PENDÊNCIAS RN-2015: o novo ano velho
Artigo semanal do editor do blog publicado na “Gazeta do Oeste“, jornal de Mossoró, RN.
Termina o ano de 2014.
A democracia brasileira continua como um carrossel enferrujado, que gira em torno de eleições sucessivas.
Os carrinhos e marionetes são substituídos por certos personagens carcomidos da política nacional, que criam toda sorte de obstáculo para uma reforma política, eleitoral e partidária.
Adiam sempre.
Poucos assumem posição de considerá-la urgente, fundamental, suporte para a democracia e a governabilidade.
Quando começa alguma discussão no Congresso Nacional sobre esse tema erguem-se as “vozes empoeiradas” de sempre.
Uns, em nome do falso equilíbrio e da “prudência pré-fabricada” argumentam que não se pode fazer nada “em cima da perna”.
Outros, proprietários privados de “legendas”, fazem a defesa deslavada dos seus privilégios e instrumentos de “chantagem e enriquecimento ilícito”.
Preservam, sem descaramento, os “partidos de aluguel
Como nada foi mudado – nem será, por vedação constitucional – a conversa política em 2015 continuará a mesma.
Imagino o diálogo de um político preocupado com a ética e as mudanças, ao visitar as suas bases eleitorais, em preparação às eleições municipais de 2016.
A conversa seria mais ou menos assim:
Político – Então, amigo, vim hoje visitá-lo. Estou às suas ordens. Ficarei ao lado dos meus amigos.
Correligionário – Isso é muito pouco.
Precisamos de dinheiro e ajudas para eleição municipal.
Eleição se gasta muito. Aqui o adversário está “danado” dando remédios, cesta básica, médico, remédio, tudo.
A gente faz a mesma coisa, ou será melhor nem ter candidato.
Político – É. Mas o amigo sabe que os escândalos estão aí. Justiça Eleitoral e MP estão de “olho aberto”. Temos que fazer eleição de outra forma
Correligionário – Coisa nenhuma.
Continuará tudo como era. Quem foi punido no passado?
Um gato pingado aqui, outro acolá. A grande maioria usou o “vale tudo” e está no poder.
Político – Não é bem assim… As coisas estão mudando.
Correligionário – Infelizmente é assim. Feio é perder, amigo.
Político – A gente tem de reagir com ética e transparência.
Correligionário – Como reagir, se permanece uma lei velha e o governo oferecendo bolsa família, vale gás, vale moradia?
Político – Proponho que você me dê fatos e nomes de pessoas que fazem tanta corrupção. Vou entregar à Justiça e ao Ministério Público para aplicar a lei e punir.
Correligionário – Deus me livre de lhe dá isto. Não sou “dedo duro”.
O pior é que o povo fica contra a gente. Dirá que estou impedindo ajudas para os pobres.
O governo tem tudo e dá a quem quer, em nome da prioridade social.
E quem não arrumar dinheiro perderá a eleição.
Político – Lembre-se que o nosso partido tem uma proposta e projeto para o futuro do Brasil.
Mais empregos, saúde, oportunidades, educação.
Vamos discutir isto.
Correligionário – Proposta não enche barriga de ninguém.
O povo quer proposta que coloque dinheiro no bolso e cesta básica no estômago.
Político – Essa história de cesta básica, sem promoção humana, é paternalismo, engodo, demagogia, assistencialismo.
Quem propõe cesta básica e dinheiro está querendo se aproveitar da miséria do povo.
A gente não tem que dá o peixe.
Tem que ensinar a pescar.
Preparar o cidadão para o futuro.
Correligionário – É não deputado!
O povo não pensa assim. Ou se dá remédio, assistência, favores de todo o tipo ou não se tem voto.
Aqui no município tem um médico que dá tudo o ano todo.
Ele faz isso de graça? Alguém está pagando por trás.
Se a gente não fizer o mesmo “dança”.
Infelizmente é este o quadro realístico para o ano pré-eleitoral de 2015, que desde já se antecipa como um novo ano velho.
Só resta a esperança de que o povo – em momento de lucidez coletiva – faça através do voto livre a grande reforma que os políticos – em defesa própria – deixaram de fazer, ano após ano.
E quando alguém propõe mudar a lei e a Constituição ainda há “pseudos” juristas que ficam atrás do “sexo dos anjos”, a serviço daqueles que nada querem mudar.
É difícil ser otimista nesse cenário.
Mas eu sou.
Continuarei acreditando no sonho de uma democracia verdadeira no Brasil.
Será difícil? Sim.s, não é impossível!
Feliz Ano novo, caro leitor.
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