PENDÊNCIAS RN-“A tendência é de compras mais conscientes”
Entrevista
Hilgo Gonçalves – palestrante e ex-CEO da Losango
Fernando Domingo
Repórter
“O caminho mais curto para a recuperação dos resultados é a conscientização de cada um”, diz Hilgo Golçalves, ex-CEO da Losango e que já foi eleito um dos melhores do varejo nacional. Sob um olhar que possui mais de 40 anos de experiência no mercado financeiro, ele afirma que “os principais indicadores da economia, infelizmente, não apontam para um cenário de recuperação em 2016”, não restando opções diferentes de reestruturações empresariais e de consumo.
“O próprio Banco Central tem trabalhado ações voltadas para um consumismo mais consciente e a educação financeira da população”, ressalta Hilgo, destacando também um posicionamento semelhante dos líderes do varejo. “Todos, como um todo, têm aceitado a ideia de focar nisto. É o pensamento para um futuro melhor para o nosso país e as famílias brasileiras”.
Nesta entrevista à TRIBUNA DO NORTE, Hilgo aprofunda sua análise sobre o mercado, ampliando sua visão sobre possíveis soluções. Nesta terça (17), ele participa do Fórum Nacional da Liderança, em Natal, com a palestra “a chave para conquistar resultados sustentáveis”.
Qual a situação atual do varejo nacional e a tendência neste fim de ano?
O Varejo nacional atravessa um grande momento de transição. De um modelo que foi sustentado com forte apelo ao consumo e ao crédito, o qual não se mostrou ser sustentável, para um novo modelo direcionado para um consumidor mais consciente, que quer mais informação, produtos de melhor qualidade, respeito no atendimento, um pós-venda melhor. Este consumidor está com o poder de escolher onde comprar. A tendência para este final de ano, é de compras mais conscientes. Estima-se uma queda nas vendas deste Natal na ordem de 5% contra o ano anterior. Os consumidores tenderão a comprar somente o extremamente necessário, porém, ainda assim, continuarão comprando.
Os números do Varejo serão melhores do que outros segmentos da economia brasileira?
Devido ao cenário econômico, que aponta para uma queda do PIB acima de 3%, sendo o pior resultado desde 1990, é esperado que os demais segmentos sofram, sim, quedas em relação ao ano anterior. E, com foco maior para uma retração de bens duráveis. Já os bens de primeiras necessidade, estes continuarão a ter performances positivas.
O ano de 2015 acumulou taxas maiores de desemprego, retração de consumo e vendas mais fracas. Há caminhos para a recuperação de bons resultados em 2016?
Os principais indicadores da economia, infelizmente, não apontam para um cenário de recuperação em 2016. E, na minha opinião, o caminho mais curto para a recuperação dos resultados, é a conscientização de cada um. Há uma necessidade, hoje, de mudar o jeito de fazer negócios, compras, trabalhar, etc. E como fazer? para isto, é fundamental novas atitudes, como uma maior eficiência nas empresas, consumos mais conscientes, atualizações profissionais. É preciso entender melhor o seu negócio e buscar soluções para sair desta crise mais fortalecido.
O Governo está preparado para intervir neste quadro? Quais são as ações possíveis?
O Governo Federal tem enormes desafios e tem publicado muitas ações, porém, os resultados delas, só iremos ver à médio e longo prazo. Neste quadro, noto algumas áreas governamentais estão agindo com foco maior, principalmente, para corrigir excessos no consumo com o uso de crédito. Nisto, cito o Banco Central, que está muito envolvido em ações voltadas para um consumismo mais consciente e uma melhor educação financeira das pessoas. Ele, inclusive, lançou um portal voltado a esta temática: o cidadaniafinanceira.bcb.gov.br. É importante ressaltar que um dos fatores da queda nas vendas do varejo, por exemplo, é o alto endividamento das pessoas, além do comprometimento da renda com prestações. Por isso, se fala tanto sobre fazer compras mais conscientes e usar o crédito de forma responsável.
Há confiança no mercado para isso?
Sim, os líderes do mercado de varejo e financeiro, como um todo, tem aceitado a ideia de focar em consumo consciente e educação financeira, pensando num futuro melhor para o nosso país e para as famílias que aqui moram. No último dia 11, eu participei em SP no Fórum da Educrer, que debateu este assunto, com representantes do Banco Central, da Febraban, e do varejo nacional. E, foi amplamente discutido possíveis soluções de como melhorar o uso do crédito e o consumo consciente.
Qual será a influência da alta dos juros, dólar alto e índices negativos (desemprego/consumo) nesta retomada da economia brasileira?
Se não fizermos nada, a influência será muito grande. É fato. No entanto, se mudarmos as nossas atitudes, teremos uma grande oportunidade de sair fortalecidos desta crise. O momento é de grande parceria, para todos os envolvidos na economia. Precisamos fazer um pacto em cada núcleo. Ou seja: o empresário deve avaliar a sua situação atual, ver os pontos fortes e fracos do seu negócio e debater isto com os seus colaboradores, com os principais fornecedores, etc. Todos precisam pensar nas consequências. Se a empresa não for bem sucedida, reduz empregos. Então, a questão é: como podemos fazer o nosso negócio dar certo? A resposta é única em cada empresa e pessoa envolvida.
E a procura por crédito? Os empresários já estão recorrendo a empréstimos para saldar investimentos? Houve aumento nessa procura?
A demanda por crédito reduziu em 8.5%, na pessoa física, e 10% na pessoa jurídica. Isso, devido a maior restrição dos bancos, redução do consumo das famílias, juros mais altos, e também devido ao aumento da inadimplência.
Em um momento onde não ambiente para novas contratações e a demanda também diminuiu. Isso altera também a administração dos negócios? Como o empresário deve se portar?
O empresário deve reavaliar a sua empresa, olhando os pontos fortes, fracos, riscos e oportunidades, e depois adotar ações corretivas. A verdade é que nem sempre a melhor solução é a redução de quadro ou do tamanho do negócio. Fazer uma análise em todas as despesas, é fundamental para descobrir quais gastos poderão ser reduzidos e uma forma de tornar a empresas mais eficiente. Reavaliar as oportunidades é potencializar negócio com qualidade. O mesmo vale para os colaboradores, que precisam estar mais envolvidos, engajados em participar mais ativamente do negócio da empresa.
E para os consumidores? A crise afeta de que maneira?
Neste momento, eu diria que afeta de forma positiva, pois a situação que existia até agora, não era sustentável para ele. O consumidor precisa repensar a forma de consumir, do uso do crédito, de poupar, de se relacionar com o dinheiro. Ele deve pensar no futuro e na sua qualidade de vida. Tais atitudes erradas, inclusive, contribuíram para um quadro nada animador. E qual é ele? Primeiro o endividamento das famílias sair de 29%, em 2007, para 46% em 2014. Com a faixa de renda de até 3 salários mínimos com alguns casos atingindo até 70%. E, em segundo, o comprometimento da renda mensal, que varia entre 21% até 50%, para casos mais complicados.
Até que ponto chegou a inadimplência do brasileiro com o varejo em 2015? É reversível?
A inadimplência chegou em níveis alarmantes. Segundo a última pesquisa da Confederação Nacional do Comercio (CNC), publicada em outubro, 60% dos brasileiros tem algum tipo de dívida no mercado financeiro e 23.1% se declaram inadimplentes. Um aumento de 30% em relação ao acumulado em 2014. Além disso, 8,5% dos inadimplentes declararam que não conseguirão quitar as dívidas em 2015. Um registro 57% maior que no ano passado. No entanto, esse é um quadro capaz de ser revertido. Basta todos os agentes envolvidos na cadeia econômica, bancos, financeiras, varejo, consumidores, adotarem atitudes conscientes acerca do uso de crédito. O crédito é um benefício que deve funcionar como um aliado aos consumidores e empresários, ajudando em compras que serão úteis e vão fazer bem para eles. Não o contrário.
O uso do cartão de crédito subiu? Ou durante a retração de consumo ele é retido também?
Os usos dos cartões de crédito estão na ordem de 10% atualmente, o que aponta para um crescimento menor que em anos anteriores.
Qual o perfil do consumidor brasileiro? Ele varia de estado para estado? Ou temos um certo consenso?
Os consumidores brasileiros possuem perfis diferentes, conforme as regiões, nível cultural, estímulos, etc. Por isto, um dos segredos de fazer negócios mais sustentáveis é procurar sempre entender melhor a cultura da região e conhecer as pessoas, para oferecer o produto certo ao cliente certo.
O sr. virá para Natal para a palestra “A Chave para Conquistar Resultados Sustentáveis”. Qual chave é esta e que resultados são possíveis obter com ela?
Na palestra, irei compartilhar a minha experiência de mais de 40 anos no mercado, quais foram as atitudes adotadas e os resultados obtidos. Vivi momentos desafiadores como o atual e com as ações adotadas, as crises transformaram-se em oportunidades. É um momento de buscar o engajamento de todos: colaboradores, empresários, fornecedores e clientes, na causa que cada um acredita. Para isto, é necessário pensar num grande pacto. Numa grande parceria. E, olhando o hoje, pensando sempre no futuro. Tendo como base as pessoas.
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