homens” (v. 4, RA). O âmbito dos olhos de Deus é universal (também veja Sal. 66:7; 2 Crôn. 16:9; Zac. 4:10).
Estas palavras incluem a todos os povos no mundo. Yahweh não é um Deus nacionalista. Os Seus olhos não observam meramente, mas também investigam a vida de todos os homens em todas as nações. Em outros salmos Davi explica com mais detalhe:
O Senhor olha dos céus
para os filhos dos homens,
para ver se há alguém que tenha entendimento,
alguém que busque a Deus.
(Sal. 14:2, NVI)
Dos céus olha o Senhor
e vê toda a humanidade;
do seu trono ele observa
todos os habitantes da terra;
ele, que forma o coração de todos,
que conhece tudo o que fazem.
(Sal. 33:13-15, NVI)
Os olhos de Deus não estão assustando ao povo de Deus, porque eles sabem que os olhos de Deus olham para eles com amor.
Os olhos do Senhor voltam-se para os justos
e os seus ouvidos estão atentos ao seu grito de socorro.
(Sal. 34:15)
Todos podem tomar coragem desta segurança divina. Deus está completamente atento às injustiças e à falta de humanidade que penetram a sociedade humana em todos os lugares. Como regra, Ele não golpeia nem intervém imediatamente. Ele permite tempo arrependimento, tempo para devolver a Ele. Os ímpios, é claro, não interpretam o seu tempo de prosperidade temporária nesta luz. É preciso iluminação espiritual para crer que o bem será recompensado e que o mal será castigado.
Quando os crimes não são castigados logo, o coração do homem se enche de planos para fazer o mal. O ímpio pode cometer uma centena de crimes e apesar disso, ter vida longa, mas sei muito bem que as coisas serão melhores para os que temem a Deus, para os que mostram respeito diante dele. Para os ímpios, no entanto, nada irá bem, porque não temem a Deus, e os seus dias, como sombras, serão poucos. (Ecl. 8:11-13, NVI).
Esta verdade é desdobrada no Salmo 11 em estilo poético e fervor dramático. O Senhor no céu não está simplesmente assistindo as intrigas e sofrimentos dos homens na terra como um divino Espectador. Ele testa cada um para determinar se pertencem aos justos ou aos ímpios. Mas este contínuo juízo investigativo no céu está pejado de destinos eternos para ambos os tipos de pessoas. No seu próprio tempo ele executará os Seus juízos.
Sobre os ímpios ele fará chover
brasas ardentes e enxofre incandescente;
vento ressecante é o que terão.
(Sal. 11:6, NVI)
A escolha destas palavras sugere que o ímpio sofrerá o mesmo julgamento que Sodoma e Gomorra receberam em última instância (veja Gên. 19:24). O apóstolo o Pedro também considera que a história de Gênesis 19 é um exemplo de advertência quanto ao destino de pessoas sem lei de todas os tempos:
Também condenou as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-as a cinzas, tornando-as exemplo do que acontecerá aos ímpios (2 Ped. 2:6; cf. Judas 7).
Por outro lado, a recompensa de Deus para os justos é retratado na mais elevada linguagem:
Pois o Senhor é justo,
e ama a justiça;
os retos verão a sua face.
(Sal. 11 :7)
Os justos são chamados “retos” (cf. vs. 2) que mostram em sua vida “justiça”. O Senhor é descrito como Aquele que odeia os que amam a violência (vs. 5) e que ama os que praticam a justiça (vs. 7; cf. Sal. 33:5; 37:28).
Significa isto que Deus só está interessado em nossas obras? A Escritura registra que Deus olha primeiro o coração de uma pessoa antes que Ele julgue nossas obras. Lemos na história de Caim e Abel,
Abel, por sua vez, trouxe as partes gordas das primeiras crias do seu rebanho. O Senhor aceitou com agrado Abel e sua oferta, mas não aceitou Caim e sua oferta. Por isso Caim se enfureceu e o seu rosto se transtornou. (Gên. 4:4, 5).
Também Samuel descobriu: “O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração” (1 Sam 16:7).
O que é tão emocionante com respeito à promessa para os retos é que eles “verão a Sua face”. Para os israelitas espirituais todas as bênçãos materiais estavam subordinadas à sociedade vida-doação com o próprio Doador:
Faze, ó Senhor, resplandecer sobre nós a luz do teu rosto!
(Sal. 4:6, NVI)
A certeza de Davi quanto à salvação futura é inexpugnável:
Eu, porém, na justiça contemplarei a tua face;
quando acordar, eu me satisfarei com a tua semelhança.
(Sal. 17:15, RA)
Esta visão apocalíptica de Deus – a visio Dei – foi desejada em Israel como a mais alto de todas as alegrias e prazeres (veja Sal. 16:11). Assegurou um companheirismo sem fim com o próprio Deus vivente.
Em sua dupla perspectiva, o Salmo 11 coloca nossas curtas vidas na luz perscrutadora do céu e enche nossas ações e pensamentos de significado eterno. Cristo parecia também ter em mente o Salmo 11 quando Ele prometeu aos Seus seguidores:
Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus. (Mat. 5: 8)
O último livro na Bíblia desdobra mais adiante esta esperança de nosso ver final da face de Deus. Isso acontecerá quando a terra for transformada pela libertação final de Deus em um lugar sagrado e Deus virá habitar permanentemente com o Seu povo:
Já não haverá maldição nenhuma. O trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade, e os seus servos o servirão. Eles verão a sua face, e o seu nome estará em suas testas (Apoc. 22:3, 4).
A Santa Escritura não pode transmitir a beleza encantadora e as emoções divertidas que ver a Deus e o paraíso restaurado envolve. A realidade desta experiência permanece a abençoada esperança de todos os que buscam o seu refúgio no Deus de Israel e em Seu Cristo. Enquanto isso a garantia é determinada:
“Olho nenhum viu,
ouvido nenhum ouviu,
mente nenhuma imaginou
o que Deus preparou para aqueles que o amam”.
(1 Cor 2:9, NVI)