O que eu desejo para 2015? Que todos os homens – os pobres e os ricos, os sábios e os tolos – leiam e reflitam sobre o Eclesiastes. Este livro da Bíblia, cuja autoria é atribuída ao rei Salomão, é uma peça poética de profundo sentido filosófico, que pode descortinar novas paisagens para o viajante perplexo.
Seu autor descontrói as ilusões de um tipo de sociedade, com o seu ideal de riqueza, poder, ciência, prazeres, status social e trabalho para enriquecer, chamando a atenção para o sentido da vida a partir de uma pergunta fundamental: «Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol?»
O Eclesiastes é atual. Combina com a visão cíclica da vida, que se opõe à linearidade do pensamento convencional, seja acadêmico ou religioso, e resgata a sabedoria de uma percepção cosmogônica na qual o ego perde o poder de gerar tanto medo e sofrimento. Destrói uma falsa concepção de Deus e da vida e remete-nos a uma nova concepção na qual a vida aparece como, realmente, um dom gratuito e divino para que todos a partilhem com justiça e fraternidade.
Sua leitura e meditação, penso, deveria ser obrigatória nas escolas. Talvez, assim, teríamos um mundo mais amável, disposto a celebrar as dádivas e multiplicá-las, livres de ansiedade e angústia.
Assim falava Coélet, o pregador:
“ Eu resolvi pesquisar e investigar com sabedoria tudo o que acontece debaixo do céu. Essa é uma tarefa penosa que Deus entregou aos homens, para com ela ficarem ocupados. Então examinei as coisas que se fazem debaixo do sol, e cheguei à conclusão de que tudo é fugaz, uma corrida atrás do vento. (…)
“Decidi então conhecer a sabedoria e a ciência, assim como a tolice e a loucura. E compreendi que também isso é correr atrás do vento, porque, onde há muita sabedoria, há também muita tristeza, e onde há mais conhecimento, há também mais sofrimento. (…)
“Debaixo do céu há momento para tudo, e tempo certo para cada coisa: Tempo para nascer e tempo para morrer. Tempo para plantar e tempo para arrancar a planta. Tempo para matar e tempo para curar. Tempo para destruir e tempo para construir. Tempo para chorar e tempo para rir. Tempo para gemer e tempo para bailar. Tempo para atirar pedras e tempo para recolher pedras. Tempo para abraçar e tempo para se separar. Tempo para procurar e tempo para perder. Tempo para guardar e tempo para jogar fora. Tempo para rasgar e tempo para costurar. Tempo para calar e tempo para falar. (…)
“Que proveito o trabalhador tira de sua fadiga? Observei a tarefa que Deus entregou aos homens, para com ela se ocuparem: tudo o que ele fez é apropriado para cada tempo. Também colocou o senso da eternidade no coração do homem, mas sem que o homem possa compreender a obra que Deus realiza do começo até o fim. Então compreendi que não existe para o homem nada melhor do que se alegrar e agir bem durante a vida.”
Feliz 2015!
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