“É a economia que rege a política, esse governo não tem chance com essa política econômica. As reformas são necessárias, mas a base politica para elas serem aprovadas está numa economia em crescimento e nunca em um ambiente de recessão sem futuro”.
CAMINHOS CRUZADOS DA POLÍTICA E DA ECONOMIA – Nas grandes crises do Brasil moderno, de 1930 até hoje, a economia dava as cartas para a política e vice-versa, de modo que não é possível interpretar a economia sem analisar a política.
Em 1930 foi a crise provocada pela queda da Bolsa de Novar York que derrubou os preços do café e junto com o café foi derrubado o poderoso Presidente Washington Luis, tão poderoso que quebrou o Pacto Café com Leite e impôs seu sucessor Julio Prestes de Albuquerque.
A primeira crise cambial dos anos 40, ao fim do Governo Dutra, interrompeu um clima de boa vida que secou com o fim dos dólares acumulados durante a Segunda Guerra.
De 1946 a 1949 foi uma festa de Hollywood. Meu pai vivia da importação de caminhões da marca International, nunca a família esteve tão bem, com férias nos EUA naqueles tempos de avião a pistão.
Subitamente acabaram as licenças de importação, o negócio desabou, o dinheiro acabou, abriu-se o caminho para o retorno triunfal de Getúlio Vargas, que saiu pela direita em 1945 e se reinventou pela esquerda nacionalista em 1950.
Como não havia mais dólares era preciso criar a Petrobras, a Eletrobras e o BNDES dentro de um discurso nacional-desenvolvimentista . Era a economia embalando a política como sempre.
Com Juscelino assumindo a Presidência, em 1955, em uma eleição contestada, sua única saída era o crescimento econômico a qualquer preço, o que foi feito com as encomendas de papel moeda à Thomas de la Rue & Co.Ltd. de Londres e à American Bank Note Co. de Philadelphia.
O Brasil era o maior cliente mundial das impressoras de papel moeda, trabalhavam 24 horas por dia imprimindo dinheiro para o Brasil, com o que Juscelino Kubitschek fez Brasilia e as 30 metas de desenvolvimento, inclusive a industria automobilística, a petroquímica, a naval, o incremento da agricultura, as industrias de televisores, geladeiras, aspiradores e liquidificadores, as novas grandes fábricas de cimento para a construção de Brasília, as primeiras grandes hidroelétricas federais, muitas rodovias, refinarias de petróleo, oleodutos.
Jango caiu por uma grande crise econômica. O primeiro PIB negativo em muitos anos, era a economia dando o lastro para a derrubada do Presidente, poucos falam que 1963 e 1964 foram anos péssimos para a economia, o que fez a cama para Jango cair, não foram só os tanques.
O Governo militar teve uma década e meia de bom desempenho econômico, com o que o apoio do povo e das elites era enorme. Os governos Médici e Geisel eram populares e só a esquerda radical lutava contra, a massa e os empresários estavam satisfeitos, havia emprego, lucros, fabricas novas, os loteamentos a prestação e as construções de casas em mutirão com o que se criaram 600 bairros novos em São Paulo e se ergueram os grandes sistemas de abastecimento de água de São Paulo e Rio bem como seus metrôs.
O descarrilhamento da economia ao fim do ciclo militar foi a pedra de toque da redemocratização, o regime já não mais garantia a prosperidade, veio a Nova República com quadros medíocres que aprofundaram a crise, arrastada pelo provincianismo do governo Sarney que abriu caminho para Fernando Collor.
A economia foi a maestra do tempo político.
No ciclo Itamar-FHC a mesma a economia governou a política, gerou o Real, a reeleição e uma certa organização sem muita prosperidade, com um desenvolvimento medíocre, apesar da moeda estável, foi o tempo da “modernização” e não do desenvolvimento integrado.
O ciclo PT-Lula foi brilhante no primeiro mandato, sofrível no segundo e tenebroso nos governos Dilma, gerando o impeachment pela economia. Se houvesse crescimento, Dilma passava batido em seus gigantescos defeitos.
Um dos segredos do primeiro Governo Lula foi o apoio majestoso do Governo George W. Bush, que tinha profunda admiração por Lula a ponto de convidá-lo para um fim de semana em sua casa de campo, ‘como um peão desses chegou à Presidência de um grande País?’, Bush não se cansava de admirar, ‘esse cara é extraordinário’, dizia.
Agora entra o Governo de transição com um receituário totalmente equivocado. Meirelles não tem envergadura, liderança, carisma para puxar a economia para fora da recessão, a escolha de um ultra-ortodoxo como Ilan Goldfajn no Banco Central é o arremate de chumbo, essa receita não leva a lugar nenhum porque parte de um erro profundo de diagnóstico.
Para a dupla dos carecas a inflação é o maior problema – o que está furado, o problema macro é a recessão, a inflação é acessório, mas o pior é colocar a política econômica no trilho do mercado financeiro, que jamais vai gerar empregos nem para um por cento dos desempregados.
A lógica do mercado financeiro é desgarrada da lógica da política econômica como parte da política geral e social, de nada adiante subir o rating e a inflação cair com as ruas tomadas por miseráveis. Nesse quadro político-perigoso NÃO VIRÃO OS INVESTIMENTOS, o País jamais sairá da recessão caminhando para uma senhora depressão.
A grande ilusão que foi vendida ao governo pelo PSDB-DEM é que agradando o mercado tudo volta a florir. Não vai acontecer. Não há tempo para as reformas nesse governo, é preciso esperar o novo eleito em 2018.
A única coisa que esse Governo pode fazer e estimular rapidamente a economia com grandes investimentos públicos que geram empregos imediatos, injetando dinheiro novo para criar demanda sadia. É um remédio na veia para resolver uma crise aguda que é a sobrevivência de 12 milhões de desocupados e suas famílias – coloca 4 pessoas por família, são 50 milhões de infelizes sem meios de sobrevivência, revoluções sangrentas começaram por muito menos gente sem meios de sobrevivência.
A economia está com capacidade ociosa de 40%, injetar um trilhão de Reais em dois anos nem faz coceira na inflação, se der alguma coisa é perfeitamente suportável.
O Brasil dos anos dourados de JK conviveu com inflação media no período de 36%. Hoje essa expansão monetária poderia acrescentar quase nada, uns 2 a 3% acima dos atuais 7%, 10% ao ano. Isso é o que a Índia aceitou para não parar de crescer nos últimos anos, um crescimento quase chinês, de 5 a 6% ao ano.
Ninguém desprezou a Índia por causa disso, ao contrario, é o país com rating melhor que o nosso, admirado e cortejado pelos bancos e fundos, exportador de capital, controla boa parte da siderurgia mundial e convive sem maiores problemas com inflação alta.
É impressionante a timidez dos governos dos últimos 10 anos, ninguém tem ousadia! Importaram essa porcaria chamada ” meta de inflação”, que encarroça nosso crescimento. Todos têm medo do Boletim FOCUS.
Em uma pesquisa em português, de piada, perguntaram aos bancos quanto eles querem de juros e aí o BC segue o “quiz” do Chacrinha: “Vocês querem quanto de juros? Então tomem, nós vamos dar!”
Ai dão a SELIC que eles querem. Não tem coisa mais estupida no planeta. Agora a ata do Copom diz que os juros só vão cair quando se fizer o ajuste fiscal, então não vão cair nem em 10 anos, é humor negro da Casa Mal Assombrada.
É absurdo emitir R$ 1 trilhão de Reais em dois anos? Que coisa! Ninguém acha absurdo o Tesouro do Brasil pagar R$1 trilhão de juros em dois anos, o mesmo valor para nada. Imprimir dinheiro é a solução, está ai a nossa Casa da Moeda que pode trabalhar 24 horas, um pouco de inflação alivia a vida dos devedores, o maior dos quais é o Tesouro, estimula toda a economia, especialmente os pequenos negócios e faz diminuir a dívida publica, a dívida das famílias e das empresas.
Maior bizarrice é não ter inflação mas ter juros de País com hiperinflação, os bancos cobram 500% no cartão de credito e quando a inflação baixou um pouco OS JUROS NÃO CAÍRAM.
A emissão de DÍVIDA PUBLICA é a mesma coisa que a emissão de moeda porque cria quasi-moeda, que é meio circulante COM JUROS. Coisa completamente idiota, pois não emitimos moeda mas emitimos títulos públicos remunerados que também significam liquidez, MAS estéril, que não serve para nada, a não ser sustentar rentistas em Miami.
É a economia que rege a política, esse governo não tem chance com essa política econômica. As reformas são necessárias, mas a base politica para elas serem aprovadas está numa economia em crescimento e nunca em um ambiente de recessão sem futuro.